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Opinião: Por que alterar a data do Enem é uma questão de humanidade

“E se uma geração de profissionais fosse perdida?”, questiona a propaganda do Ministério da Educação, veiculada mídia afora. O vídeo, com apenas 1 minuto, questiona o futuro dos jovens estudantes – caso eles sejam impedidos de realizar o Exame Nacional do Ensino Médio ainda em 2020. Também conhecido como Enem, o simulado é a primeira porta de entrada para universidades públicas e particulares no Brasil e em alguns países, como Portugal. O exame é realizado em dois finais de semana distintos, no segundo semestre do ano letivo. 

No entanto, o Ministério da Educação parece esquecer que o Brasil enfrenta – em desequilíbrio constante – uma pandemia do novo coronavírus. Já são mais de 37 mil mortos por conta da Covid-19, dentre jovens, adultos, idosos e crianças. Dentre as recomendações de saúde, o isolamento social foi aceito – parcialmente – nos municípios e cidades. As escolas e cursos, por sua vez, suspenderam suas atividades presenciais.

A solução? Educação a distância, a EAD, ofertada para parte dos alunos que, em sua maioria, eram de instituições particulares. Apesar de emergencial, o ensino via Internet trouxe à tona outro problema – já mais conhecido – dentre os estudantes brasileiros: a falta de acesso à Internet. 

Mesmo com a quarentena em alguns estados e um número de vítimas do vírus já considerável, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ainda não havia se posicionado. Até então, as datas do Enem estavam mantidas, com as provas impressas realizadas no dia 1º e 8 de novembro, e a versão digital nos fins de semana de 11 e 18 de outubro.

Mas como pensar em estudar, em poucos meses, os principais assuntos do ensino médio, quando existe um vírus à espreita? Como manter uma competição justa quando parte dos competidores pode se capacitar e outra segue sem condições de acesso à educação? Se já era demais para os nossos vestibulandos, agora, é quase impossível.

Enem
Enem e a realidade social brasileira. | Foto: Reprodução.

Enem e a realidade social brasileira

Pensar de uma forma geral nos vestibulandos brasileiros é também analisar o recorte em que a maioria deles vive, geralmente de classe.  No Brasil, 4,8 milhões de crianças e adolescentes, entre 9 e 17 anos, não possuem acesso à Internet dentro da própria casa. Os dados, divulgados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, vieram da pesquisa TIC Kids Online 2019. O número reflete 17% de todos os brasileiros nessa faixa etária que estão sem acesso à educação a distância.

A pandemia do coronavírus alavancou a desigualdade social, principalmente quando se fala no ensino público e particular dos vestibulandos. Ao todo, independentemente da idade, são 46 milhões de pessoas, apenas no Brasil, sem acesso à Internet, como informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. 

Com a pressão, o Ministério da Educação, ao lado do Inep, resolveu se posicionar. Ainda assim, não agradou muita gente. E foi em meio às inconstâncias do futuro do Enem que surgiu o movimento #AdiaEnem nas redes sociais. Estudantes, professores e movimentos estudantis aderiram à tag #AdiaEnem. Uma petição on-line, inclusive, foi criada pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e pela União Nacional dos Estudantes. Até agora, 357.028 pessoas assinaram. A meta é chegar a 360.000. 

Mas como anda a previsão para a realização do Enem atualmente? O adiamento foi efetivo, porém, por pouco tempo. Através de um Projeto de Lei, de número 2623/2020, o exame foi adiado de 30 a 60 dias em relação ao que estava previsto anteriormente. Assim, 3,5 milhões de brasileiros aguardam o próximo passo do Inep e do Ministério da Educação.

Enquanto isso, uma falsa ideia de igualdade escolar entre os estudantes é perpetuada, paralela ao apego dessa ser talvez a única oportunidade entre muitos jovens de integrar no ensino superior. Quantos podem se permitir falhar? Quantos poderão fazer o Enem mais uma vez? Uma geração de profissionais já foi perdida, em meio à pandemia. Adiar o Enem é, no mínimo, uma questão de humanidade.

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Por Samantha Oliveira – Fala! UFPE

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