De foragida da justiça à pastora, cantora e política: A vida de Flordelis
Pastora, cantora, deputada federal e atualmente suspeita do assassinato de seu próprio marido. Flordelis dos Santos de Souza nasceu em 5 de fevereiro de 1961, na Comunidade do Jacarezinho no Rio de Janeiro. De origem humilde, começou a trabalhar aos 15 anos como balconista em uma padaria, onde permaneceria até se formar como professora, em 1979.
Enquanto professora de educação infantil, recém-divorciada e mãe de três filhos biológicos, viria a acolher crianças em situação de vulnerabilidade social ou envolvidas com o tráfico de drogas, incluindo uma menina chamada Rayane, abandonada no lixo. Segundo Flordelis, foi a mãe biológica da garota que a procurou na madrugada de 23 de junho de 1993, com 37 menores sobreviventes da chamada ‘Chacina da Candelária’, um episódio onde oito jovens moradores de rua foram executados enquanto dormiam na escadaria da Igreja localizada no centro do Rio.
Pelos 9 meses seguintes, Flordelis manteria as crianças e adolescentes consigo em uma pequena casa na comunidade do Jacarezinho, recebendo ajuda e doações de conhecidos. Porém, o Juizado de Menores, ao tomar conhecimento dos fatos, compreendendo a situação como inadequada, intimou a pastora a entregar os menores, o que resultou na fuga de todos pelos meses seguintes.
O caso acabou ganhando destaque em todo o país. Então, a pastora conseguiu reverter a decisão da justiça ao provar que os menores, aos seus cuidados, haviam saído das drogas e da prostituição. A repercussão do caso possibilitou que sua história e seu trabalho tornassem conhecidos, o que só aumentou sua fama como defensora das questões sociais, principalmente envolvendo crianças.
Em 2007, ela fundaria o IFAM (Instituto Flordelis de Apoio ao Menor). Dois anos depois, seria retratada no documentário, Flordelis: Basta uma palavra para mudar. Dirigido por Marco Antônio Ferraz e Anderson Corrêa, o elenco de artistas, tocados pela história de vida da pastora, trabalhou de maneira voluntária no filme. O dinheiro obtido com a produção foi utilizado na compra de uma casa para Flordelis e na construção de um centro de reabilitação para jovens.
Flordelis e inserção na carreira política
Em 2004, Flordelis tentou, pela primeira vez, obter um cargo político: como vereadora na cidade de São Gonçalo. Porém, não conseguiu se eleger. 12 anos mais tarde, tentou ser candidata à prefeita do mesmo município pelo PMDB, porém só conseguiu vencer uma eleição em 2018, como deputada federal (PSD) pelo Rio de Janeiro. Com mais de 196 mil votos, foi a mulher mais votada de seu estado.
Segundo o site da Câmara dos Deputados, como deputada federal, Flordelis sugeriu 14 propostas legislativas, participou de 233 de votações nominais e discursou 3 vezes em plenário. Entre seus projetos de lei apresentados, estão regras mais claras sobre o armazenamento de dados dos clientes de operadora de crédito e débito, além de um outro onde defende o direito à vida desde a concepção. Nenhum deles foi aprovado ainda.
Anderson de Souza
Flordelis conheceu seu segundo marido Anderson do Carmo de Souza em 1991, quando tinha apenas 14 anos. Ela, na época, teria 16 anos a mais que ele. O relacionamento, no entanto, começaria mais tarde, sendo a união feita em 1994. O casamento com Anderson foi importante para ascensão da popularidade de Flordelis. O marido a ajudou a fundar, em 1999, o Ministério Flordelis, na Zona Norte do Rio, onde o casal vinha atuando como pastores desde então.
Anderson também incentivou sua carreira artística. Com o sucesso do documentário Flordelis: Basta uma palavra para mudar que ele conseguiu inseri-la no mundo da música, através da gravadora evangélica MK Music, pertencente ao atual senador, Arolde de Oliveira.
Na madrugada de 16 de junho de 2019, Anderson foi morto a tiros, quando chegava de carro, em frente à residência da família em Niterói. Ele foi socorrido e levado ao hospital, porém não resistiu aos ferimentos, vindo a óbito. Inicialmente, especulava-se um possível latrocínio.
No entanto, não demorou para que as investigações da polícia civil apontassem inconsistência na versão da família, o que ficou mais evidente com os depoimentos dos filhos de Flordelis. Também, uma testemunha chegou a afirmar que a matriarca e três filhas colocavam arsênico na comida de Anderson e que, ainda, uma deles teria oferecido mais de 10 mil reais para um dos irmãos caso executasse o pai.
No dia 20 de junho, Flávio dos Santos, filho biológico de Flordelis, admitiu ter disparado seis vezes contra Anderson, com uma arma comprada por seu irmão Lucas dos Santos. Os dois acabaram sendo presos preventivamente. Com o avanço das investigações, a polícia civil chegou a apontar outros membros da família envolvidos no crime, bem como a própria Flordelis. Ao todo, dez pessoas foram presas, dentre eles filhos, uma neta e uma nora da deputada, esta que permanece em liberdade devido à imunidade parlamentar.
___________________________________
Por Lidia Esteves – Fala! Cásper