O bombardeado de informações que o público recebe, seja em redes sociais, telejornais, jornais impressos, demonstra a facilidade com que as coisas podem ser recebidas e interpretadas nesses tempos. Como analisa o filósofo Marshall McLuhan, já nos anos 60, sobre as novas mídias: “Iremos viver em uma espécie de aldeia global. O mundo se tornará uma pequena aldeia, onde todos poderão falar com todos e o mais insignificante dos rumores poderia ganhar uma dimensão global.”.
A pandemia trouxe uma demonstração bem explícita do funcionamento dessa teoria. Analisando os últimos discursos de Jair Bolsonaro (sem partido), surgem dúvidas sobre a forma de comunicação que ele resolve adotar e as possíveis consequências das suas frases.
No dia 19/12/2020, Jair alegou que não se justifica a pressa pela vacina, desde que a pandemia já estaria chegando ao fim e, caso ele se mostrasse com senso de urgência, iriam culpá-lo após um tempo por irresponsabilidade. Entretanto, no início dos altos casos de Covid, a ideia do uso da cloroquina, sem aprovação científica, foi extremamente abraçada pelo presidente, fazendo parte de seus discursos e, até mesmo, sua rotina, segundo o próprio.
Em 27/12/2020, declarou a pressa pela vacina, gratuita e não obrigatória. Ao mesmo tempo em que afirma cuidado, suas atitudes parecem cada vez mais discordantes dessa última fala, querendo sempre arrumar uma nova forma de ir contra a ciência, principalmente estrangeira, ficando claro para onde esse tipo de pensamento pode estar indo.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em uma de suas falas, aparenta uma certa preocupação com as duas principais pendências, a importação da vacina e a capacidade de suprir o Sistema Único de Saúde:
“A grande capacidade de compra será do que é fabricado no Brasil. Uma vez atendida essa demanda, já o SUS sendo atendido, sim, claro que não há (complicações em importar vacinas) e deve ser comprada também pela iniciativa privada”. Conjuntamente, é compreensível a inquietação, depois da narração de Bolsonaro sobre o “Brasil está quebrado” e o mesmo não poder fazer nada.
Contudo, o que vem sendo observado em seus pronunciamentos desde o início, é o fato de sempre culpar alguém e não assumir responsabilidades. Em janeiro de 2021, culpou Pazuello, dizendo que ele não dava conta de mais nada (seria apenas mais um ministro que ele não soube escolher?), mantendo-se firme em seu posicionamento contrário à imunização.
Poder do discurso antivacina
É interessante ponderar sobre o poder que um discurso possui, como pequenos atos podem se mostrar catastróficos, sendo um grande exemplo, as redes sociais. Espalhar informações falsas já é uma rotina conhecida, coisas como: “Se eu não tomar vacina, vou infectar quem já foi vacinado?”, “Não somos cobaias”, continuam aparecendo, principalmente divulgadas por apoiadores do atual presidente da República.
Apesar de parecer uma resposta óbvia, não, não é esse o motivo. Pessoas que não podem tomar, seja por alergia, falta de acesso, doenças, acabam ficando vulneráveis e se prejudicam com um rumor da Internet.
Indubitavelmente, o movimento antivacina ganha forças com discursos extremistas sem fundamentos, com teorias que parecem uma verdadeira piada. Enquanto o lado pró-vacinação vence com a ciência, a guerra da mídia está pesando na balança dos cientistas.
Ao estudar sobre comunicação social, sempre é tocada a tecla do modo como as notícias e/ou informações são repassadas e, principalmente, sobre o tipo de público que o comunicador quer atingir. Escrever artigos acadêmicos, utilizar linguagens complexas não vão ajudar a despertar o interesse da parcela da população que, por qualquer motivo, não consiga compreender textos árduos.
As pessoas precisam se identificar com o que está sendo passado, ou seja, cientistas e acadêmicos, no geral, precisam mudar a forma com a qual estão abordando o assunto da vacina, conquistando uma atenção maior, dessa forma, engajando o discurso científico. O discurso antivacina não pode ser combatido como uma coisa inofensiva, que apenas circula naquela bolha, pois o mal causado não é somente a elas, mas envolve a vida de outras pessoas. Quem não se vacina, contribui para a disseminação e mutação do vírus.
______________________________
Por Bianca Viana – Fala! Faculdade Mauricio de Nassau – PE