A canjica é uma iguaria típica da culinária nordestina e o prato tradicional da festa junina, mas veio de outros países e é usada também em outras formas de rituais religiosos.
Nas tradicionais festas juninas pelo Brasil, é possível encontrar várias comidinhas tradicionais, como pé de moleque, pamonha, quentão e afins. Todos elas são irresistíveis, mas ninguém consegue superar o prato mais desejado pelos festeiros de São João: a famosa canjica.
Apesar de ser muito amada por vários cantos do nosso país, esse prato típico não é de origem brasileira, e sim uma herança cultural vinda, a princípio, da África. A especiaria foi muito consumida pelos escravos, uma vez que era mais barata e fácil de fazer.
O milho é um ingrediente usado na produção de diversos pratos da longa tradição da culinária brasileira. Muitos países utilizam em suas receitas, trazendo dúvidas quanto à raiz da origem da canjica. Porém, uma coisa é fato: o sabor do milho é inquestionável e o mês de junho é perfeito para provar uma canjica tipicamente brasileira, com origens africanas.
Origem da canjica
O sociólogo Gilberto Freyre foi um dos primeiros a se debruçar sobre a origem da canjica. Conforme ele, a canjica é o prato de procedência nativa. Assim, seria enquadrada na lista das contribuições culinárias dos índios ao cardápio nacional.
A canjica, ao lado da moqueca, da paçoca, do mingau, do beiju, da carne moqueada, seria uma deliciosa herança dos Tupinambás, índios brasileiros que habitavam o litoral, quando os europeus chegaram nos começos do século XVI. O estudioso recifense concebe a canjica como sendo derivada do termo tupi “acanjic”. Infelizmente, Freyre não indica a fonte da sua explicação etimológica. A favor da tese do autor, temos o fato de que o milho, matéria-prima principal da canjica, é cereal de comprovada origem sul-americana.
Contrapondo-se à explicação dada por Gilberto Freyre, temos a opinião de estudiosos da língua portuguesa. Para esses peritos, o termo canjica não é indígena, veio importado da África junto com os escravos. Para Nei Lopes, o termo que batiza o nosso prato junino tem origem no quicongo, língua falada no Congo e na Angola. O dicionarista vê no termo uma metamorfose de “Kanzika”, papa grossa de milho cozido.
Em suma, existem várias histórias relacionadas ao surgimento da canjica. O único fator decisivo nesse caso, portanto, é que não estamos falando de uma comida inventada no Brasil.
No entanto, apesar de vir de outro país, a receita é parte fundamental de umas das festas mais tradicionais brasileiras, a festa junina, como já mencionamos. O milho, sobretudo nas festas de São João (como também são chamadas as festas juninas), são bases da produção no país. Em 2017, portanto, chegamos ao recorde de 97 milhões de toneladas deste cereal.
A partir da etimologia da palavra “canjica”, temos 3 possíveis derivações, vindas dos Tupinambás, da Índia e do quimbundo, língua falada na África, na região da Angola.
Outros nomes para a famosa canjica
O Brasil abriga grandes diversidades de culturas. Há lugares, por exemplo, que usam outras palavras para nomear a canjica. Nas regiões Norte e Nordeste, por exemplo, o prato é entendido como mingau, e tem o nome de Mungunzá. Já, na região Sudeste do Brasil, o nome do prato feito de milho branco cozido é canjica. Como também é conhecida no Centro-Oeste.
O preparo é típico de festejos das religiões de matrizes africanas. Normalmente, mungunzá, ou mucunzá, é a palavra usada pelo povo de santo para a comida em rituais votivos. Como já mencionamos, a canjica passou por várias culturas e foi acrescentado, sobretudo, novos ingredientes. Portanto, temos receitas diversificadas desse prato.
Mas vale ressaltar que as mais tradicionais receitas são doces e, como de costume, têm o amendoim em suas receitas. Logo, não se desespere se esta não é sua versão preferida. Ainda há receitas de canjicas brancas, que não levam esse ingrediente. Afinal, é optativo colocá-lo ou não.
Receita da Canjica Nordestina
Ingredientes:
- 20 espigas de milho grandes e de boa consistência;
- 2 cocos médios;
- 1/2 xícara rasa de manteiga;
- Açúcar a gosto;
- 1 pitada de sal.
Modo de preparo:
A partir do coco ralado e passado na peneira, extrai-se: um leite ralo, acrescentando-se um pouco de água; e um leite grosso. Reserve.
Rale o milho e passe em uma peneira grossa, somente para tirar o bagaço. Em seguida, bata no liquidificador com um pouco de água. Passe na peneira o líquido obtido. Acrescente água, se for necessário, e passe mais 2 vezes na peneira de nylon, para a canjica ficar bem fina.
Leve ao fogo esse caldo, junto com o leite ralo do coco, o açúcar, o sal e a manteiga, mexendo sempre. Quando o mingau endurecer, adicione o leite grosso do coco e mexa até ficar no ponto.
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Por Sabrina Ferreira – Fala! Centro Universitário Brasileiro de Pernambuco – Recife