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Após teorias, diretor de ‘O Poço’ explica o final do filme da Netflix

A produção do diretor espanhol Galder Gaztelu-Urrutia tem chamado a atenção dos assinantes da Netflix. Lançado em setembro de 2019, O Poço, ficção-científica protagonizada por Iván Massagué, que vive Goreng, tem uma sinopse simples, porém, alguns dos mistérios permanecem após os créditos subirem. Em entrevista ao site britânico Digital Spy, o diretor respondeu algumas delas.

O filme ganhador do People’s Choice Award for Midnight Madness no Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá, narra a história de um personagem que ficará em uma instalação por seis meses. A regra dentro do poço é clara: cada um escolhe uma comida favorita antes de entrar, então, poderá comê-la quando a plataforma com o banquete descer os 333 níveis. Na prática, porém, as coisas saem do controle, pois a partilha é totalmente ignorada em meio ao caos instaurado.

O Poço
O Poço. | Foto: Reprodução.

Esta matéria contém spoilers do filme O Poço, da Netflix.

Muitos fãs têm teorizado sobre as mensagens que o filme quis passar. E também sobre os mínimos detalhes, como o nome do protagonista, Goreng, que remete ao prato nacional da Indonésia, o nasi goreng (arroz frito).

Um consenso geral, e até óbvio (como diria um dos personagens), é que o novo sucesso da Netflix se trata de uma crítica explícita ao capitalismo. Quem está em cima não olha para baixo, quem está embaixo tem menos que migalhas para comer e quem está no meio se digladia pelos restos dos privilegiados do mês, que tiveram a sorte de estar em um dos níveis superiores.

O sistema criado pela administração promove a selvageria entre os 666 enclausurados no poço. O medo de não ter o que comer amanhã, quando estiver em um dos níveis mais baixos, faz com que os personagens esqueçam totalmente da sua humanidade.

Quão mais baixo, mais animalizados os presos se tornam, chegando a comer carne humana para se manterem vivos, porque a comida não é distribuída corretamente. Há alguns com muito, muitos com pouco e centenas com nada. Como acontece no mundo real.

Contudo, segundo o diretor, as críticas do filme não têm em foco apenas o sistema capitalista. Mais do que isso, é uma crítica aos sistemas econômicos existentes em geral, tanto ao capitalismo quanto ao socialismo.

Nós certamente acreditamos que existe uma forma de distribuição de riquezas melhor, mas o filme não é estritamente sobre o capitalismo.

Disse o diretor do longa em entrevista ao Digital Spy

Ex-funcionária da administração, a segunda companheira de nível de Goreng é uma mulher com o diagnóstico de câncer e que sabe que morrerá em breve. Imoguiri, interpretada por Antonia San Juan, tenta convencer os demais prisioneiros a comer apenas a quantidade de calorias necessárias e preparar porções para os que estão abaixo.

Contudo, a “solidariedade espontânea” que a personagem esperava não surte efeito. A partir desse ponto, Goreng e Baharat tomam medidas radicais para socializar as refeições.

Pode existir uma crítica ao capitalismo no início, mas também mostramos que quando Goreng e Baharat tentam por o socialismo em prática, apelando para a boa vontade dos demais em repartir a comida, eles terminam matando metade das pessoas que queriam ajudar.

Disse o diretor espanhol ao veículo
final de o poço
Cena do filme O Poço. | Foto: Reprodução.

No final, é onde mora a maior parte das teorias, já que a trama termina em aberto. Seria Goreng uma espécie de mártir dentro do poço? A criança, procurada desde o início por sua mãe, seria fruto de um delírio após tanto sofrimento? Muitas perguntas ficaram no ar e o público e a mídia especializada teceram teorizaram sobre elas. 

Em vídeo explicando o final do filme, a dupla do Omelete, Fabio Gomes e Load, apresenta duas interpretações diferentes. Na primeira, a criança teria chegado à administração após ter comido a panna cotta, levando assim a mensagem de que o sistema do poço era falho, já que menores de 16 anos não passariam na triagem. Apesar de terem morrido, Goreng e Baharat teriam conseguido transmitir a mensagem.

A segunda teoria é mais obscura, porque a criança não existiria, sendo apenas uma alucinação. A iguaria teria subido intacta, porém a administração não teria entendido o recado, pois, na metade do filme, o responsável pela cozinha aparece dando uma bronca em um funcionário após ter encontrado um fio de cabelo na mesma sobremesa. Segundo essa visão mais pessimista, o esforço teria sido em vão.

Para mim, o último nível não existe. Goreng morre antes de chegar nele, e o que vemos é apenas a interpretação do que ele sentiu que deveria ter feito.

Respondeu Galder Gaztelu-Urrutia quando perguntado sobre o fim de O Poço

O filme não retrata ninguém em particular como herói ou vilão; é sobre o que você faria se estivesse no nível 200, ou no 48. Se trata dos limites da solidariedade própria de cada um e de como é fácil ser uma boa pessoa quando se está confortável no nível 10, mas difícil quando se está no 182.

Completou o diretor

Confira a entrevista na íntegra, em inglês, no site britânico de entretenimento Digital Spy. Alguns dos trechos traduzidos estão disponíveis em matéria do Adoro Cinema.

Assistiu O Poço e ficou com aquele gostinho de “quero mais”? Um filme com temática bastante parecida é o Expresso do Amanhã, dirigido por Bong Joon-ho, vencedor do Oscar com Parasita.

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Por Carlos Vinícius Magalhães – Fala! UFRJ

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