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Ponderações aristotélicas para o período das eleições

“Ora, em todas as coisas ordenadas a algum fim, é preciso haver algum dirigente, pelo qual se atinja diretamente o devido fim. Com efeito, um navio, que se move para diversos lados pelo impulso dos ventos contrários, não chegaria ao fim de destino, se por indústria do piloto não fosse dirigido ao porto; ora, tem o homem um fim, para o qual se ordenam toda a sua vida e ação. Acontece, porém, agirem os homens de modos diversos em vista do fim, o que a própria diversidade dos esforços e ações humanas comprova. Portanto, precisa o homem de um dirigente para o fim”.¹

A política é a esfera de realização do bem comum, dizia Aristóteles. Para o pensador grego, o campo de atuação da política apresenta uma caracterização teleológica, ou seja, é definido pela sua finalidade, a saber: a concretização da dimensão axiológica e valorativa dos preceitos morais necessários para o bem-estar geral. Aristóteles era incisivo na afirmação ética segundo a qual o bem comum somente é viável mediante a conscientização de que educação, virtude e ação política são inseparáveis. 

Educação é imprescindível para a esfera pública, pois somente pelo conhecimento, pela elucidação da realidade, é possível discernir as más práticas (os vícios) das boas condutas (as virtudes). Saber distinguir as práticas virtuosas dos hábitos perniciosos é nevrálgico para a compreensão das necessidades derradeiras da comunidade. Ademais, Aristóteles afirmava que o desenvolvimento de cidadãos virtuosos é o maior bem moral da política. Portanto, é obrigação dos líderes públicos possuírem e procurarem uma formação educacional capaz de favorecer uma visão holística acerca da moralidade, da legalidade e da justiça. 

Ora, julga-se que é cunho característico de um homem dotado de sabedoria prática o poder de deliberar bem sobre o que é bom e conveniente para ele, não sob um aspecto particular, como por exemplo sobre as espécies de coisas que contribuem para a saúde e o vigor, mas sobre aquelas que contribuem para a vida boa em geral.²

“Assim como o homem é o melhor dos animais quando aperfeiçoado, separado do direito e da justiça… ele é o pior de todos. Porque a injustiça é mais severa quando aparelhada com armas; e o homem nasce naturalmente possuindo armas para o uso de prudência e virtude que, no entanto, são muito suscetíveis a ser usadas por seus opostos. Esta é a razão pela qual, sem virtude, ele é o menos sagrado e o mais selvagem dos animais e o pior em relação a sexo e ao alimento”.³

Sendo assim, educação e virtude são inseparáveis. Outro ponto crucial abordado por Aristóteles é a relação entre vida pública e os interesses pessoais. O bom governante não se deixa levar pelos vícios da ganância, do mérito pessoal, da promoção particular nem pelo sucesso derradeiro de seus amigos e assessores. O líder público não enxerga na política um instrumento de subsistência, mas vê nela um instrumento de potencialização da justiça e dos preceitos sociais da equidade, esperança e da dignidade da pessoa humana. Como diria o pensador grego supramencionado, “Pois a verdade é que a cobiça dos homens e seu desejo de sucesso, de enriquecimento, estão entre as causas mais potentes dos atos calculados de injustiça”. 

eleições
Como as ponderações de Aristóteles podem contribuir nas eleições. | Foto: Reprodução.

Ponderações aristotélicas e eleições

Portanto, diante das observações acima destacadas, devemos ter cautela no momento de decidir quem será nosso representante na esfera pública. Sendo assim, a prudência se faz necessária. Alguns questionamentos podem servir de direcionamento, tais como: “Qual a formação acadêmica do candidato?”, “ele possui experiência em administração?”, “o candidato possui renda suficiente para não precisar depender da política para subsistência?”, “o candidato apresenta conhecimento suficiente da Lei Orgânica do Município e dos elementos basilares do ordenamento jurídico?”, “ ele apresenta ficha limpa e não se relaciona com corruptos?”, “ele compreende qual a função de um vereador e de um prefeito?” , “ele apresenta uma noção mínima de receitas e despesas?”, “o candidato tem autonomia para votar em conformidade com as reais necessidades do município ou está inteiramente vinculado aos interesses partidários?”, dentre outros. 

Os questionamentos não são vinculantes, obviamente, pois a realidade é complexa demais para se encaixar em simples respostas. Contudo, devem servir de orientação para a escolha de um candidato. Somente assim a prudência será capaz de conduzir a comunidade para a concretização dos preceitos elementares do bem comum. A ação política exige conhecimento, experiência prática, vida virtuosa e disposição para justiça. 


¹ AQUINO. T. Do reino ou do governo dos homens: ao rei do Chipre. Escritos políticos de São Tomás de Aquino. Petrópolis: Vozes, 1995 (adaptado).

² ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução: Leonel Vallandro, Gerd Bornheim. São Paulo: Abril Cultural, 1987.

³ ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Editora Martin Claret, 2015.

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Por Leonardo Leite – Reaviva Mack – Universidade Presbiteriana Mackenzie

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