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Zumbi dos Palmares: quem foi o líder quilombola

No dia 20 de novembro de 1695, o negro Zumbi dos Palmares era assassinado após uma longa batalha contra os bandeirantes, que foram enviados para recapturar os escravos fugitivos que viviam na Serra da Barriga. Seu “crime” foi ter liderado uma sociedade justa e igualitária, onde negros viviam livres e prosperavam juntos. Zumbi governou o quilombo dos Palmares, considerado o primeiro Estado livre das Américas, que resistiu por mais de um século ao regime colonial.

Pela sua luta contra a escravidão, Zumbi é considerado um dos grandes líderes da história brasileira. Desde 2003, a data de sua morte é comemorada em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra, que celebra a luta dos negros contra a opressão racial no Brasil.

zumbi dos palmares
Zumbi dos Palmares, líder quilombola. | Foto: Montagem/ Reprodução

Quem foi Zumbi dos Palmares

Segundo o historiador Rafael Gomes, a história de Zumbi dos Palmares é questionada pela falta de fontes e informações imprecisas. Na versão mais difundida pela comunidade abolicionista do século 19, tudo teria começado com outra figura importante da história afro-brasileira: sua avó, Aqualtune. 

“Aqualtune foi uma princesa africana traficada para o Brasil após a queda do Reino do Congo em batalha contra Portugal. Vendida como escrava no Recife, Aqualtune trabalhou em uma fazenda pernambucana até tomar conhecimento de uma próspera vila formada por negros fugitivos. Então a princesa escravizada foge para Palmares, na região da Serra da Barriga, em Alagoas”, explica.

Ainda segundo essa versão, Zumbi teria sido livre, mas acabou sendo capturado aos sete anos de idade. Entregue a um padre católico, foi batizado e ganhou o nome de Francisco. Porém, na adolescência, fugiu novamente para Palmares, o quilombo pelo qual viria a lutar até a morte. Esse relato, no entanto, tem sido questionado pela falta de registros históricos.

“O jornalista responsável por disseminar essa versão se baseia em documentos aos quais somente ele teve acesso. Uma das menções históricas feitas à Zumbi se encontra em uma carta escrita por Dom Pedro I, na qual ele propõe o perdão real caso aceitasse viver como súdito em Portugal. Essa mesma carta também faz menção à esposa e filhos de Zumbi, porém não há consenso se esses sequer existiram”, diz o historiador.

O Quilombo dos Palmares

Palmares surgiu por volta do século 16 como uma vila composta por escravos fugitivos. De acordo com o historiador, a região serrana tinha vários povoados que eram chamados de “mocambos”, ou “esconderijos” conforme um dos dialetos africanos usados no local. Devido a localização na Serra da Barriga, uma região coberta por palmeiras, recebeu o nome pelo qual ficaria conhecido.

Como líder de Palmares, Zumbi conduziu a resistência contra as constantes invasões das autoridades coloniais. “Sob a sua liderança, ele estabeleceu uma estratégia de guerrilha ao invés da conhecida estratégia passiva de defesa, com a prática de ataques surpresas a fazendas, libertando escravos e apropriando-se de armas e suprimentos”, explica Rafael Gomes. 

Em fevereiro de 1694, o quilombo foi atacado pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, que liderava um exército de mais de seis mil homens armados. “Contratado pelas autoridades coloniais, o bandeirante havia recebido a oferta de poder ficar com parte dos negros recapturados, além de algumas terras na região da Serra da Barriga”, conta o historiador.

Depois do sucesso da expedição bandeirante, Zumbi e outros sobreviventes fugiram e se esconderam nas matas, onde resistiram por um ano e meio. Delatado por um companheiro, Zumbi foi capturado e morto pelos bandeirantes no dia 20 de novembro de 1695. 

“Como exemplo da violência que poderia ser infligida aos negros que ousassem se rebelar contra o sistema escravocrata, a cabeça de Zumbi foi decepada e enviada ao Recife, onde permaneceu exposta em praça pública”, acrescenta Gomes.

Dia Nacional da Consciência Negra

Pela história de Zumbi dos Palmares, a sua figura passou a ser celebrada pelo movimento negro como um símbolo da luta e resistência dos negros no Brasil. Segundo Gomes, a falsa teoria de que os africanos aceitaram passivamente a escravidão precisa ser combatida. Ao contrário do 13 de maio, que comemora a legalização de uma abolição considerada “incompleta”, o 20 de novembro valoriza a resistência antirracista de negros e negras na luta contra a escravidão e o racismo.

O pesquisador também destaca que o papel de herói assumido por Zumbi se deu pela percepção de que seria impossível coexistir pacificamente com um sistema colonialista escravocrata que buscava a aniquilação do povo negro. A consciência negra, nesse caso, se dá pelo entendimento de que a negritude não é sinônimo de inferioridade, e que a população negra tem seu espaço e valor dentro da sociedade moderna.

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Por Evelin Moreira – Fala! Universidade Positivo

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