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Crítica – ‘Lamb’: mais fortes são os poderes da mãe natureza

Em meio a tantas histórias já saturadas, Lamb surge como algo original e perturbador

É um casal que cria uma criança híbrida, meio humana meio ovelha. Esse provavelmente foi o pitching mais fácil da história. E como poderia deixar de ser? A própria ideia já parece um absurdo por si só e levanta várias dúvidas. Mas não pense que elas serão respondidas neste filme. Em Lamb, tudo é abraçado como se fosse algo normal.

Certas coisas não precisam de uma explicação, isso dá liberdade para o espectador pensar. Imaginar quais seriam as alegorias que cercam aquele mundo fantástico. Deixando a história ainda mais interessante.

filme lamb
Cena do filme. | Foto: Pinterest/Altered Reality.

Crítica de Lamb

Distribuído pela A24, Lamb fisgou vários curiosos já na primeira exibição do trailer. Em sua estreia como diretor de longa-metragem, Valdimar Jóhannsson nos apresenta o casal em crise María (Noomi Rapace) e Ingvar (Hilmir Snær Guðnason), que cuidam de uma pequena fazenda de ovelhas no interior da Islândia – que, por acaso, uma delas nasce com o corpo de ser humano.

É estranho e provocador. A tensão é um grande elemento, você não sabe o que pode acontecer e isso vai aumentando cada vez mais durante todo o longa. Principalmente com a chegada do irmão de Ingvar, Pétur (Björn Hlynur Haraldsson), que parece ter alguma história com María, mas isso nunca é aprofundado. E ele representa bem o espectador assistindo ao filme, quando sua primeira reação é “Que coisa é essa?”.

O elenco, apesar de escasso, atua muito bem. Dá para ver nas cenas em que María e Ingvar realizam o parto de algumas ovelhas. Os atores realmente estão executando essas ações, o que não é muito comum, eles tiveram algum acompanhamento antes das filmagens, o que passa mais credibilidade para suas interpretações. Noomi Rapace consegue ser o grande destaque dessas estrelas, conseguindo representar vários sentimentos em suas expressões.

O filme tem bastante semelhança com A Bruxa (2015), da mesma distribuidora, devido à forte presença do silêncio, o isolamento e a atmosfera misteriosa. Em certo momento, isso pode acabar se arrastando no decorrer da trama, talvez não agrade o grande público, mas vale a pena acompanhar até o final.

Os efeitos são muito bem executados, difícil distinguir que partes usaram cordeiros de verdade e quais usaram computação gráfica. Prova de que não se precisa de grandes efeitos especiais quando se tem uma história interessante.

Eu poderia perder tempo fazendo uma desconstrução de cada elemento desse filme, que certamente você vai achar muitas por aí. Como mitos antigos, metáforas de gênero, depressão ou, se você for bem aficionado por Zack Snyder, referências da história de Jesus Cristo. Mas cada uma delas tem seus furos e o próprio Valdimar admite que pode ter várias interpretações. E que ele mesmo, depois de ver o filme tantas vezes, mudou de ideia.

Contudo, a que mais fica evidente, certamente é de como os humanos são insignificantes perante a natureza. Atribuir uma humanidade a algo pode ser arriscado. E quando algo é retirado da natureza, a natureza “pega” de volta. Abrace o absurdo. Assista a Lamb.

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Por Matheus Cosmo – Fala! Fiam

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