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A representatividade LGBT+ no mundo dos quadrinhos e sua importância

A HQ Superman: Son of Kal-El #5 lançou no dia 16 de novembro nos EUA e, antes mesmo de estar a venda, gerou muita polêmica na internet, isso porque, nela, Superman se assume bissexual e possui cenas beijando o estudante Jay Nakamura. Esse fator, logo de início, motivou diversos comentários violentos e, até mesmo, ameaças por parte do público, o que fez com que a polícia local fosse até a casa dos quadrinistas criadores da revista para tomarem medidas preventivas. 

A comunidade LGBTQIA+ foi, por muito tempo, deixada de lado pela maioria das editoras de quadrinhos e, sem dúvidas, situações como essa eram razões para isso acontecer. Mas, além disso, outros fatores motivaram a inexistência da comunidade nessas histórias. Então, antes de partir para a importância da representatividade no mundo dos super-heróis, é necessário falar sobre como ela foi retratada ao longo dos anos até chegar aos dias atuais. 

Superman e Nakamura na nova edição de quadrinhos da DC Comics.
Superman e Nakamura na nova edição de quadrinhos da DC Comics. | Foto: Reprodução.

A Comunidade LGBTQIA+ nas HQs

Em 1938, a publicação da Action Comics #1 e a criação do Superman iniciaram a famosa “era dos super-heróis”, que conhecemos hoje. Nessa época, os personagens criados para compor os quadrinhos não tinham sua sexualidade questionada e já eram considerados heterossexuais pelo público consumidor sem ter, de fato, essa característica apresentada em alguma edição.  

Isso se tornou ainda mais comum 16 anos depois, já que o Comics Code Authority, um modelo de código de ética para as HQs, foi criado pela Comics Magazine Association of America e, em seguida, adotado pela maioria das editoras já existentes naquele período. Nele, havia um série de regras e restrições que, por sua vez, baniam a retratação gráfica de sangue, violência, drogas e personagens homoafetivos. 

Arlequina e Hera Venenosa, da DC Comics, como um casal LGBTQIA+.
Arlequina e Hera Venenosa, da DC Comics, como um casal LGBTQIA+. | Foto: Reprodução.

Com o passar dos anos, o código sofreu uma longa revisão e tornou a aceitar uma quantidade maior de violência, assim como a presença de drogas e homossexuais. Por isso, em 1987, finalmente houve o primeiro avanço nesse quesito, quando o Estrela Polar, herói que fazia parte da Tropa Alfa, da Marvel, se assumiu gay em uma edição daquele ano. 

Assim, após esse acontecimento, outros personagens passaram a se assumir também, mas vale lembrar que a maioria deles fazia parte de revistas pequenas e que o espaço que a comunidade LGBTQI+ tinha ainda era minúsculo em relação ao extenso universo dos quadrinhos. 

Em 2011, após o fim do Comics Code Authority, essa representatividade chegou no Homem de Gelo, no Lanterna Verde de Alan Scott, no Loki, na Mística, na Arlequina e em alguns outros heróis e vilões conhecidos. Porém, ainda sim, ela não ocupou nem a metade dos personagens existentes nesse universo e, atualmente, isso não é muito diferente.

Qual a importância dessa representatividade para os quadrinhos? 

Amor é Amor, uma coletânea de histórias criada pela DC Comics e IDW para arrecadar fundos aos sobreviventes do massacre na boate Pulse, em Orlando.
Amor é Amor, uma coletânea de histórias criada pela DC Comics e IDW para arrecadar fundos aos sobreviventes do massacre na boate Pulse, em Orlando. | Foto: Reprodução.

As HQs são capazes de refletir a realidade e de fazer pessoas se identificarem ainda mais com uma narrativa quando há personagens que representam uma parte da personalidade delas. Esse processo, muitas vezes, esquece como é importante retratar indivíduos homoafetivos tanto quanto retratam heteroafetivos. 

A homossexualidade só foi retirada do catálogo internacional da OMS como transtorno mental em 17 de maio, no ano de 1990, após muita luta para essa evolução, as vertentes culturais e artísticas deveriam colaborar para continuar com esse progresso e transformá-la em uma representatividade relevante.

Devido a isso, “empoderar” essa comunidade, em meio a tanto sofrimento que ela já passou, é uma forma de a dar esperança e inclusão, além de ajudá-la com formação de personalidade moral e com a criação de ideologias através de histórias criativas, assim como sempre foi feito com o restante dos leitores de quadrinhos. 

Então, a importância provém de mais de um motivo, partindo da conexão gerada entre as HQs e o público LGBTQI+, e indo até o impacto que a cultura traria se representasse, igualmente, as minorias. E, além disso, ela também serve para colaborar no avanço que a comunidade teve até aqui e para mostrar que a diversidade caminha lado a lado com a realidade em que vivemos.  

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Por Giovanna Pavan – Fala! Anhembi

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