Há quem diga, e afirme, que o feminismo é o machismo inverso e que, assim, a opressão apenas vai mudar de lado, mas não vai deixar de existir. Existem também aqueles cujas mentes inventivas e ilimitadas criam personagens de caráteres que transitam entre o épico e o mitológico para ilustrar, sempre pelo viés obscuro do medo, o perfil daqueles (ou melhor seria dizer daquelas, já que a caça às bruxas nunca caiu no esquecimento) que por irreverência, descuido ou ingenuidade “tropeçam” na luta pela conquista e pela garantia de direitos, respeito e igualdade da mulher.
O feminismo nada mais é, embora seja esta uma explanação extremamente simplista, do que o desejo feminino de fazer parte, de pertencer a uma sociedade na qual seus anseios sejam considerados; sua integridade física e moral seja respeitada; sua capacidade, não importa em qual âmbito, não seja medida, avaliada ou recompensada injustamente; que a sua liberdade de escolha, de ir e vir não seja cerceada; na qual seja ela proprietária e senhora exclusiva e absoluta do próprio corpo; que possa conviver sem o medo constante ou permanente de ser agredida ou morta somente pela condição de ser mulher.
Influência do patriarcado
Fortemente enraizado cultural e socialmente, o patriarcalismo associado ao capitalismo ainda é o maior responsável pela discrepância na educação direcionada a meninos e meninas desde o nascimento até a entrada na vida adulta, definindo padrões de comportamento e obrigações que começam ainda na primeira infância, desde a escolha de roupas, objetos e brincadeiras, até a diferença de tratamento empregada a cada gênero no decorrer da vida.
Temido sem ao menos ser conhecido ou devidamente explorado, o feminismo sofre grande preconceito pela classe masculina. Acredita-se ainda na sobreposição de papéis, pela cansativa insistência em manter e fomentar a estereotipação de gênero; na perda de privilégios e regalias, quando reivindica-se apenas a divisão justa de tarefas e a assunção de responsabilidades; na perda de poder pela completa dominância do gênero feminino em detrimento do masculino (em referência ao mito da tribo das Amazonas que eram autossuficientes, que escravizavam homens e outros), por medo de ver acontecer com eles o que aconteceu com todas as mulheres no decorrer dos milênios e ainda acontece; dentre outras lendas inacreditáveis que permeiam o imaginário masculino e feminino, em contribuição à desinformação, ao desconhecimento e à misoginia.
Tem muita mulher que defende com ardor garantias que não a beneficiam, ou seja, que milita pela perda dos próprios direitos. E exemplos atuais não faltam. Inclusive, é curioso e contraditório lutar contra a própria classe e contra os direitos a muito custo conquistados em benefício desta. Abster-se de decisões e posicionamentos em prol causa também não é vantajoso, como se tudo que pudesse ser feito a respeito já tivesse se esgotado ou como se tudo que se conseguiu até hoje sempre existisse. É mais do que nadar contra a maré, é lutar contra si própria.
Feminismo
Dessa forma, o feminismo surge como ferramenta, escudo e iluminação para educar, esclarecer e ratificar, primeiramente às mulheres, sua importância, valor, capacidade e força para lutar contra o sistema opressor, contra uma cultura defasada e contra uma sociedade excludente que as limita, anula e mata.
Em segundo lugar, esse mesmo feminismo também serve para educar, esclarecer e conceder aos homens a consciência de uma posição de privilégio e ausência de responsabilidades, como forma de prepará-los para integrar uma sociedade na qual o respeito à mulher, a acessibilidade, a segurança, a equidade e a liberdade sejam justa e honestamente assegurados.
O que ainda pouco se discute com profundidade fora do âmbito acadêmico é sobre como o feminismo pode vir a contribuir na relação entre homens e mulheres, mas também em relação a si próprio no que se refere à masculinidade. Ninguém nasce machista ou misógino, essas são ideias construídas em cada indivíduo no decorrer de toda uma vida, e a formação cultivada já nos primeiros anos é de suma importância.
A diferença de tratamento e educação oferecidos para meninos e meninas a princípio é o divisor de águas na construção comportamental de cada indivíduo. O afeto, a proteção e a compreensão para meninas versus a agressividade, a desproteção e a intolerância para meninos ateia a segregação sexual logo na infância, perpassa pela antagônica distribuição de papéis sociais na adolescência e deságua na inferiorização da mulher na robotização/desumanização de homens por toda uma vida.
A promoção pela desconstrução da estereotipação de gênero, pela liberdade afetiva e emotiva, pela divisão justa de encargos, pelo diálogo franco, pelo direito à voz e pelo respeito mútuo é uma luta que extrapola o feminino. O feminismo beneficia e ampara também o masculino, sem por em xeque a virilidade. Homens e mulheres são, pois, diferentes biologicamente e apenas isso. Uma educação feminista associada à educação consciente e empoderada no lar desde a idade pré-escolar pode ser uma conquista para a libertação futura e gradual de todos.
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Por Tassia Malena Leal Costa – Fala! Universidade Federal do Amapá