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Coletivos Buscam Voz Ativa nas Universidades

Por Léo Martins – Fala! Anhembi

 

Os índices mostram crescimento de acesso às universidades no país. Em uma sociedade cada vez mais diversificada, os coletivos – grupos que se unem para militar por uma causa – estão se tornando cada vez mais freqüentes e importantes para evitar que casos de discriminação ocorram e sejam impunes.

Mulheres, negros, homossexuais, esses são os grupos minoritários que buscam voz ativa dentro das universidades. Em um mundo repleto de discursos de ódio, os coletivos universitários cada vez mais são realidade e dão oportunidade de acesso à informação e conhecimento.

O Instituto Avon realizou uma pesquisa sobre violência nas universidades e mostrou que 56% das universitárias sofreram assédio sexual. Isso inclui cantadas e abordagens agressivas. A pesquisa é de 2015.

Quando há algum caso de denúncia, não é uma decisão unânime do coletivo feminista Maria Bonita em soltar notas de repúdio. “Quando temos que nos pronunciar sobre algum caso, discutimos em conjunto o procedimento necessário dentro do contexto, os casos se diferem entre eles”, disse a integrante do grupo, Kelli Galvão. O coletivo faz parte do curso de história e geografia da Universidade de São Paulo (USP).

A psicóloga Gilda Ribeiro já trabalhou na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), em Diadema, e vê as mulheres cada vez mais empoderadas. “A violência contra as mulheres é uma coisa histórica e cultural. O machismo vem de uma geração e foi construído. Vem mudando, mas ainda é pouco”. Ribeiro destacou a importância desses grupos na universidade como uma forma de disseminar informações e barrar o preconceito.

“Já houve alguns casos que conseguimos intervir, principalmente na questão de assédios que alunas sofreram de professores. Em um caso, recebemos inúmeras denúncias e conseguimos levar algumas adiante, inclusive entrar em processo da demissão do professor em um caso mais grave”, declarou a integrante do coletivo feminista Salto, Juliana Borba.

O coletivo Salto foi criado pelas alunas da Universidade Anhembi Morumbi, com o objetivo de suscitar e disseminar o debate feminista no ambiente universitário, atender as demandas das mulheres e se tornar um espaço seguro para troca de experiências, desabafo e ajudar no empoderamento.

A Faculdade Cásper Líbero é uma das instituições da elite de São Paulo. O estudante de relações públicas, Guilherme Brandão, é membro do coletivo Frente Casperiana LGBTe vê o grupo como uma conquista de espaço e militância dentro da faculdade.

Nesse ano, a Frente integrou a semana de comunicação da Cásper Líbero com palestras, colocando em cheque o assunto. “As reuniões vão além do ambiente universitário, buscamos abranger todas as letras do LGBT+ na sociedade em um todo. Em temas genéricos, sempre buscamos estabelecer um recorte de classes, gênero e raça, para que os debates sejam aprofundados”.

O estudante de relações internacionais Augusto Malaman foi ex-diretor do setor LGBT da União Nacional dos Estudantes (UNE) e teve uma visão macro desses movimentos nas universidades. “Há lugares que não tem organização prévia ou ideia de construção de algo, o que era rompido quando ocorria algum caso de homofobia. Nisso, eles recorriam a nós para colaborar nos processos de resistência”.

Malaman apontou que todas as formas de resistência, mesmo que não sejam vitoriosas por completo, geram mudanças em torno da sociedade universitária. Dentre as vitórias, a expulsão de professores preconceituosos foram fatos marcantes que ele vivenciou nesse período.

“Essa perseguição em sala de aula é muito frequente, há aqueles que fazem conteúdos extremamente preconceituosos, gerando desconforto e exclusão das pessoas nesses espaços e criando um ambiente tóxico, algo que é bizarro, já que o direito à educação é universal.”

O presidente da Casa 1, Iran Giusti, promoveu um encontro entre os coletivos universitários no mês de outubro do ano passado. A entidade acolhe LGBTs e mulheres em situação de vulnerabilidade. A importância do levantamento de dados e o mapeamento de casos dentro da universidade foram destacados como uma das principais ações que um coletivo deve tomar.

“A nossa cultura e estrutura social nos ensina a olhar só para um determinado espaço, levantar dados é uma forma de a gente entender de forma mais ampla mais espaços e perceber problemas que a gente pode facilmente ignorar”.  Para ele, adaptar o discurso de militância é primordial para que eles não se tornem acusatório e sim acessível e informativo.

Compreender a legislação atuante nos espaços da universidade, bem como os dispositivos e as instâncias para suas respectivas alterações é fundamental para que as lutas possam resultar em políticas universitárias para a garantia de direitos e da diversidade. “O que tem são grupos, em suas maiorias de pessoas jovens, tentando entender quais seus papéis dentro das instituições em que trabalham”, disse Giusti.

O coletivo Coloridos Mack se reúne todas as sextas-feiras e foi criado com o objetivo de dar autonomia aos LGBTs dentro desse ambiente, que segundo o integrante do grupo, Luiz Pereira, é conservador. “O Mackenzie é uma instituição presbiteriana, eles não apóiam a gente, mas pelo menos não buscam atrapalhar”.

A falta de apoio nas instituições é uma realidade nítida dentro dos coletivos. “Nunca tivemos apoio efetivo da faculdade, no máximo há alguma autorização para uma ação específica, como é o caso da Semana da Visibilidade, que acontece em parceria com os outros coletivos ou aprovação do nosso programa semanal na Radio Anhembi”, disse Borba.

A Casa 1 vai auxiliar os coletivos que já estão formatados e estabelecer pontes com pessoas que desejam criar esses espaços dentro dos seus espaços de educação. Para Malanam, a construção de aliados faz com que as coisas venham a melhorar no futuro. “O resultado de tudo que vem acontecendo hoje se dá pela organização de pessoas, a criação de pontes, evidenciando essas histórias e fortalecendo essas conquistas, esses métodos são eficazes e imprescritíveis”.

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