Patrícia Marxs presta consultoria gratuita e on-line a mulheres que buscam acesso a métodos contraceptivos mais eficazes e discute sobre a maternidade
Patrícia Marxs é advogada, ativista da causa dos direitos reprodutivos e sexuais da mulher e fundadora da página “Laqueadura sem filhos, sim” no Instagram. Desde a tenra idade, ela contraria os padrões impostos às meninas de sua idade: suas brincadeiras favoritas eram as consideradas de menino, ou quando brincava de boneca, preferia as Barbies que possuíam profissões. Patrícia detestava fingir que bonecas eram suas filhas, bem como brincar de atividades domésticas. Aos 32 anos, a advogada escolheu ser esterilizada para descartar a possibilidade de ser mãe.
Durante a juventude, ela observava e percebia que muitas meninas ficavam grávidas sem planejamento, e então ouvia das pessoas ao redor: “é Deus que manda”. Por causa disso, Marxs preferia não ter relações sexuais para não correr o risco de vivenciar o seu maior pesadelo. Ela até namorava, mas quando o relacionamento avançava para uma fase mais íntima, a jovem rompia a relação com receio de uma possível gravidez.
Aos 25 anos, a advogada se casou e viveu um relacionamento abusivo, no qual seu antigo companheiro escondia as pílulas de seu contraceptivo para ela engravidar. Segundo a ativista, ele era possessivo e ciumento e ela pensou que jamais conseguiria romper a relação, por possuir um apego emocional muito forte ao antigo parceiro. No entanto, Patrícia alcançou o divórcio e, alguns anos depois, conheceu Vinícius Lima, seu atual companheiro, que respeitou sua vontade e seu corpo. A ativista ouvia que a atitude do ex-marido era fofa, pois ele desejava avidamente ter um filho seu, mas ela sempre soube que aquilo não era amor. “Fofo? Esconder meus remédios para eu engravidar contra a minha vontade? Isso não é amor, é posse”, afirma a advogada.
Antes da esterilização, Patrícia implantou um Diu Mirena, que possui 0,2% de taxa de falha ao ano. Mesmo assim, a ativista não conseguia ter paz, pois, para ter uma vida conjugal, profissional e pessoal plena, ela precisaria de total garantia. Pensando nisso, ela também descartou a possibilidade da laqueadura tradicional, pois esta tem taxa de falha de 2% em dez anos. Foi aí que optou pela esterilização, procedimento eficaz e irreversível. Seu parceiro atual respeitou sua vontade e, hoje, ela está completamente realizada com a nova relação e o procedimento contraceptivo que trouxe segurança e autonomia sobre seu próprio corpo.
Marxs afirma que sempre foi muito julgada pelas pessoas à sua volta, família, amigos e, hoje, nas redes, sofre muitos hates por defender os direitos sexuais e reprodutivos da mulher publicamente. Apesar disso, ela não deixa se abater, pois acredita que imposições sociais culturais devem ser desconstruídas, e é somente por meio do conhecimento das leis e da militância que isso vai se tornando possível.
Militância sobre métodos contraceptivos e maternidade nas redes
Ao ser perguntada sobre como surgiu a ideia de criar uma página on-line para ajudar outras mulheres nos processos legais de acesso aos métodos contraceptivos, ela informou que anteriormente participava de grupos antinatalistas que a ajudou a princípio, mas que careciam de pesquisadores do tema, tinham muitas informações desencontradas e também não acolhiam mulheres que abraçam a maternidade. Ela, então, procurou por páginas que tratassem de métodos contraceptivos com um perfil mais humanizado e não encontrou, foi aí que teve a vontade de criar sua página no Instagram contendo essas características.
A página “Laqueadura sem filhos sim” tem, atualmente, cerca de 60 mil seguidores, mas Marxs afirma que seu engajamento ultrapassa esse número, pois muitas mulheres interagem, mandam mensagens, tiram dúvidas, mas não a seguem por medo de serem criticadas.
Segundo a advogada, a militância é necessária, pois, em sua opinião, existem pontos da lei que deveriam ser alterados, como o processo que está em tramitação, o nº 107/18, que tenta alterar a Lei do Planejamento Familiar para retirar a exigência de que o cônjuge autorize a laqueadura ou vasectomia. Além disso, Patrícia afirma que boa parte do que está na legislação não é aplicado na hora da execução do direito. Por este motivo, muitas mulheres são impossibilitadas do acesso aos métodos contraceptivos.
Outra questão debatida pela ativista em seus trabalhos é a cultura da esterilização compulsória, que é proibida por lei, mas segundo ela, infelizmente, ainda é aplicada irregularmente. “Avaliam a condição financeira da pessoa e aí realizam um procedimento invasivo e irreversível, mais uma vez tirando a autonomia da mulher.” O ativismo de sua página, de uma forma geral, atende e busca proteger a maternidade por escolha. Não é apenas sobre não querer ser mãe, mas sobre abrir um espaço para debater o tema maternidade e sempre respeitar a decisão e o corpo da mulher.
A importância do ativismo de Patrícia
A maternidade compulsória é uma característica da cultura patriarcal, que defende que a mulher é incompleta se não tiver filhos. Nesta visão, a autonomia feminina é completamente negligenciada, pois a teoria prega a existência de um instinto materno, ou seja, algo biológico e irrefutável, que todo ser feminino “normal” deveria ter.
O que ocorre na realidade, e principalmente nos dias de hoje, é que nem todas as mulheres têm a maternidade como algo a ser alcançado na vida. Por este motivo, pautas como as defendidas pela advogada Patrícia Marxs estão muito presentes nos debates midiáticos, dramaturgos, cinematográficos e no meio digital, informando que o acesso aos métodos contraceptivos não devem ser limitados sob argumentos que não consideram a autonomia da mulher, pessoas que escolhem não serem mães não devem ser julgadas por isso, e as que abraçam a maternidade precisam ter todos os direitos de acesso, trabalho e de cuidado com os filhos garantidos.
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Por Bianca Rafaela da Silva – Fala! Anhembi