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A Era de Ouro de Hollywood: época de estrelas, estúdios e sonhos

Quando se pensa em cinema, é impossível não relacioná-lo com Hollywood. Localizada em Los Angeles, na Califórnia, a chamada “capital do cinema” virou o maior símbolo da produção audiovisual no mundo, sendo um local que atrai anualmente milhões de turistas e aspirantes a estrelas que buscam construir seus nomes na indústria cinematográfica. Unindo a paisagem, a localização e o clima propícios para o desenvolvimento de obras audiovisuais, a concepção de Hollywood como sinônimo da sétima arte se deu de maneira rápida e extremamente efetiva, alcançando o apogeu – a chamada “Era de Ouro” – pouco tempo depois de surgir.

No começo do século XX, a embrionária produção cinematográfica ocorria principalmente na região entre Nova York e Nova Jersey, costa leste dos Estados Unidos. Thomas Edison, com o sucesso de invenções como o cinetoscópio – uma caixa em que, com o auxílio de uma manivela, era possível projetar um filme captado por uma “câmera” primitiva –, viu que o cinema seria uma grande fonte de dinheiro. Então, juntamente com outras empresas do ramo, formou a Motion Picture Patents Company (MPPC).

A MPCC detinha a patente dos equipamentos, e com isso, muitos produtores passaram a enfrentar processos e outras ofensivas judiciais por parte de Thomas Edison para que pudessem captar imagens, exibi-las e distribuí-las nos cinemas. A solução encontrada foi sair da região, e a Califórnia, na costa oeste, pareceu o lugar perfeito para a instalação de estúdios e desenvolvimento de filmes, com o clima ensolarado, as paisagens diversas, e principalmente, com uma corte de juízes capaz de frear os processos de Edison.

Nos anos 1910, foram fundados grandes estúdios, como a Paramount Pictures (1912), a Universal (1912), a Fox Film (1913), a Columbia Pictures (1914) e a United Artists (1919). Via-se no cinema uma indústria cada vez mais lucrativa, e Hollywood se mostrava como o grande expoente da produção audiovisual estadunidense. Entre as décadas de 1920 e 1960, esse cenário se consolidou: a Era de Ouro de Hollywood representou o desenvolvimento de técnicas cinematográficas, a ascensão de estúdios, o surgimento de estrelas conhecidas até hoje, a produção abundante de clássicos e a consolidação estadunidense como potência na indústria do cinema.

Década de 20: a chegada do cinema falado

Entre os anos de 1914 e 1918, ocorreu a Primeira Guerra Mundial, conflito que deixou a Europa arrasada. Nesse contexto, a produção cinematográfica europeia perdeu espaço para a ascendente produção de Hollywood, que não só fazia como importava filmes.

Cena do filme O Cantor de Jazz [Imagem: Copyright Warner Bros.]

Durante a década de 20, outros grandes estúdios foram fundados: Warner Bros. (1923), MGM (1924) e RKO (1928). Os três, juntamente com a Paramount e a Fox, formavam o The Big Five – os cinco maiores estúdios – enquanto a Columbia, a Universal e a United Artists representavam o The Little Three – os três menores. Juntos, os estúdios consolidaram o studio system: cada um possuía sua equipe fixa de diretores, produtores, roteiristas, entre outras funções, e eram donos inclusive de salas de cinema, para exibição de suas próprias produções.

A demanda cada vez maior por entretenimento nas telonas fez com que o cinema fosse visto como uma máquina de dinheiro, exigindo uma produção abundante dos estúdios. Por conta disso, “fórmulas” de se fazer filmes foram sendo criadas e repetidas, com grande apelo ao público: seguindo uma ordem cronológica, o mocinho, figura positiva, enfrenta uma série de acontecimentos que geram uma sequência de causa e efeito, tendo um antagonista como oposição. Gêneros como western (conhecido também como faroeste) e comédia “pastelão” também alcançaram muito sucesso.

Uma das maiores estrelas do cinema mudo foi Charles Chaplin, ator de origem inglesa. Na figura do Tramp (vagabundo), um pobretão de terno apertado, chapéu e bengala que agia como um cavalheiro, Chaplin marcou a história do cinema com filmes como O Garoto (The Kid, 1921) e Em Busca do Ouro (The Gold Rush, 1925). Buster Keaton também foi um grande nome da comédia naquela época, atuando em produções como Sherlock Jr. (1924) e A General (The General, 1926).

Em 1927, é fundada a Academy of Motion Picture Arts and Sciences, uma organização criada para promover o desenvolvimento da indústria cinematográfica. Dois anos depois, a Academia, como meio de honrar as produções de anos anteriores (1927 e 1928), realizou a primeira edição do que seria a premiação mais importante do cinema mundial: o Academy Award, popularizada como Oscar.

Também em 1927, a Warner mudou completamente o cenário do cinema com uma revolução: o cinema falado. Com a sincronia entre áudio e movimento labial, o filme O Cantor de Jazz (The Jazz Singer, 1927) transformou a indústria, forçando os demais estúdios a se adaptarem à nova técnica e exigindo dos atores uma nova habilidade – a fala.

American Way of Life era cada vez mais evidenciado nas telas, com o uso da linguagem hollywoodiana, aliada à exibição do materialismo e otimismo estadunidense. Porém, com a Grande Depressão de 1929, o estilo de vida que era visto no cinema e almejado por tantos se mostrava miserável na realidade, com o desemprego e a fome. Os filmes, então, passaram a não ser somente um entretenimento; eles viraram uma fuga da realidade, em que heróis eram capazes de vencer as adversidades. A indústria do cinema mostrava-se não só lucrativa, mas também mágica.

Década de 30: censura, cinema em cores e o ano de ouro

Em 1930, foi colocado em vigência o Código Hays, uma série de regras que determinavam o que podia estar ou não nos filmes. As produções de Hollywood eram vistas pelos conservadores como uma afronta à moral, o que levou à formação, em 1922, do Motion Picture Producers and Distributors of America (MPPDA, Produtores e Distribuidores de Cinema da América, em tradução livre)A censura determinada pelo MPPDA possuía inicialmente baixa supervisão, o que inflamou a existência da chamada Pre-Code Hollywood (Hollywood Pré-Código). Os filmes desse “gênero” – alguns exemplos são Inimigo Público (The Public Enemy, 1931) e Serpentes de Luxo (Baby Face, 1933) – eram conhecidos por abordarem temas provocativos como adultério, aborto, prostituição e homossexualidade. Em 1934, o Código recebeu uma emenda que exigia um certificado de aprovação dos filmes antes de serem estreados, fato que ocasionou no corte ou reformulação de cenas em várias produções.

Cena do filme E o Vento Levou… [Imagem: Copyright Selznick International Picture]

Nessa mesma década, os estúdios consolidaram o star system. Jovens atores e atrizes eram contratados com o objetivo de ser uma imagem do estúdio, alimentando a publicidade, personificando o glamour de Hollywood e estando sujeitos a suas normas e contratos. Para alcançar tais objetivos, eles eram moldados como personagens, podendo sofrer mudanças relacionadas à aparência, personalidade e até mesmo ao próprio nome. Joan Crawford, estrela da MGM, se chamava na verdade Lucille LeSueur, e Archibald Leach, da Paramount, tinha o nome artístico de Cary Grant. Segundo Eduardo Morettin, professor de História do Audiovisual na Escola de Comunicações e Artes da USP, o studio system e o star system caminhavam juntos na dinâmica de Hollywood, uma vez que o primeiro “consolidou a figura do produtor como peça da produção cinematográfica”, enquanto o segundo colaborou na “construção do culto à figura da celebridade”.

A chegada do som no cinema fez com que a trilha sonora passasse a ser elemento crucial da narrativa, contribuindo para uma experiência ainda mais imersiva. Filmes de terror e aventura como King Kong (1933) conquistaram muito destaque e público. Além disso, os musicais começaram a aparecer como gênero cinematográfico. Fred Astaire e Ginger Rogers foram uma dupla de grande destaque dos musicais dessa década, estrelando filmes como O Picolino (Top Hat, 1935) e Ritmo Louco (Swing Time, 1936).

Outra grande revolução técnica que marcou a década foi a captação do filme em cores. Antes, para que o filme fosse colorido, a película era tingida ou pintada manualmente, o que conferia um aspecto artificial e a possibilidade de prejudicar sua exibição. A empresa Technicolor foi a responsável por mudar esse cenário, desenvolvendo uma câmera que captava a cena em três películas sensibilizadas nas cores azul, verde e vermelha. Ao serem reveladas e exibidas juntas, as películas tinham como resultado cores vibrantes e realistas, contribuindo ainda mais para o aspecto mágico do cinema.

A captação de cores também favoreceu a promoção das animações, que se mostravam como uma nova linguagem cinematográfica. Em 1937 foi lançado Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs, 1937), o primeiro longa metragem totalmente animado de Walt Disney, responsável por construir um império no ramo ao longo dos anos seguintes.

O ano de 1939 é considerado por muitos o “Ano de Ouro”, pois foi marcado por clássicos como E o vento levou… (Gone With The Wind, 1939), Mágico de Oz (The Wizard of Oz, 1939) e No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939).

Década de 40: a guerra refletida nas telas

A década de 40 foi marcada por outro grande conflito: a Segunda Guerra Mundial. Entre os anos de 1939 e 1945, os Aliados e os países do Eixo construíram um embate não só territorial como ideológico, refletindo inclusive no cinema. Nesse contexto, Hollywood produziu diversos filmes com apelo patriota, trazendo a guerra como temática e plano de fundo. Casablanca (1942) e Os Melhores Anos de Nossas Vidas (The Best Years of Our Lives, 1946) foram produções que mostravam o efeito da guerra na vida das pessoas, enquanto filmes como O Grande Ditador (The Great Dictator, 1940) expunham os perigos dos líderes fascistas.

Cena do filme Cidadão Kane [Imagem: Copyright Mercury Productions e RKO Radio Pictures]

Essa época foi marcada por grandes clássicos, como Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941), que inovou ao apresentar a trama de maneira não linear, unido a novos posicionamentos de câmera, e A Felicidade Não Se Compra (It’s a Wonderful Life, 1946), que se tornou a maior obra do diretor Frank Capra. Estrelas como Humphrey Bogart, Rita Hayworth e Katharine Hepburn marcaram a década.

Além disso, o film noir surgiu como um novo estilo de filme. Inspirado pela literatura de ficção policial, os filmes noir eram marcados pela ambientação urbana, o questionamento moral dos heróis, as questões sociais, a figura da femme fatale e a iluminação em três pontos ー o claro (luz), o escuro (sombra) e a gradiente de cinza. O estilo foi representado por filmes como Pacto de Sangue ( Double Indemnity, 1944) e À Beira do Abismo (The Big Sleep, 1946).

Em 1947, no contexto pós-guerra, foi instituída a primeira lista negra de Hollywood, com o objetivo de boicotar diretores, roteiristas, atores e outros profissionais da área que estivessem supostamente relacionados ao comunismo. Quem possuísse o nome na lista passava a enfrentar uma grande dificuldade para conseguir emprego na indústria. Sua primeira edição contou com o nome de dez diretores e roteiristas, todos demitidos de seus estúdios.

No ano seguinte, com o ato federal conhecido como Anti-Trust Act, o governo americano determinou como injusto o monopólio que os estúdios exerciam ao atuarem na produção e exibição dos filmes, forçando-os a venderem as salas de cinema que possuíam. Esse foi um ponto crucial na desestabilização do studio system que funcionava até então.

Anos 50: o auge de estrelas, o declínio da Era de Ouro

Na década de 50, os musicais alcançaram o seu auge, com superproduções de grande sucesso de público. Gene Kelly marcou o gênero ao estrelar Sinfonia de Paris (An American In Paris, 1951) e Cantando na Chuva (Singin’ In The Rain, 1952), esse último sendo considerado até hoje o maior musical de todos os tempos. Para Eduardo, Cantando na Chuva é um dos filmes mais emblemáticos da Era de Ouro, pois expõe elementos marcantes da indústria na época, como a passagem do cinema mudo para o falado, a valorização da figura da celebridade (star system) e o gênero musical como marca da época. Adaptações de musicais da Broadway também tiveram destaque, como Eles e Elas (Guys and Dolls, 1955).

Cena do filme Cantando na Chuva [Imagem: Copyright Metro-Goldwyn-Mayer e Loew’s Inc.]

Essa época também foi marcada por nomes até hoje reconhecidos e tidos como inspiração na indústria. Audrey Hepburn se destacou como referência dos anos 50 ao estrelar A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1953) e Sabrina (1954), e Marilyn Monroe tornou-se um ícone da cultura pop com papéis em Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953) e Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot, 1959). Além disso, o diretor inglês Alfred Hitchcock consagrou-se em Hollywood como “mestre do suspense” ao dirigir filmes como Janela Indiscreta (Rear Window, 1954) e Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958).

Contudo, a Era de Ouro já entrava em declínio no fim da década. Com a vigência do Anti-Trust Act, os estúdios foram obrigados a encerrar contratos com suas equipes, reduzindo drasticamente o número de funcionários fixos. Para lidarem com esse novo cenário, eles passaram a contratar a equipe por produção e a focar na distribuição dos filmes – modelo seguido até hoje.

O fator determinante para a mudança no consumo do cinema foi a chegada da televisão. Segundo Morettin, “a televisão já existia nos anos 40, mas popularizou-se nos anos 50. As produções em cores já eram mais recorrentes, e o cinema passou a disputar espaço com a TV. O jeito de ver cinema foi mudando, e o sistema de estúdio também estava decaindo”. Com isso, Hollywood focou na produção menor, porém de maior orçamento, com o objetivo de criar uma forma de entretenimento à altura da televisão. Nesse contexto, filmes épicos como Ben Hur (1959) foram produzidos.

Década de 60: novos ares em Hollywood

Nos últimos anos da Era de Ouro, a forma hollywoodiana de se fazer cinema não representava mais toda a indústria, assim como novos diretores queriam conquistar seu espaço sem a determinação dos estúdios. Mesmo sendo a década de filmes como Psicose (Psycho, 1960), Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961) e A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1964), a fórmula já previsível de construir um filme não atraía mais o público como antes.

Cena do filme A Noviça Rebelde [Imagem: Copyright 20th Century Fox]

Além do studio system, o Código Hays e a lista negra de Hollywood não possuíam mais credibilidade, favorecendo ainda mais o cenário para que novos diretores trouxessem para a indústria um outro modo de fazer cinema: com uma narrativa não linear, personagens com ambiguidade moral e o uso de plot twists. Grandes produções como Cleópatra (1963) geraram prejuízos aos estúdios, até que, em 1967, com o lançamento de Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas (Bonnie and Clyde, 1967)uma nova era tomou conta de Hollywood dali em diante.

Após cinco décadas de produção intensa, a Era de Ouro de Hollywood deu espaço a novos movimentos e visões da sétima arte estadunidense. O que ficou, porém, foi a forma de ver cinema. Hollywood transformou o puro entretenimento em uma experiência de sentimento e imersão, e isso, com certeza, é o seu maior legado.

Quando se pensa em cinema, é impossível não relacioná-lo com Hollywood. Localizada em Los Angeles, na Califórnia, a chamada “capital do cinema” virou o maior símbolo da produção audiovisual no mundo, sendo um local que atrai anualmente milhões de turistas e aspirantes a estrelas que buscam construir seus nomes na indústria cinematográfica. Unindo a paisagem, a localização e o clima propícios para o desenvolvimento de obras audiovisuais, a concepção de Hollywood como sinônimo da sétima arte se deu de maneira rápida e extremamente efetiva, alcançando o apogeu – a chamada “Era de Ouro” – pouco tempo depois de surgir.

No começo do século XX, a embrionária produção cinematográfica ocorria principalmente na região entre Nova York e Nova Jersey, costa leste dos Estados Unidos. Thomas Edison, com o sucesso de invenções como o cinetoscópio – uma caixa em que, com o auxílio de uma manivela, era possível projetar um filme captado por uma “câmera” primitiva –, viu que o cinema seria uma grande fonte de dinheiro. Então, juntamente com outras empresas do ramo, formou a Motion Picture Patents Company (MPPC).

A MPCC detinha a patente dos equipamentos, e com isso, muitos produtores passaram a enfrentar processos e outras ofensivas judiciais por parte de Thomas Edison para que pudessem captar imagens, exibi-las e distribuí-las nos cinemas. A solução encontrada foi sair da região, e a Califórnia, na costa oeste, pareceu o lugar perfeito para a instalação de estúdios e desenvolvimento de filmes, com o clima ensolarado, as paisagens diversas, e principalmente, com uma corte de juízes capaz de frear os processos de Edison.

Nos anos 1910, foram fundados grandes estúdios, como a Paramount Pictures (1912), a Universal (1912), a Fox Film (1913), a Columbia Pictures (1914) e a United Artists (1919). Via-se no cinema uma indústria cada vez mais lucrativa, e Hollywood se mostrava como o grande expoente da produção audiovisual estadunidense. Entre as décadas de 1920 e 1960, esse cenário se consolidou: a Era de Ouro de Hollywood representou o desenvolvimento de técnicas cinematográficas, a ascensão de estúdios, o surgimento de estrelas conhecidas até hoje, a produção abundante de clássicos e a consolidação estadunidense como potência na indústria do cinema.

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Por Maria Luísa Bassan – Jornalismo Jr. ECA USP

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