Não existe uma definição fechada sobre o que é o alternativo. Dinho, vocalista do Boogarins, demonstra isso ao falar sobre o estilo musical da banda: “a gente aceita o que os outros botam em nós, mas ao mesmo tempo fazemos música de tudo quanto é jeito”. Entretanto, um conceito bastante aceito é o underground, ou seja, artistas que não atingem as massas, composto em sua maioria por músicos independentes.
Em 2021, segundo o Spotify, aplicativo de música mais usado no país, os gêneros musicais mais ouvidos no Brasil foram o sertanejo, dominando as três primeiras colocações com as suas variações e logo em seguida o funk e o pop. Por estarem em destaque atualmente, esses gêneros dominam o cenário de mainstream, que é um título dado aos estilos de música que estão em alta.
Mesmo que a maioria dos artistas não pertençam ao mainstream musical, eles não cantam sempre almejando o sucesso. “Eu já sabia que não ia ser algo comercial, que tocava nas rádios, mas eu ia fazer algo que eu gostava”, diz Matheus Who, cantor indie independente. Dinho segue o mesmo pensamento ao afirmar que “mesmo quando a gente tocava só final de semana em Goiânia, brincando, era um sonho”.
A seguir, saiba mais sobre a música underground.
Underground no contexto brasileiro
No Brasil, a música alternativa pode se beneficiar de leis de incentivo à cultura. A mais famosa delas é a Lei n° 8.313, promulgada em dezembro de 1991, chamada Lei Rouanet. Essa lei possibilita que empresas invistam em arte e cultura fazendo doações ou patrocinando projetos, o valor aplicado é descontado do imposto de renda.
Segundo Dinho, o início de sua carreira, com sua primeira banda em 2010, foi marcado pelo uso da lei, sua primeira gravação foi em estúdio patrocinado pela Petrobras. O cantor também afirma que muitos grupos e artistas da época se beneficiaram dos estímulos governamentais de incentivo à cultura: “A maioria dos festivais que as bandas alternativas tocavam vinham desses editais de políticas públicas”.
As principais alterações de 2019 na Lei Rouanet fizeram com que o processo para aprovação do benefício fosse mais criterioso e abaixaram o teto de captação de um projeto de 60 milhões para 10 milhões. Entretanto, o que afetou a música underground foi a redução dos editais públicos para festivais e gravações que aconteceu quando transformaram o Ministério da Cultura em secretaria subordinada ao Ministério do Turismo, também em 2019.
Independência artística
A ideia de independência é extremamente tentadora para alguns, mas no ramo musical ela não está tocando no palco principal. “É muito difícil você encontrar lugares para tocar, marcas e pessoas que podem investir em arte, mas talvez não invistam só porque você faz tudo sozinho”, diz Matheus Who. Além disso, Dinho comenta que muitas pessoas acham que vida de artista é vida de artista, mas é um trabalho que se você não persistir todos os dias ele vai falir.
Além disso, nem sempre é opção do artista ser independente. A falta de recursos leva-os a trabalhar sozinhos, como é o caso do Matheus. “Essa paixão por produzir arte e a vontade de querer fazer acontecer é muito maior do que esperar dois anos para uma gravadora poder gostar de mim”, declara Matheus Who.
Contudo, a autonomia não traz somente coisas ruins, como declara o cantor indie: “apesar de me trazer muita dificuldade eu sinto que me gera uma conexão muito mais profunda com as pessoas”. Para mais, ele relata que experienciou muitas coisas boas e acredita que se tivesse um contrato que o limitasse, ele não estaria no lugar onde se encontra.
Cenário Goiano
Apesar de Goiânia ser considerada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, como capital nacional da música sertaneja, a capital goiana contém um cenário desenvolvido de música alternativa. A maioria dos festivais musicais goianienses, como o Bananada e o Vaca Amarela, são voltados para o underground. Além disso, segundo Dinho, a maioria dos shows feitos em espaços públicos, como o Martim Cererê, eram desse gênero.
Mesmo que em Goiânia existam casas de show de música alternativa, Dinho afirma que algumas ficam insustentáveis: “É muito difícil manter uma casa de show, a galera acaba gostando mais de cover, daí as bandas ficam no dilema de tocar música autoral ou fazer cover mesmo”. Para o cantor, a questão financeira acaba sendo tão difícil que muitas bandas, assim como ele no início, tocam pela diversão, em troca de uma bebida ou do dinheiro para ônibus.
A pandemia agravou ainda mais a questão financeira de inúmeras casas de shows, bares de música ao vivo e de festivais musicais. Em janeiro de 2022, a Associação Brasileira dos Promotores de Evento publicou uma carta aberta contra o cancelamento de eventos, pois além do prejuízo econômico existe uma ruptura no desenvolvimento cultural. Atualmente, a música alternativa se apoia nas redes sociais e na esperança de conseguir sobreviver.
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Por Amanda Chaves e Teresa Prado – Fala! UFG