quinta-feira, 25 abril, 24
HomeMercadoAs veias abertas e em crise da publicidade paulistana

As veias abertas e em crise da publicidade paulistana

Crise após crise, nada muda nas grandes agências de São Paulo

A crise na publicidade paulista está cada dia mais escancarada para o mundo.
A crise na publicidade paulista está cada dia mais escancarada para o mundo. | Foto: Reprodução.

52 segundos foram o bastante para estremecer uma grande agência de São Paulo, derrubar três de seus líderes e causar um frenesi no mercado publicitário brasileiro. Era quarta-feira, 1, quando o Clube de Criação, entidade fundada em 1975 para “valorizar e preserva” a criatividade brasileira, lançou seu filme nas redes. Logo, os grupos de publicitários entraram em polvorosa: “viram o Clube?”. “Mas, gente, o que essa galera da Wieden tá usando?”. “O publicitário tem que acabar”. Para pior.

Filme polêmico evidência a crise da publicidade paulistana

O filme, assinado pela Wieden+Kennedy São Paulo, listava diversos momentos da história para sustentar a ideia de “na crise, crie”. Inquisição, escravidão, Guerra Civil Espanhola, Segunda Guerra Mundial, Pandemia causada pela Covid-19, todos representavam essas “crises”, onde a criatividade sairia triunfante do período de sofrimento. Para “validar” a narrativa, foram destacados movimentos artísticos e culturais relacionados a cada um desses episódios lastimáveis, como o surgimento do Blues e a obra Guernica, do pintor Pablo Picasso, que retrata o bombardeio à cidade de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

Percebendo o equívoco, o Clube de Criação tirou o filme do ar. Cliente e agência se desculparam. 

Acompanhei intensamente a repercussão em minhas redes lotadas de publicitários das mais variadas áreas de grandes agências paulistanas. Tirando meia dúzia de gatos-pingados que defenderam o “conceito” idealizado pelos criativos da agência da Vila Madalena, os pronunciamentos relatavam o horror e suplicavam por mudanças no mercado. Inclusão, ascensão de profissionais negros, etc.

Bem, aí me veio o questionamento: o conceito defendido pela turma cis e branca da Wieden+Kennedy e validado pelo Clube de Criação seria barrado em outras grandes agências de São Paulo? Quem critica já olhou ao seu redor?

Com pouquíssimas exceções, a maioria não branca e não heteronormativa, a resposta é um grandioso não. Não, porque é mais fácil encarar os problemas do vizinho do que os nossos. Não, porque nós “incentivamos a inclusão em nossa agência”. Não, porque “X% do nosso quadro é composto por profissionais negros e Y% por profissionais LGBTQIA+“. Nos poupe de demagogia barata, queremos ação. Quantos desses profissionais estão em cargos de liderança? Quantos são apenas estagiários que recebem um salário mínimo, apresentam coisas incríveis e não veem a efetivação no horizonte?

“Textões” e discursos idealistas naquela call com os subordinados não resolvem os nossos problemas, e nem programas de estágio sazonais visando levar diversidade para a base da pirâmide.  Estamos longe de furar a bolha do mercado publicitário, ela só se fortalece. O noticiário dá conta de que o fenótipo dos substitutos para os culpados pela crise é o mesmo de sempre. E o que será do amanhã? Responda quem puder. Não vejo sinal algum de progresso, ficaremos nas palestras e workshops. Até a próxima crise, galera.

__________________________________________________________

Por Bruno Lucca – Fala! Anhembi

ARTIGOS RECOMENDADOS