A pandemia do novo coronavírus vem ameaçando não só o bem-estar dos humanos, mas também dos animais domésticos. Em meio ao aumento das fake news acerca da doença, muitas pessoas chegam até a acreditar que cães e gatos podem espalhar o vírus, o que resultou no abandono e até no sacrifício de muitos animais de estimação.
Por outro lado, enquanto aumentava o número de abandonos, mais solitários, os humanos também buscavam por uma companhia em meio a quarentena. Cresce, portanto, o número de adoções no país. É nesse “novo normal” que os pets enfrentam o desafio de se adaptarem a uma nova rotina com seus tutores e, assim como os humanos, à novas práticas de higienização.
Uma via de mão dupla: o aumento do abandono e o crescimento da adoção
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, no Brasil, exista mais de 30 milhões de animais abandonados. Sendo cerca de 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Na pandemia, o número de animais abandonados vem crescendo exponencialmente.
Acredita-se que parte desse abandono seja consequência da desinformação, muitos tutores acreditaram que cães e gatos poderiam transmitir a doença. No entanto, é importante alertar que o Centro Pan-Americano de Febre Aftosa e Saúde Pública Veterinária da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (PANAFTOSA-OPAS/OMS) e a Proteção Animal Mundial garantem que não há evidências científicas de que animais de companhia (cães e gatos) possam infectar humanos. Também não há a evidência de que cães possam ficar doentes e a infecção em gatos está sendo investigada.
Outro fator que, possivelmente, fez crescer o abandono de pets é a instabilidade financeira que muitas famílias estão passando durante o período pandêmico. No entanto, há sempre o alerta de que animais domésticos, quando afastados de seus donos, podem vir a desenvolver diversas doenças psicológicas, como ansiedade e depressão, e que gastos devem ser calculados antes de adotar um animal de estimação.
Em entrevista para a Agência Brasil, a ONG Toca Segura, que atua há 3 anos com resgate, acolhimento, tratamento, castração e encaminhamento de cães de rua a famílias em condições de adotar um animal doméstico, acredita que muitas pessoas têm usado a pandemia como desculpa para abandonar seus pets quando, na verdade, a motivação para essa “atitude criminosa” é apenas a constatação posterior de que ter um animal doméstico é algo que dá trabalho e requer muita atenção.
Entretanto, solitários durante a quarentena, a necessidade de ter um melhor amigo de quatro patas também aumentou para os humanos, o que fez crescer o número de busca por adoções em 2020. A Agência Brasil também entrevistou Rodrigo Menna Barreto, o gerente de Vigilância Ambiental de Zonooses no Centro de Zoonoses do Distrito Federal. De acordo com o veterinário, entre os meses de janeiro e setembro de 2020, o número de adoções foi maior que o dobro do registrado em todo o ano anterior, quando a pandemia ainda não havia chegado ao País.
É importante alertar que a adoção deve ser feita de forma responsável, em entrevista para o G1, Katy Torczynnowski, 45 anos, proprietária de um gatil com mais de 50 gatos resgatados, diz que se preocupa com o aumento da procura e, por isso, faz uma série de perguntas e acompanha de perto o processo de adaptação do animal.
Apesar de ser uma coisa boa, algumas pessoas estão nos procurando por uma urgência temporária. Elas estão sentindo a solidão da quarentena e resolveram adotar um animal para suprir isso, mas estamos lidando com uma vida.
Adaptação ao “novo normal” por conta da pandemia
A saúde mental dos pets deve ser uma das principais preocupações durante a pandemia. Assim como os humanos, os animais domésticos tiveram mudanças bruscas em suas rotinas, o que pode vir a afetá-los psicologicamente.
Segundo a médica veterinária especializada em felinos, Natássia Miranda, para a Agência Brasil, animais que viviam muito sozinhos, principalmente cães, se mostraram mais felizes com a presença dos donos em casa. A veterinária explica que cães se sentem melhor quando acompanhados.
No entanto, o veterinário e apresentador, Alexandre Rossi, conhecido como “Dr. Pet”, falou com exclusividade para a revista eletrônica ComCiência que, para evitar problemas de comportamento quando o isolamento acabar, há uma necessidade de acostumar os cães com pequenos intervalos de separação de seus tutores. Para que eles lidem melhor com a separação depois da quarentena.
Já para os felinos, a mudança na rotina foi um pouco diferente, segundo a veterinária Natássia Miranda. “Alguns gatos se mostraram incomodados devido à mudança na sua rotina. E, se tem uma coisa que o gato não gosta, é de mudança na rotina. Isso acaba influenciando na alimentação, ingestão hídrica e até mesmo na eliminação de urina e fezes, trazendo problemas importantes de saúde”.
Além da adaptação de rotina, os animais também enfrentam a adaptação aos males do novo coronavírus. O passeio se tornou mais difícil, uma vez que são necessários cuidados básicos de higienização após qualquer saída na rua. O alerta vem do médico veterinário Domingos Albino Pereira, associado ao Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet).
Em entrevista para a revista A Lavoura, o médico diz que a higiene das patas é essencial sempre que retornar da rua: “Com água e shampoo específico para os pets, ou uso de sapatos e meias específicas que sejam lavadas após o passeio”. O médico também lembra do uso do álcool em gel e de lavar as mãos após brincar com o animal.
A médica veterinária Mabel Previdi, também associada ao Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (NucleoVet), afirma que manter as prevenções básicas também é de extrema importância. Nesse sentido, estar com a carteira de vacinação do pet em dia, além de prevenir doenças, muitas delas zoonoses, também evita idas desnecessárias e exposições a consultórios veterinários, que estão reabrindo aos poucos com a flexibilização em alguns Estados. O animal saudável, segundo ela, é a melhor companhia neste período.
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Por Maria Júlia Melo – Fala! Uerj