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Conheça mais sobre as lendas por trás dos Povos Celtas

Os povos celtas foram os primeiros povos civilizados da Europa, pertencentes à família linguística indo-europeia que se espalhou pela maior parte do oeste do continente a partir do segundo milênio a.C.. Suas origens datam do processo de difusão do ferro pela Europa, período denominado de Idade do Ferro. De acordo com registros históricos, os povos celtas foram responsáveis por essa difusão do metal pelo continente e, segundo esses mesmos registros, eram povos extremamente habilidosos com tais materiais. Além disso, influenciaram a partilha de uma cultura material específica por meio da linguagem.

A primeira referência literária aos povos celtas foi feita pelo historiador grego Hecateu de Mileto, no século VI a.C.. Neste período, parte da Europa era ocupada por povos de etnia celta, que mais tarde foram dominados pelo Império Romano. Existiam diversos grupos celtas compostos de várias tribos, entre eles os bretões, os gauleses, os escotos, os eburões, os belgas, os gálatas, os trinovantes e os caledónios. Muitos destes grupos deram origem ao nome das províncias romanas na Europa, que mais tarde batizaram alguns dos estados-nações medievais e modernos do continente.

Seus domínios se estendiam até a região que, atualmente, se encontram a Alemanha, Holanda, Dinamarca, Bélgica, França e Inglaterra. Entre outros territórios que pertenciam aos povos celtas estão o País de Gales, Cornualha, Escócia, Irlanda, Gália e Galiza, os quais em sua maioria fazem parte do Reino Unido. Nestes locais, a cultura celta ainda se faz presente em seus folclores.

Sua estrutura familiar se baseava em aldeias e vilarejos, nos quais moravam os membros de um mesmo clã. Em alguns casos, eram construídos fortes nestes vilarejos para a moradia da nobreza local. A economia desses povos era basicamente a venda de metais, como bronze, cobre e estanho, além de cerâmicas e escravos. Os celtas eram grandes comerciantes na Europa.

Culturalmente, os povos de etnia celta eram muito ricos. Sua arte possuiu quatro períodos: Estilo da Cultura de Hallstatt (900-500 a.C), Estilo da Cultura de La Tène (500 – 50 a.C), Estilo Romanizado – Continental e Insular (séc. I ao Vd.C.) e Estilo Medieval Insular – Irlandês e Bretão (séc. V ao X). Já sua mitologia, se divide em três tipos: a goidélica (Irlanda e Escócia), britânica insular e céltica continental. Devido à particularidade de cada povo celta, cada mitologia era única, possuindo divindades e crenças totalmente diferentes umas das outras. Sendo assim, a mitologia céltica é muito mais complexa do que de povos como os gregos e os romanos.

A religião celta antiga era de caráter politeísta, animista, dualista (masculino e feminino), naturalista (no sentido de estar muito ligada à natureza e a suas mudanças), uma religião ligada à magia.

Para compreender melhor o povo celta, leia, a seguir, 4 lendas que fazem parte de sua cultura rica e única.

Confira 4 lendas dos povos celtas

O Cão de Culann

O Cão de Culann
O Cão de Culann. | Foto: Reprodução.

A princesa Dechtiré era irmã do rei Conchobar e, certa vez, desapareceu. Enquanto esteve fora, ela recebeu o deus solar Lugh em sonho e engravidou. Seu filho com a divindade nasceu 3 anos depois e foi batizado de Setanta. A criança cresceu entre os guerreiros do Ciclo do reino de Ulster e, logo, se destacou por sua rapidez e força.

Com sete anos, foi convidado por seu tio e rei Conchobar a um banquete na casa do Mestre ferreiro Culann. Setanta, porém, acabou chegando atrasado e Culann já tinha soltado seu terrível cão de guarda. Para segurar o cão, era preciso três correntes e, para segurar cada corrente, eram necessários três homens. Solto e vendo Setanta se aproximar, o animal corre para atacá-lo. O menino, para se defender, enfrenta o bicho e o derrota, despedaçando o cão.

Culann, o ferreiro e dono do cão agora morto, se lamentou. Como suas propriedades ficariam seguras agora? Setanta, culpado por não conseguir medir suas forças, ficou no lugar do cão até que Culann conseguisse um novo, tão terrível quanto o anterior. Assim, Setanta se tornou Cuchulainn, o cão de Culann.

Com dezessete anos, Cuchulainn já era conhecido como um dos maiores guerreiros de Ulster. Quando a Rainha Medb tenta roubar o Gado de Cooley, o garoto derrota todo o seu exército.

Seus feitos foram profetizando e, para se tornar um grande guerreiro, ele abriu mão da longevidade de sua vida. Após as batalhas em que lutou para alcançar a grandeza, foi nomeado como o Cão de Ulster, e lembrado como o mais bravo guerreiro celta.

Rei Arthur

excalibur
Espada excalibur do Rei Arthur. | Foto: Reprodução.

Uma das lendas mais reconhecidas pelo mundo, Rei Arthur possui sua origem em contos e lendas celtas. O maior líder da Grã-Bretanha é também um líder celta em sua origem.

Arthur era o filho primogênito de UtherPendragon e da Duquesa Ingraine, casada com Garlois. Pendragon apaixona-se por Ingraine e, para conquistá-la, pede a Merlin que modifique sua aparência para que se assemelhe ao marido de sua nova amada, que estava longe, em uma batalha. Em troca, Merlin pede que a criança que nasça dessa união, seja educada pelo mago.

A moça é enganada por Pendragon, e só descobre a verdadeira identidade de seu marido quando o corpo de Garlois é levado ao castelo. Porém, seu casamento com o farsante já estava marcado para o dia seguinte e nove meses após a data nasceria o fruto deste engano.

Arthur nasce e é levado para ser criado na corte de sir Ector, lugar em que sua identidade é desconhecida. Sob a orientação de Merlim, Arthur cresce como escudeiro de Kay, filho de Ector. Em uma floresta, havia uma pedra com a seguinte inscrição: “Qualquer um que extrair esta espada desta pedra será o rei da Inglaterra por direito de nascimento.”

A história de Arthur cruza-se com a lenda na pedra, no dia em que Kay é consagrado cavaleiro e sua espada se parte, por isso, o jovem Arthur corre para buscar outra arma. Vê a espada cravada na pedra e não hesita em apanhá-la.

Ao entregar a espada para Kay, seu pai adotivo reconhece a arma e pede para que Arthur os leve onde a encontrou. Ao chegar, introduz a espada novamente na pedra e, mais uma vez, consegue tirar a espada com facilidade e é reconhecido como soberano.

Após se tornar Rei, Arthur casa com a jovem Guinevere para reforçar suas alianças com senhores feudais. Conhecida pela sua beleza e piedade, a rainha, porém, se apaixona pelo melhor amigo do Rei, o cavaleiro Lancelot.

Arthur e Guinevere não conseguiram conceber herdeiros ao trono. A jovem rainha acreditava que essa era sua punição por amar outro homem que não fosse seu marido e, para o rei, o problema era seu.

Arthur morreu na Batalha de Camelot, em que foi ferido por Mordred (filho de Morgana, meia irmã de Arthur), diz a lenda que ele era filho de Arthur, porém, outras versões afirmam que era seu sobrinho. Nessa batalha, ambos morrem feridos pela espada um do outro. Arthur é entregue a Dama do Lago, e a famosa Excalibur afunda com ele.

A lenda de Arthur é longa, suas missões com os cavaleiros da Távola Redonda são contadas no mundo todo, sendo a lenda céltica mais conhecida globalmente.

O Destino dos Filhos de Lir

Lenda do Destino dos Filhos de Lir
Lenda do Destino dos Filhos de Lir. | Foto: Reprodução.

Os reis BoadbhDearg e Lir de Sidhe Fionna eram inimigos declarados. Para selar a paz entre ambos, Lir, após a morte de sua mulher, procurou Dearg para casar-se com uma de suas filhas. O rei possuía três jovens filhas, Niamh, Aoife e Albha, e Lir escolheu a mais velha, Niamh, pela qual ficou encantado.

Após o casamento, eles tiveram quatro filhos: Finola, Aedh, Conn e Fiachra. Mas a rainha não viveu por muito mais tempo, Niamh faleceu logo após o parto de seus dois últimos filhos, por isso, Lir voltou ao reino de Dearg para tomar a mão de sua outra filha, Aoife, em casamento.

A nova esposa se tornou a mãe das crianças e, por muito tempo, foi uma ótima mãe. Contudo, quando as crianças ficaram mais velhas, a madrasta e tia passou a ter ciúmes da relação que tinham com seu marido, ela queria a atenção de Lir para ela. Então, Aoife planejou se livrar dos quatro sobrinhos.

Ela levou as crianças até um lago, planejando matar todos eles, mas seu coração não era de todo ruim, ela já havia amado as crianças, por isso, as enfeitiçou, transformando-as em cisnes brancos. Condenou-os a passar 900 anos vagueando pelas águas da Irlanda – 300 anos no LochDerravaragh, 300 anos no mar de Moyle e 300 anos na baía de Erris, e o feitiço só seria desfeito quando uma nova fé chegasse ao país, e o príncipe Lairgnean se casasse com a princesa Deichthe. Com pena, concedeu aos cisnes o dom da fala.

Preocupado, Lir buscou por seus filhos e os encontrou em um lago próximo. O rei passou a viver nas margens deste lago, ouvindo o belo canto dos filhos, até que pereceu.

As crianças viveram naquela forma por 900 anos, como tinha dito a madrasta (que foi castigada por seu pai, o rei Dearg, tornando-se um espírito fadado a vagar sem rumo pelas terras), e quando a nova fé chegou, a rainha Deichthe encontrou as criaturas e se encantou por elas. Ela pediu que seu marido Lairgnean levasse os cisnes para suas terras. Ao chegarem na moradia da rainha, eles retomaram sua forma humana, não eram mais crianças, eram anciões. Logo após a transformação, os quatro irmãos faleceram, e a rainha ordenou que fossem enterrados lado a lado.

Até hoje, não se matam cisnes na Irlanda em respeito a histórias dos quatro filhos de Lir.

Boudicca – A Rainha Vermelha

cultura celta
Boudicca, a Rainha Vermelha. | Foto: Reprodução.

Diferente das outras lendas citadas acima, Boudicca foi uma personagem real da história celta e está presente em diversos arquivos históricos. Além disso, sua lenda não é influenciada pelo lado maravilhoso existente nos contos e lendas celtas, derivados do lado mítico deste povo.

Boudicca foi a rainha da tribo celta Iceni, que habitava a Britânia, atual Grã-Bretanha. Seu marido, Prasutagus, era quem governava o seu povo. Ele realizou inúmeros acordos com os romanos, o que comprometeu sua liderança perante muitos. O rei Prasutagus foi morto por invasores e a rainha Boudicca, juntamente com suas filhas, foram abusadas e humilhadas pelos romanos. Os legionários saquearam todo o reino e realizaram uma operação de ataque contra a ilha de Mona, hoje conhecida como Anglessey, onde se encontrava um dos mais importantes centros de culto dedicado a Deusa Andraste.

O rei Prasutagus deixou em testamento parte do poder para os romanos e a outra parte para sua mulher e filhas, porém, para o Estado Romano, tal documento de nada valia e eles tomaram de vez o poder das terras de Boudicca.

A notícia da destruição do centro do culto da Deusa Andraste associado ao ocorrido com a rainha e suas filhas, resultou em uma reação bastante selvagem entre os bretões. Uma grande rebelião foi organizada e, à frente dela, foi colocada ao comando a Rainha Vermelha.

Boudicca, então, com um exército de 100 mil homens, impôs pesados revezes às legiões romanas. Suas ações bélicas foram consideradas como as mais sangrentas realizadas pelos celtas.Várias cidades romanas ficaram arrasadas e centenas de mulheres foram decapitadas em sacrifício à Deusa Andraste, a quem eram dedicadas todas as suas vitórias. Porém, em sua última batalha contra o exército romano, chefiado por Suetônio Paulino, a Rainha Vermelha foi derrotada. A vitória romana converteu-se em carnificina.

Alguns dizem que a grande guerreira e rainha celta foi morta naquela batalha nas mãos de soldados romanos, outros afirmam que ela teria se matado para manter sua glória e entregar uma última vitória a Deusa Andraste.

A morte da Rainha Vermelha, entretanto, não pacificou os bretões, mas serviu para acalmar os ânimos de ambos os povos. Romanos e celtas passaram a conviver em uma paz armada.

Boudicca foi uma mulher alta e imponente, com cabelos longos e vermelhos, que buscou justiça por ela e seu povo, destruindo os romanos, em uma lei de “olho por olho, dente por dente”. Segundo uma lenda popular, ela estaria enterrada debaixo de uma das plataformas da estação de Kings Cross.

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Por Luiza Nascimento Lopes – Fala! PUC

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