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‘Chemtrails Over The Country Club’: a nova roupagem para Lana Del Rey

Seguindo o sucesso de Norman Fucking Rockwell!, Lana Del Rey apresenta uma nova faceta de sua personagem ao mundo: ela mesma

Lana Del Rey
Chemtrails Over The Country Club é o novo sucesso de Lana Del Rey. | Foto: Reprodução.

Em 2019, Lana Del Rey trouxe ao mundo um álbum de referências californianas e poesias construídas sobre uma paisagem familiar aos gigantes dos anos 70, com solos de guitarra psicodélicos e uma narrativa de amor e perda que apresentava traços de um amadurecimento emocional – saindo da escuridão para a aceitação, não necessariamente um estado de felicidade, mas, sim, um encontro com a paz. NFR! tornou-se um dos álbuns mais aclamados daquele ano, ocupando o primeiro lugar em diversas listas importantes como melhor álbum do ano (Pitchfork, The Guardian, Q, Slant e Stereogum) e no TOP 10 de muitas mais. Os próximos passos de Lana Del Rey seriam muito bem observados por todos.

Análise de Chemtrails Over The Country Club, novo sucesso de Lana Del Rey

Chemtrails Over The Country Club (COTCC) é o produto de toda uma espera que passou por diversas polêmicas, atrasos e vazamentos que não são novidade alguma para a carreira de Del Rey. Uma obra que explora uma mudança de gênero musical e segue a linha de poesias mais humanas e introspectivas que a artista tem explorado tanto em suas composições quanto em seu primeiro livro de poemas, Violet Bent Backwards Over The GrassCOTCC é a representação sonora de uma metamorfose que pudemos observar pelos últimos nove anos desde o lançamento de Born to Die, em 2012. Del Rey encontra nos sons folk e country dos Estados Unidos seu caminho para expressar as mudanças internas de seu ser e entrega o que parecem ser suas composições mais sinceras e pessoais até o momento.

A faixa que dá partida a esta jornada é White Dress, um mergulho sincero e cru ao passado da artista. Com vocais roucos e sussurrados, Del Rey troca seus típicos graves sensuais e encorpados por uma abordagem que resgata a estética que a própria adotava aos seus 19 anos, que são narrados pela canção – “Eu me sentia livre pois tinha apenas dezenove anos” -, quando ainda cantava em bares sob o codinome de Lizzy Grant, uma persona que ainda reina na melancolia expansiva de Born to Die. Esta canção é como um passeio guiado pelas memórias do que um dia já foi a vida simples antes da fama, sobre os momentos que seriam considerados o “ponto baixo” da vida de grandes nomes, quando estes ainda realizavam trabalhos mundanos para correr atrás de seus sonhos, mas que, sob o véu de Del Rey, se transformam em memórias douradas sobre a beleza da juventude e a vontade de retornar ao simples. Este retorno parece ser a temática central de COTCC.

Seguindo para um dos singles promocionais de mesmo nome do álbum, nós deixamos a jovem Elizabeth Grant para trás e nos encontramos com a atual. Uma mulher que encontra nos clubes de campo, acompanhada de sua família, amigos e Amor, uma “profunda normalidade”. A invocação do “normal” aparece diversas vezes pelo álbum. Em Tulsa Jesus Freak, ouvimos enquanto o eu lírico declara para seu amor que este sabia que aquele não era “nada mais que comum”. Uma vida romântica despida do glamour da fama e vizinhanças caras, que reconhece o valor de cidades pequenas e da paz de viver toda sua vida para alguém sem que o mundo saiba. Let Me Love You Like a Woman é onde encontramos a síntese perfeita deste sentimento de escapismo do grandioso para o mundano.

É na busca por algo mais real e pé no chão que a mudança para o gênero folk/country se mostra essencial para o sentimento de COTCC. O pop de Lana Del Rey nunca foi a típica plasticidade comercial de batidas repetitivas, mas, sim, uma mistura de referências do hip-hop ao lado da cinematografia de instrumentos de corda, rock e blues. Uma estética alternativa que se adaptava aos conceitos explorados em cada um dos álbuns passados. Aqui, no entanto, encontramos guitarras que choram ao invés de gritarem e pianos que marcam tranquilidade. São melodias que parecem vir de dentro de um pequeno show em um bar qualquer na noite de microfone aberto. Uma noite em que, por acaso, o gênio de Lana Del Rey entrou neste bar e fez os presentes reféns de todos seus sentimentos mais profundos.

Mas o passado não é deixado completamente de lado pela cantora. Referências feitas à própria carreia podem ser encontradas nas letras e melodias das onze faixas. Em Wild at Heart, podemos revisitar a guitarra de How to Disappear, canção de NFR!, e o hip-hop marca presença em trechos de Dark But Just a Game e Tulsa Jesus Freak com um ritmo mais sensual. A metáfora da “vela ao vento” que nos foi primeiro apresentada em Mariner’s Apartment Complex, também de NFR!, retorna para marcar o crescimento pessoal que leva ao autoconhecimento que não permite que outros ventos apaguem sua chama. E em Dance Till We Die, onde Del Rey constrói uma ponte que explora todo o potencial do country em suas mãos, relembramos o estilo de vida de Off To The Races em que o eu lírico está em um estado de inquietude e constante mudança “rolling like a rolling stone”

Chemtrails Over The Country Club comprova a grandiosidade de Lana Del Rey exatamente por apostar na introspectividade, assim como Taylor Swift fez com folklore Evermore. Lana permite se despir de sua persona um pouco mais sem abandonar suas inspirações que não pertencem a uma personagem, mas, sim, àquela mesma garçonete de vestido branco. Nada impede que voltemos a escutar os sons do passado no futuro, mas estes nunca serão os mesmos e não têm por que serem. O que já foi feito será para sempre. O caminho de Del Rey é um de aprendizado e refinamento de suas habilidades que vão continuar a assinar seu nome como uma das mais influentes e talentosas compositoras de uma geração.

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Por Vinícius Soares Pereira – Fala! Cásper

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