Estreou na quarta-feira dia, 25 de janeiro, a minissérie Todo Dia a Mesma Noite, que conta com a direção geral de Julia Rezende, direção de Carol Minêm e roteiro de Gustavo Lipsztein. A série da Netflix fala sobre a tragédia ocorrida na boate Kiss em 2013 e é baseada no livro de mesmo título da jornalista Daniela Arbex, escritora também do best-seller “Holocausto Brasileiro”, já dividindo opiniões e sentimentos dos assinantes do streaming e público em geral.
Todo Dia a Mesma Noite
Houveram muitas críticas de usuários das redes sociais afirmando que não iriam ver ou dar continuidade à minissérie, por ela ser uma obra de ficção que causa extrema comoção pelas cenas fortes que são mostradas logo no primeiro dos cinco episódios e por ser baseada em uma história real ainda muito dolorida na memória. Mas, ainda assim, a minissérie foi amplamente elogiada por milhares de pessoas que aguardavam para assisti-la desde que foi anunciada no ano de 2022.
É impossível ficar indiferente e não chorar diante das cenas que são apresentadas, assim como não se colocar no lugar de desespero e dor das vítimas, sobreviventes e pais ali representados.
Quando lemos o livro podemos imaginar a situação, mas ao ver somos impactados e podemos ter uma dimensão muito maior do que e como aconteceu.
A minissérie retrata o incêndio que aconteceu na boate Kiss na noite do dia 27 de janeiro de 2013 em Santa Maria – RS. Por ser uma obra de ficção, os atores e roteiristas têm mais liberdade na construção da trama e recontam a história em uma visão diferente da que foi mostrada em jornais e nos noticiários da época, sendo possível expressar o horror que foi para os sobreviventes e parentes enlutados pelas perdas de 242 jovens que estavam no local.
Relembre o caso retratado pela Netflix
Na noite de 27 de janeiro de 2013 a boate Kiss estava com a lotação excedida, no local estavam jovens entre 18 e 20 anos a maioria universitários da UFSM – Universidade Federal de Santa Maria.
Durante o show da banda “Gurizada Fandegueira” o vocalista usando uma luva com um instrumento pirotécnico composto de pólvora, algo não permitido em ambientes fechados, por provocar fagulhas que podem causar incêndio quando em contato com material inflamável, balançava a mão e cantava enquanto o artefato produzia faíscas muito próximo ao teto que era revestido por uma espuma não indicada para o local, causando o incêndio.
Essa espuma ao ser queimada exala uma fumaça tóxica com o mesmo composto químico utilizado na segunda guerra mundial, nas câmaras de extermínio dos campos de concentração nazista. O incêndio teria iniciado entre as 2h e 3h da manhã, não sendo alertado de imediato para que as pessoas pudessem sair em segurança do local.
Conforme o fogo ia se alastrando pelo teto o cianeto se espalhava contaminando o ambiente. A falta de iluminação adequada, todas as irregularidades existentes na boate, sem saídas de emergência, ausência de extintores e até mesmo a falta de comunicação entre os seguranças do palco e da saída dificultaram a evacuação imediata, ocasionando na morte de 242 jovens e mais de 600 feridos.
Na época, o inquérito policial indicou 28 pessoas que seriam os responsáveis pela tragédia, entre elas, autoridades locais, incluindo o prefeito Cezar Schirmer e o comandante do 4º Comando Regional de Bombeiros tenente-coronel Moisés Fuchs da cidade de Santa Maria- RS, que teriam autorizado o funcionamento da boate Kiss sem as devidas condições técnicas. Mas, destes 28 indicados, apenas 16 pessoas foram criminalmente arroladas no processo.
Do livro à minissérie
O livro de Daniela Arbex “Todo Dia a Mesma Noite – A história não contata da boate Kiss” foi escrito a partir dos depoimentos dados à jornalista pelos pais das vítimas fatais e dos sobreviventes da tragédia, em relatos intensos, fortes e de muita indignação com tudo que foi exposto das irregularidades na boate, com a omissão das autoridades e desprezo com as vidas que estavam no local.
Diferente do que se espera em uma série documental que conta com depoimentos e cenas mostradas em noticiários e jornais, a minissérie ficcional é uma obra mais visceral, detalhando toda emoção em cenas que tentam retratar o que de fato houve no instante que aconteceu.
Talvez por esse motivo pessoas mais sensíveis às imagens tensas e dolorosas não tenham conseguido entender a necessidade da obra de tentar ser o mais fiel possível ao real. O contexto não fica somente no antes ou durante o incêndio, mas mostra a devastação que ficou nas vidas das famílias após a tragédia e a incansável luta por justiça que já se arrastam há 10 anos.
A mesma sensibilidade presente na escrita de Daniela Arbex foi respeitada e captada pelo roteirista Gustavo Lipsztein, que soube colocar empatia sem estereotipar ou tirar a dignidade dos envolvidos.
No Top 10 do streaming, ocupando o primeiro lugar em séries no Brasil na Netflix, a minissérie “Todo Dia a Mesma Noite” é um grito de alerta sobre a necessidade de existir uma fiscalização mais rigorosa em ambientes onde há aglomeração de pessoas, além de garantir que os estabelecimentos sigam os padrões exigidos pelos órgãos públicos para funcionamento e que as normas de segurança sejam respeitadas. Sendo também uma forma de exigir que a justiça aconteça, pois após 10 anos da tragédia as famílias ainda aguardam que os acusados sejam punidos.
Ficha técnica da minissérie
Elenco: Paola Antonini, Thelmo Fernandes, Débora Lamm, Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Nicolas Vargas, Leonardo Medeiros, Laila Zaid, Bel Kowarick, Raquel Karro, Erom Cordeiro, Flávio Bauraqui
Roteiro: Gustavo Lipsztein
Direção geral: Julia Rezende
Direção: Carol Minêm
Gênero: Drama biográfico
Classificação indicativa: 16 anos
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Por Inglid Martins – Fala! Universidade Estácio de Sá – SP