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Batalhas de freestyle: uma cultura que quebra padrões

As batalhas de freestyle começaram a surgir na década de 80, nos Estados Unidos, e chegaram ao Brasil nos anos 2000. Por ser uma cultura com origem na periferia, durante as batalhas é muito comum o depoimento de classes e vivências do povo das margens. Atualmente, o público delas é maior, tendo diversidade de ouvintes, o que ajuda a espalhar a ideia dos artistas e leva o conhecimento dos subúrbios para o maior número possível de pessoas.

“Rap é compromisso, é uma forma de calar a opressão”, aponta Levinsk, artista do movimento. Por meio das rimas os artistas buscam mostrar sua cultura, talento, mas, mais importante que isso, o viés de protesto. A Mc ainda disse que, as batalhas sofrem desprezo que vai além do hip-hop, as vestes características e a cultura ser originária de preto são motivos de discriminação.

Freestyle
3ª Edição da Indaia Batalha. | Foto: Jimmy Ramos (@_.neutron)

Oportunidades do Freestyle

A grande maioria dos artistas participantes das batalhas de freestyle vêm de periferias. Nesse cenário, eventos como esses, que oferecem uma premiação em dinheiro ou a possibilidade de desenvolver seu trabalho, já são uma oportunidade. Segundo NT, um dos organizadores da Indaia Batalha, elas ajudam os participantes a serem mais conhecidos e o capital oferecido ao ganhador pode ser usado para o crescimento da carreira.

 É difícil crescer e ser reconhecido nesse meio. “Até aconteceu comigo de chegar um empresário falando de dar uma melhorada na batalha, mas é raro. É preciso conhecer alguém do ramo”, diz Vinícius Morais, organizador das batalhas do Martim Cererê. O fundador afirma que, por ser um ambiente estereotipado, muitas vezes a polícia chega e manda os participantes irem embora, interferindo ainda mais no sucesso da batalha e dos artistas.

Alguns artistas conseguem se destacar e crescer a partir das batalhas. Para os fundadores da Batalha Indaia, os financiadores costumam enquadrar as batalhas dentro de uma fórmula digerível ao grande público.

Mulheres em cena

“Tem muita mina que rima, mas não tem visibilidade”, diz Vinícius Morais. Além disso, Levinski relata que “é muito recorrente aparecerem mulheres na cena e elas sumirem”. As batalhas são uma forma de acessibilidade para as minorias, elas deveriam ser de fácil acesso para todos e ninguém deveria sentir-se oprimido, porque elas são uma ferramenta contra a opressão, diz Levinsk.

“Uma menina quis puxar o grito no microfone, isso nunca ia acontecer se não estivessem duas mulheres batalhando”, relata Bats, fundador da Indaia Batalha. Por motivos como esse a representatividade é importante. E pensando nisso, foram criadas algumas batalhas da diversidade, mas, por mais que elas sejam um marco, dividir as pessoas em grupos não valorizam tanto o trabalho daquelas que estão separadas.

O Brasil ainda é um país machista, e o rap não foge muito do título. “Por muito tempo eu batalhei só com homens, e era um vocabulário muito chulo, tinha que ouvir aquilo que eu já ouvia na rua e responder”, fala Levinsk. A situação aos poucos está mudando, como relata Vinícius Morais ao dizer que “em uma batalha de rima, se rolar um preconceito, o cara já é desclassificado na hora”, mas ainda existe muito chão para percorrer.

Freestyle
Levinsk vs. Ravena na Batalha da Inácia. | Foto: Ulisses Sulivan

Estrutura das batalhas de Freestyle

As batalhas são eventos que precisam de financiamento para uma estrutura adequada aos participantes e ao público. Há três principais formas de consegui-lo: por meio de empresas privadas, editais criados pelas secretarias de cultura ou dinheiro próprio. O patrocínio público é mais complicado de conseguir: “Eu corro muito atrás dos editais, mas eles pedem um monte de documento que é muito difícil a gente ter”, afirma Vini Alceu, da Indaia Batalha.

As batalhas também podem começar a partir de financiamento próprio. Segundo Vinícius Morais, existem muitos grupos que começam com financiamento próprio e sem lucro e depois procuram patrocínios externos. Para o fundador, quando a competição não é profissional, o público pode confundir o evento com um ambiente de uso de drogas e bebidas, e não como um concurso cultural, manchando a imagem do lugar.

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Por Amanda Chaves e Teresa Prado – Fala! Universidade Federal de Goiás 

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