Dezenas de milhares de pessoas estão indo às ruas de Mianmar para protestar contra um golpe militar. As informações mais recentes expõem a repressão por parte da polícia, que está usando balas de borracha, gás lacrimogêneo e jatos d’água contra manifestantes. Até o fim desta apuração, quatro pessoas foram feridas.
O país do Sudeste Asiático chegou a essa situação tensa depois que militares anunciaram, em 1º de fevereiro, que haviam tomado o poder. Antes disso, eles prenderam a líder política Aung San Suu Kyi e outros membros importantes do seu partido.
Os militares declararam estado de emergência de um ano no país e passaram toda a autoridade ao comandante do Exército Min Aung Hlaing. Eles disseram que haverá eleições “livres e justas” após o fim do estado de emergência.
Contextualizando o golpe de Mianmar
A última eleição geral de Mianmar, realizada em novembro, teve como resultado uma vitória esmagadora da Liga Nacional para a Democracia, partido de Suu Kyi.
Os militares apoiaram a oposição, que foi derrotada nas urnas e alegou fraude. A comissão eleitoral disse que não havia evidências que sustentassem essas acusações. O golpe ocorreu justamente quando foi marcada a sessão no Parlamento que aprovaria o resultado da eleição e o novo governo.
Suu Kyi e colegas de partido estão em prisão domiciliar. Em carta escrita antes de ser detida, ela pediu a seus partidários “que não aceitem isso” e “protestem contra o golpe”.
Repressão aos protestos em Mianmar
Os atuais protestos são os maiores desde a chamada “Revolução Açafrão” de 2007, quando milhares de monges budistas participaram do movimento contra o regime militar daquela época.
As manifestações contam com a adesão de várias parcelas da sociedade. Apesar disso, estão sendo fortemente reprimidas. Os militares impuseram várias restrições à população, incluindo toque de recolher e limite de reuniões. Soldados estão nas ruas da capital, Nay Pyi Taw, e de outra cidade importante, Yangon.
Além disso, houve problemas na comunicação do país. Serviços de telefonia e de conexão com a Internet foram interrompidos várias vezes depois do golpe.
Reação internacional
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse que o que ocorreu em Mianmar foi um “golpe sério nas reformas democráticas”. Sobre a violência contra manifestantes, a ONU pediu às forças de segurança de Mianmar que respeitem o direito das pessoas de protestar pacificamente.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ameaçou restabelecer sanções ao país. Reino Unido, União Europeia e Austrália condenaram o golpe militar.
A China bloqueou uma declaração do Conselho de Segurança da ONU que condenaria o golpe. O país pediu a todos os lados que “resolvam as diferenças”. Países vizinhos, incluindo Camboja, Tailândia e Filipinas, disseram que se trata de um “assunto interno”.
História recente
Mianmar, antiga Birmânia, foi colônia do Império Britânico entre os séculos XIX e XX. Foi ocupada também pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. O país conquistou a independência em 1948.
Desde então, foi governado pelas forças armadas por um longo período, entre 1962 e 2011. O regime dos militares teve suporte da China enquanto era condenado por países do Ocidente.
Aung San Suu Kyi teve papel central na luta para restabelecer a democracia no país. Ficou mundialmente conhecida ao receber o Prêmio Nobel da Paz em 1991, enquanto estava presa por combater a ditadura da época.
A eleição vencida por seu grupo político no ano passado foi apenas a segunda desde o fim do regime militar.
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Por Igor Magalhães – Fala! Universidades Federal do Ceará