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A sustentabilidade e a pandemia: A questão do consumo e do lixo

Em tempos de isolamento social, pensar sobre o consumo consciente se torna ainda mais importante. Estamos produzindo mais lixo?

 Já está claro para a grande maioria que o isolamento social tem seus empecilhos. O convívio familiar na versão intensiva, as ondas de preguiça e a produtividade, que aguça nos horários mais inesperados, são um singelo retrato dos dias atuais.

De fato, o isolamento social consiste em um denso processo de adaptação. Além das caminhadas do quarto ao sofá e do sofá à cozinha, existe muito tempo para se pensar e olhar para dentro de nós mesmos. Tarefa difícil, porém proveitosa, podendo provocar dentre as paredes de casa mudanças diárias que, talvez, nos acompanharão no mundo pós-pandêmico.

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Com pequenos gestos, a sustentabilidade pode ser uma realidade. | Foto: Unsplash.

Sustentabilidade em tempos de pandemia

Você, com certeza, já escutou o tal papo sobre sustentabilidade. O ano de 2019, foi recheado de discussões pertinentes em prol da importância da preservação ambiental. Mas as ideias de sustentabilidade, obviamente, não nasceram em 2019 e nem foram deixadas por lá. Elas continuam, afinal, aquela ideia distante da sofrência humana devido ao uso irracional dos recursos naturais deixou de ser apenas o enredo de uma ficção qualquer.

Certamente construir uma sociedade sustentável não é tarefa fácil, e a transição abrupta para tal dificilmente acontecerá de um dia para o outro. No entanto, ao olharmos pela janela, ansiosos para o dia de sair para as ruas novamente, não fará mal à cabeça em repensar nossos atos dentro de casa. “Passos de formiga” são necessários em todos os processos da vida, e na sustentabilidade não é diferente.

Uma das principais mudanças cujo o cenário da quarentena proporcionou foi a migração do lixo das ruas para dentro de casa. A geração de resíduos domiciliares cresceu mais de 10% desde que o isolamento social passou a ter mais adesão e, de acordo com a ABRELPE (Associação Brasileira de empresas de limpeza pública e resíduos especiais), o crescimento tende a chegar entre 15 a 20% a mais.

Naturalmente, o lixo invisível produzido nos ambientes de trabalho, nas faculdades e no caminho do dia a dia está tomando forma dentro de casa. O aumento de deliverys, segundo empresas especializadas, não atingiu somente o setor dos restaurantes e passou a funcionar para diversos fins, como farmácias, livros, entre outros itens encomendados. Simultaneamente, as casas passaram a ser entupidas de embalagens de papelão e  plásticas de monte, até mesmo pelo fato de se procurar por uma proteção maior ao produto.

Ainda que, a situação por inteiro pareça um tanto quanto sufocante, a presença dessa quantia elevada de lixo dentro de nossas casas pode nos ajudar a repensar nossos hábitos consumistas. Qual o tamanho do meu lixo? Ele é realmente necessário?

No início da pandemia, houve comportamentos cômicos, embora trágicos, como o da “corrida do papel higiênico” pelos mercados, que são capazes de nos mostrar como a  falta do consumo consciente pode impactar no convívio em sociedade. Obviamente, parte disso ocorreu pela falta de previsões e medidas de controle no início da quarentena, porém, não há como negar a influência do consumismo desenfreado presente nesta situação.

Vale lembrar também que, desde o agravamento da situação do vírus no Brasil, aconteceu a suspensão das atividades promovidas pelos catadores de lixo nas ruas. A coleta seletiva em São Paulo, em função de preservar a saúde dos catadores, aderiu à suspensão temporária de suas atividades durante o isolamento social. Sendo tal atividade um dos pilares da sustentabilidade na medida que, por meio da separação dos resíduos recicláveis, diminuímos impactos nocivos ao meio ambiente, sua paralisação promove uma atenção individual do lixo produzido tornando-se igualmente importante.

Pensando que, devido à suspensão das atividades da coleta muito do lixo produzido durante o isolamento poderá ser destinado aos lixões a céu aberto, ainda não totalmente extintos, embora existam leis referentes à desativação total deles, os resíduos recicláveis podem ser guardados durante um tempo dentro de casa até uma previsão de volta da coleta seletiva. Plásticos, papéis e papelões devidamente higienizados e dobrados, podem repousar um tempinho dentro de nossas casas para que não contribuam ao funcionamento indevido dos lixões, pois estes são responsáveis pela geração de 6 milhões de toneladas de gases do efeito estufa anualmente.

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Os resíduos recicláveis podem ser guardados até que a coleta seletiva retorne às atividades. | Foto: Unsplash.

De fato, são tempos turbulentos que requerem de todos uma grande adaptação, mas podemos utilizá-lo a fim de redescobrir nossas funções ecossistêmicas também. De dentro de nosso aconchego, podemos procurar por produtos com menos embalagens e, para aqueles sem a confirmação de contágio com o novo vírus, a recomendação é que continue fazendo a separação dos materiais para a coleta seletiva dentro de casa. Lembrando que máscaras e luvas já usadas devem ser descartadas no lixo comum. 

Com um olhar mais cuidadoso para o ambiente interior e exterior, soluções como um planejamento alimentar e de compras a serem priorizadas são maneiras eficientes de se adequar a um consumo mais consciente. Ademais, canais no YouTube sobre sustentabilidade, como o Menos 1 Lixo, sobre educação ambiental e o podcast O Tempo Virou de Giovanna Nader, consultora de moda sustentável, são maneiras de se inteirar no assunto e divulgar atos em prol da sustentabilidade. Também, como a mobilização da Prefeitura de São Paulo, que procura investir R$5,7 milhões para o auxílio dos catadores de materiais recicláveis, a campanha de Solidariedade aos Catadores também está funcionando por meio de doações.

Ainda que vivendo um tenso episódio de Black Mirror, não há como negar a natureza. Embora temporárias, as mudanças na movimentação das ruelas de São Paulo já provocaram um efeito positivo na diminuição de poluentes na atmosfera. Talvez, nos reeducando pouco a pouco dentro de casa, estaremos mais conscientes para quando a vez de pisar na grama novamente chegar. Como dito por Gretha Thunberg, ativista ambiental em uma entrevista para a revista New Scientist, “”a crise ambiental não vai embora” e, com certeza, não é agora que ela deve ser esquecida.

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Por Julia Roperto – Fala! PUC

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