“Óbito também é alta”, ocultação de mortes, manipulação de estudos, tratamento precoce e negligência. Esses são alguns dos escândalos envolvendo a operadora de saúde Prevent Senior que lotam as manchetes dos jornais. Neste texto, o Fala! te ajuda a entender tudo sobre a investigação e as suspeitas envolvendo o caso.
Prevent Senior: Um dos maiores casos de corrupção na saúde brasileira
Em 1990, os irmãos Eduardo e Fernando Parrillo criaram a empresa de assistência médica Prevent Senior, com o propósito de atender especificamente a população idosa. Atualmente, segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), a empresa é o nono maior plano de saúde do país.
Ainda no início da pandemia, ela foi investigada pelo Ministério Público por conta do alto número de óbitos por Covid-19. Em abril de 2020, 58% dos óbitos pelo vírus no estado de São Paulo estavam concentrados nos hospitais da Prevent Senior.
A operadora virou alvo da CPI da Covid, em 2021, após a revelação de um dossiê, escrito por ex-médicos do plano, que levantava suspeitas de atuação irregular nos estudos envolvendo o chamado “Kit Covid”, coquetel de medicamentos, como cloroquina e ivermectina, sem eficácia comprovada contra a Covid-19.
No dossiê, é apresentado um estudo de testes com hidroxicloroquina e azitromicina conduzido pela equipe da Prevent Senior. Foram inseridos 636 pacientes no estudo, dos quais 412 receberam o Kit Covid e 224 não receberam, servindo como um grupo de controle. O relatório “oficial” constata que a necessidade de hospitalização era três vezes maior nos que não tomaram o coquetel e que ocorrerem apenas duas mortes no estudo, ambas no grupo que tomou o coquetel.
Uma planilha também apresentada no dossiê mostra uma situação mais grave, na verdade, foram registradas 9 mortes no estudo, 6 do grupo que fez uso do coquetel e 2 do grupo controle. A última morte não tinha informações. Os médicos relataram à CPI terem sido obrigados a prescrever o tratamento precoce para os pacientes. Um deles chegou a denunciar o caso para a imprensa, mas foi ameaçado pelo diretor executivo da Prevent, Batista Junior, que nega as acusações.
O dossiê também apresenta denúncias de omissão da causa morte nos obituários. Um dos casos que viralizou foi o de Regina Hang, mãe do empresário Luciano Hang, das lojas Havan, que foi internada na rede Prevent Senior em primeiro de janeiro de 2021 com Covid-19 e recebeu o Kit-Covid. Ela faleceu em 3 fevereiro, e em seu atestado de óbito a causa consta como “disfunção de múltiplos órgãos e choque distributivo refratário”.
Na CPI, Batista Junior se negou a falar sobre esses casos, argumentando que não teria autorização das famílias. Outro ponto que viralizou foi a frase “óbito também é alta”, dita pela advogada Bruna Morato, defensora dos médicos que apresentaram o dossiê. As denúncias afirmam que a operadora sugeria reduzir os níveis de oxigênio dos pacientes internados nas UTIs (Unidade de Tratamento Intensivo), para liberar leitos.
A Prevent Senior, por sua vez, nega as acusações e defende que o dossiê visa desgastar a imagem da empresa. Em fase final, o relatório da CPI da Covid alega que a Prevent Senior e o Governo Federal têm uma convergência de interesses no tratamento precoce. No relatório, o Senador Renan Calheiros afirma que a Prevent é “parte do pacto, da associação sinistra na cúpula do governo brasileiro que, sob o lema ‘o Brasil não pode parar’, resultou na morte de milhares de brasileiros.”
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Por Julia Magalhães – Fala! UFSC