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Conto: O dia em que me apaixonei por uma lésbica

Os contos estão dominando a internet, quando se trata de contos lésbicos ou de gênero semelhante essas histórias rendem cliques e comentários. A atração por essas narrativas pode estar ligada a uma identificação com as histórias, seja no romance, na atração sexual ou na narrativa em si.

contos lésbicos
Amor. | Foto: Unsplash.

A seguir, saiba mais sobre contos lésbicos em filmes, séries e livros, além de conferir um conto escrito por Gabriela Cristina Montero de Souza.

Contos lésbicos

O dia em que me apaixonei por uma lésbica

Minha vida toda foi resumida em caras chegando em mim, se achando e, quando digo não, eles fazem cara feia e a grande maioria ainda tenta insistir, alguns até me xingam. Não entendo direito o que fiz para merecer isso, então, depois de muitas decepções, decido que não frequento mais baladas de héteros. Nas baladas gays, todas as mulheres que chegam em mim são super educadas e, quando digo que sou hétero, elas saem numa boa (quem me dera se todo ser humano fosse assim).

É sábado de manhã e, como de costume, fiz minha corrida no quarteirão e tomei meu café. Quando volto, vejo mensagem da minha melhor amiga no grupo de alguns amigos nos convidando para uma balada gay hoje à noite. Ignoro a mensagem e volto a fazer minhas coisas, passam algumas horas, recebo uma ligação dela:

– Fala, minha deusa grega. – Os apelidos que chamo minhas amigas são sempre cheios de charme.

– Que horas passo aí hoje à noite? – Logo que ela fala isso lembro do convite feito algumas horas atrás.

– Eu não vou, Nic, você sabe que não frequento mais baladas, agradeço o convite e espero que me ame mesmo assim. – Ela fica por alguns segundos quieta e acho que estava escolhendo a forma de me esganar.

– Ah, mas você vai, sim, é meu aniversario! Você não vai ficar em casa e me deixar sozinha na balada! Eu te busco na base da porrada ou na base do amor, você escolhe. – dou risada da sua demonstração de carinho por mim. E depois de alguns minutos dela insistindo e fazendo drama, eu acabo cedendo e marco um horário para ela vir me buscar.

Como de costume, vamos a uma balada gay (fico aliviada, não vou precisar socar a cara de nenhum macho e******) e, logo que entramos, encontramos alguns amigos nossos. Depois de dançar muito e alguns foras, eu e ela vamos buscar uma bebida. Quando percebo, ela está conversando com outra mulher, viro para pegar nossas bebidas que o barman fez e, quando procuro por ela, lá estava ela dando uns amassos na sua nova amiga, então, como sempre faço, espero num canto onde ela possa me ver e aguardo até ela terminar, e depois voltamos para nossos amigos.

Aquela noite foi ótima, bebemos bastante, colocamos a fofoca em dia e nos divertimos muito. No dia seguinte, quando acordo, vejo a mensagem da Nicole pedindo para que eu ligue assim que acordar. Como pedido, fiz isso:

– Fala, meu anjo, o que você precisa? – Percebo que sua voz está um pouco alegre.

– Preciso de um favor seu, eu sei que você não vai aceitar de primeira, mas considere como um presente de aniversário. Você sabe que somos melhores amigas, que eu te amo e…

Eu a interrompo de seu puxa-saquismo:

– Fala logo o que você fez. – De alegre sua voz foi para nervosa.

– Então, lembra da mulher de ontem? O nome dela é Laís e eu peguei o número dela e marcamos de nos encontrar numa lanchonete hoje à noite.

– Tá bom, e qual o problema disso? Ou melhor, o que eu tenho a ver com isso?

– Bom, digamos que ela tenha uma amiga que ficou de olho em você ontem e eu gostei da Laís, então falei para ela que você era lésbica e que podíamos sair em casal.

– Tudo bem, sem problema nenhum. Agora, é só você ligar para ela e falar que não sou e que não estou interessada nesse encontro.

Depois dela muito insistir para que eu fosse, acabei cedendo de alguma forma, só não sei exatamente em qual momento. Mas acho que incluiu um dia de compras e ela me devendo um favor grande também. Ela me disse o horário e o local que era para eu ir e, quando deu o horário, fui atrás da roupa para vestir e me arrumar. Quando chego no local, vejo as três sentadas e percebo que a moça que ficou de olho em mim, era linda mesmo, assim como a Nic tinha me dito.

Sento-me à mesa, a Nic me apresenta para elas, acabo descobrindo que o nome da moça é Beatriz e começamos a conversar. Foi um jantar muito gostoso, as meninas são legais e super gentis. Deixaram-me muito mais feliz quando não perguntaram em nenhum momento sobre minha sexualidade. Quando o horário chega, Nic e Laís vão lá fora conversar a sós, me deixando sozinha com a Bea.

– Então, Gab, posso pedir seu número ou é cedo demais? – Ela parecia bem nervosa, ficou até vermelha e confesso que achei fofo.

– Ah, pode sim. É esse aqui. – Anoto no guardanapo e entrego, em seguida, percebo o que fiz e me arrependo um pouco.

– Beleza, depois te mando um “Oi” para você salvar meu número.

Logo nos despedimos e cada uma foi para sua casa. Quando chego em casa, vejo mensagem da Nic perguntando onde eu estava e porque fui embora sem dar tchau. Tinha esquecido dela, acho que fiquei um pouco hipnotizada pelo sorriso da Bea (o sorriso dela é lindo) e esqueci que estava lá por causa da Nic. Ligo para ela e ficamos horas conversando sobre seu encontro com a Laís depois da lanchonete e, quando percebo, conversamos a noite toda.

No dia seguinte, recebo um “Oi” de um numero desconhecido e, logo em seguida, “Eu sei que você não é lésbica nem bi, a Nic me contou. Mesmo assim, acho que foi muito legal ontem, dei muita risada. Que tal um café à tarde quando você estiver disponível, só nós duas? Acho que podemos ser amigas, não é?”. Quando leio a mensagem, me lembro daquelas covinhas e percebo que estou com um sorriso no rosto, o que não acontece com frequência logo de manhã. Respondo-a e marcamos para um mês depois num café perto de casa.

As semanas logo passam, passamos esse tempo todo conversando por mensagens e percebo que estava mais ansiosa do que deveria para conversar pessoalmente. Me arrumo e vou encontrar ela no café. Quando entro, já a vejo sentada e com um sorriso no rosto, me sento e começamos a conversar. Quando percebemos, já estava ficando tarde e, como ela mora perto de mim, vamos embora andando e conversando. Chegamos em frente ao prédio onde eu moro e percebo que nós duas ficamos nervosas na hora de dar tchau.

– É, então é isso, foi muito legal hoje! Queria que a noite fosse um pouco mais longa para continuarmos conversando. – Ela diz um pouco vermelha, igual ontem, e acho fofo novamente.

– Pois é, também gostei. Me avisa quando chegar em casa, tá? – Respondo com vontade de chamá-la para subir um pouco.

– Tá bom, tchau! – Ela fala acenando, e eu aceno de volta. Mas, aí, minha vontade fala mais alto e a chamo de volta, e dou risada por parecer uma cena bem clichê de filmes românticos.

– Bea, quer subir um pouco? A gente pode assistir a algum filme e comer pipoca, o que acha? Se ficar tarde, chamamos um Uber para você depois. – Percebo que ela ficou feliz com o convite, já que deu um sorriso largo.

Então subimos, empresto para ela uma roupa mais confortável e ficamos assistindo ao filme. Então, fui buscar a pipoca e, quando voltei, parecia que ela queria falar algo, mas estava um pouco nervosa.

– Gab, eu sei que a gente se conheceu faz pouco tempo, mas eu realmente gostei de você. Eu sei que você não gosta de mulheres, não vou te forçar a nada. Só queria que você soubesse. – Ela dá um sorriso de lado e percebo que está com dúvidas sobre o que eu vou responder.

– Bea, eu te achei o máximo, você é uma mulher incrível. Mas… – De repente, ela me interrompe com um beijo, confesso que não queria parar aquele beijo, mas eu tive que parar, isso podia acabar em mais decepções.

E, então, ela percebe minha cara de assustada e diz:

– Ai meu Deus, desculpa! Desculpa mesmo, Gab, eu não queria fazer isso. É que eu achei você tão demais, queria te mostrar que posso ser boa para você também. – Eu fico paralisada ainda, mesmo tendo gostado, fiquei em choque. Depois de uns segundos quieta que pareceram horas, ela diz:

– Vou pedir um Uber lá embaixo, obrigada por hoje, foi muito legal. – E ela sai do meu apartamento com pressa.

Dois dias depois, a Nic me liga:

– Amiga, a Laís me deu a roupa que a Bea tinha pegado emprestado com você. Tá aqui em casa, mas me conta uma coisa, porque ela estava usando uma roupa sua? – Percebo que ela estava com uma risadinha sínica. Conto para ela tudo que aconteceu, e ela diz:

– Eu shippo vocês duas, viu, ela parece ser super legal e faz anos que não vejo você sendo feliz com alguém. Na verdade, quando foi a ultima vez que você beijou mesmo? – Ela fala dando risada de mim e não consigo não rir da piada, mas desligo na cara dela para que ela entenda que a piada foi boba. E, logo em seguida, recebo uma mensagem dela dizendo “também te amo <3”. E o pior disso tudo, é que ela tinha razão, mas eu não estava pronta para admitir isso. 

Algumas semanas se passaram e eu e a Bea paramos de nos falar totalmente. Nenhuma mensagem, nenhuma curtida ou comentário nas redes sociais. E, em um sábado, a Nic me convence a ir a uma festa que a Laís ia dar na casa dela e, novamente, não sei como ela conseguiu me convencer (o que nós não fazemos pelas amigas, não é?!). Penso em aproveitar a oportunidade para conversar com a Bea e tentar resolver as coisas.

Me arrumo e vou de encontro a Nic, quando chego lá, já vejo a Bea conversando com algumas pessoas. Percebo que ela ficou vermelha de novo e acho que nunca vou me cansar de vê-la assim, ela é linda. A festa vai rolando e ainda não fui falar com ela e, depois de beber um pouco, vou ao banheiro e, no corredor, me deparo com a Bea. Ela abaixa a cabeça e vai andando, mas eu seguro seu braço e chamo-a:

– Espera, a gente pode conversar?

– Desculpa por aquilo Gab, sei que você não gosta de mulheres e eu respeito isso. Aquele beijo foi errado, eu sei. É que eu queria tanto… – A interrompo com um beijo. Quando terminamos, ela parece assustada, mas feliz, então, eu digo:

– Agora, estamos quites, você me interrompeu uma vez, agora foi minha vez. – Dessa vez, ela dá uma risada e, quando ela vai falar algo, eu a interrompo:

– Me deixa falar primeiro, eu queria te dizer que eu gostei do seu sorriso desde que te vi pela primeira vez. Achei lindo quando você fica vermelha e essas covinhas então, têm me deixado doida… Eu não sei o que sou exatamente, se sou lésbica, se sou bi ou algo assim, na verdade, estou tentando me descobrir. Eu só sei que eu quero tentar algo com você, sei que é cedo para um namoro, mas que tal você ir em casa de novo e terminarmos aquele filme?

– Nossa, de todas as cenas possíveis que eu imaginei para hoje, não tinha imaginado você me chamando para sair de novo. Claro que aceito, vamos marcar, sim… – E, assim, voltamos a conversar normalmente e curtimos a festa.

Depois da festa, voltamos a conversar, ficamos algumas vezes e, depois de um tempo, começamos a namorar. Alguns anos depois, acabamos terminando nosso namoro porque ela teve que mudar de país por causa do trabalho. Eu não podia pedir para ela ficar, já que era o emprego que ela sempre sonhou.

Então, quando nos despedimos, só a agradeci por ter me ajudado a ver quem eu era e por ter paciência comigo. Eu a amava, mas é isso que pessoas apaixonadas fazem, queremos ver a pessoa amada feliz não importa se está com você ou não. Às vezes, o amor nos prega peças, mas essa foi a peça que mais completou meu quebra-cabeça até hoje. E, hoje, nos falamos por mensagem e ligação, mas somos apenas boas amigas, quem sabe o que o futuro nos guarda, não é?

Outros Contos Lésbicos

Histórias e contos lésbicos se tornaram populares na internet entre os jovens e agora essas histórias dominam os filmes, as séries e os livros. Narrativas como The Feels, Jovem Aloucadas, Azul é a Cor Mais Quente e Conectadas, entregam ao público LGBT histórias que eles se conectem e se sintam representados.

Esse mercado se expandiu e, atualmente, sites como Wattpad, que permitem que jovens criem e compartilhem contos e fanfics, se destacam pelo número de histórias. Os contos lésbicos estão entre os mais pesquisados, fazendo sucesso com meninas e meninos, dentro e fora da comunidade LGBT.

Empresas como a Netflix, enxergaram o grande público para essas histórias e produzem, atualmente, séries e filmes que envolvam relações homoafetivas, questões de gênero, entre outros.

Livros

Os livros são os principais meios, além da internet, para compartilhar experiências ou criar algo novo. Muitas autoras, lésbicas ou não, criaram nos últimos anos grandes contos lésbicos, baseando- se em experiências pessoais, de conhecidos ou simplesmente inventados.

Grandes obras foram lançadas e conquistaram os corações dos leitores, que estão dentro ou não da comunidade LGBT. Títulos como Azul é a Cor Mais Quente e Crônicas Ordinárias, se destacam e alguns se tornaram produções para o cinema.

Azul é a Cor Mais Quente (Julie Maroh): esta história é mais que um conto lésbico, é uma narrativa extremamente bem estruturada, que mistura elementos sexuais e românticos para narrar uma verdadeira história de amor. Sem muitas enrolações, o livro tende a contar as etapas de uma relação, seja ela lésbica ou não, a partir da vida de Clementine e Emma. O livro se tornou um filme, com título homônimo, em 2013.

Desde então, essa história é a primeira a ser lembrada quando se fala em contos lésbicos e narrativas entre mulheres.

O Ano em que Morri em Nova York (Milly Lacombe): Esse livro vai além de um conto lésbico, é uma história sobre mistério e traição. A protagonista vive feliz com sua mulher, porém, quando retorna de viagem está convencida que foi traída. Ela começa a investigar o suposto caso de sua mulher, passando entre verdades, mentiras e delírios, nada é o que parece ser.

A história é engraçada e a leitura é contagiante, perfeita para aqueles que amam romances e mistérios.

Orlando (Virginia Woolf): Orlando é uma história sobre gênero, onde seu protagonista nasce homem e morre mulher. Em determinado momento, quando Orlando é uma mulher, a jovem começa a se relacionar com outras mulheres e a questão do ser lésbica em uma época taõ longiqua e conservadora é abordada.

O(a) personagem de Wolf é um exemplo das lutas de gênero e de orientação sexual. Uma representação da mulher trans e bissexual, na Inglaterra do século XVIII ao XX.

No Bosque da Noite (Djuna Barnes): No formato de uma poesia em prosa, o conto lésbico No Bosque da Noite conta sobre a relação de duas mulheres, Nora Flood e Robin Vote. Com uma característica autobiográfica, a história envolve seus leitores a cada verso.

A narrativa é sensível e delicada, algo que é reforçado pela maneira em que foi escrita. Cada detalhe e acontecimento entre as personagens são descritos de maneira romântica.

Filmes

Além de Azul é a Cor Mais Quente, outros filmes se destacam por histórias apropriadas para contos lésbicos. Muitos estão disponíveis na Netflix ou em outras plataformas de streaming.

Desobediência (2017): O filme Desobediência (2017) foi dirigido por Sebastián Leilo e estrelado por Rachel Weisz e Rachel McAdams. A história fala sobre uma fotógrafa que, ao retornar para sua cidade natal para o velório de seu pai, se apaixona por sua paixão da adolescência, contudo, ela está casada com um de seus melhores amigos de infância.

O longa aborda a dificuldade da protagonista de se abrir e as barreiras que uma paixão entre duas mulheres enfrenta. A história está entre os melhores contos lésbicos do cinema.

Flores Raras (2013): Estrelado por Glória Pires e Miranda Otto, o filme conta a história de Elizabeth Bishop e seu grande romance com a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares. A história é baseada em fatos reais e procura ser fiel aos sentimentos e detalhes da relação do casal.

Romance nas Entrelinhas (2019): Essa é a história de Virginia Woolf e seu grande amor, Veta. As duas se conheceram ainda jovens e se apaixonam, vivendo um romance às escondidas. A autora se inspirou em Veta em diversos personagens, inclusive Orlando (seu romance mais famoso) é construído a imagem de sua amada.

A relação de ambas era conturbada, pois Veta era uma mulher muito livre e possuía outras paixões. Além disso, elas estavam suscetíveis a uma sociedade ultra conservadora.

Carol (2015): Nomeado a seis categorias do Oscar é considerado um dos 10 melhores filmes do ano de 2015 pela  American Film Institute, Carol é uma verdadeira história de amor e um dos maiores contos lésbicos. Carol Aird é uma mulher rica de Nova York que se envolve com Abby, sua amiga. As duas enfrentam as consequências de suas escolhas enquanto vivem seu romance.

O filme mistura romance e drama para criar essa narrativa envolvente e cativante, mostrando um lado mais problemático das relações.

Sites

A internet é o meio ideal para ler e escrever contos lésbicos e alguns sites liberam suas plataformas especificamente para essas histórias. Alguns, no entanto, são mais populares pela liberdade que dão a seus usuários de compartilharem suas narrativas, falando sobre suas paixões e, até mesmo, sobre momentos eróticos.

Um dos maiores exemplos é o Wattpad, um site de contos diversos que possui uma área específica para contos, fanfics e histórias lgbtqia +. Os blogs Sou Betina e Alice Reis também compartilham contos, escrito pelas donas do site e por autoras de fora.

O Facebook e outras redes sociais também possuem grupos e páginas para que as pessoas compartilhem seus contos lésbicos à vontade. Sendo assim, há inúmeras plataformas que disponibilizam histórias do gênero para os amantes desses contos em específico.

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Conto por Gabriela Cristina Montero de Souza
Texto por Luiza Nascimento – Redação Fala!

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