"E quando o samango chegar
Eu mostro o roxo no meu braço
Entrego teu baralho
Teu bloco de pule
Teu dado chumbado
Ponho água no bule
Passo e ainda ofereço um cafezinho
Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim."
Maria da Vila Matilde, canção interpretada por Elza Soares, homenageia a Lei Maria da Penha e retrata, ainda, a violência doméstica persistente no país. Infelizmente, a maioria das mulheres, vítimas dessa brutalidade, não acabam como Maria da Vila Matilde.
Antes do isolamento social os números já eram espantosos. Mulheres abusadas, violentadas e silenciadas. Segundo reportagem do G1, faz três anos que o número de registros de assassinatos de mulheres pelos parceiros cresce no Brasil. A cada quatro minutos, uma mulher é agredida no país. Num momento de pandemia, para estar protegido, é necessário ficar dentro de casa, mas e se a sua própria casa for um lugar mais perigoso do que fora dela?
Como outros problemas da sociedade, uma das consequências do Covid-19 foi o escancaramento da violência doméstica. Em São Paulo, o Ministério Público declarou que, até agora, durante a quarentena, a violência contra a mulher aumentou em 30%. No Rio de Janeiro, esse número sobe para 50%.
É um momento de vulnerabilidade e fragilidade para todos. O efeito da criação de meninos que não sabem lidar com os sentimentos, que são repreendidos ao chorar e que são cobrados a serem provedores da família, forma o cenário que estamos vivendo. Há séculos. Entretanto, a pandemia agrava ainda mais esses traços de masculinidade frágil e quem paga o preço são as mulheres que passam a acreditar que não existe mais saída.
São mulheres em casa, suportando relações que já eram violentas antes e agora com mais dificuldade, porque elas estão com medo de se locomover. Ninguém quer ir a um posto de saúde ou um local com aglomeração sem necessidade. E os agressores, estando em casa, tornam a vida da vítima ainda mais difícil.
Declara Ana Flávia, professora e pesquisadora, em reportagem da Rede Brasil Atual
No entanto, é necessário que essas mulheres saibam que existe, sim, uma saída. A luta contra a violência doméstica não pode parar. Por isso, é de suma importância que todas as mulheres estejam cientes dos órgãos que as protegem e da necessidade de denunciar o agressor. Todos os atendimentos on-line e por telefone que já existiam antes do isolamento social continuam em funcionamento, como o 180, as Delegacias da Mulher e os Juizados de Violência Doméstica e Familiar.
Além disso, outras medidas foram tomadas visando o controle desse crescimento de agressões. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criou um grupo de trabalho que tem como destaque “a adoção de medidas que garantam maior rapidez e prioridade no atendimento das vítimas de violência doméstica e familiar no Poder Judiciário”, segundo notícia da Agência Brasil.
Ademais, em São Paulo, o prefeito Bruno Covas ratificou no dia 1º de maio, o projeto de lei que permite o uso de leitos de hotéis para mulheres que sofrem violência doméstica, além de atender, também, moradores de rua e profissionais da saúde. A OAB, por sua vez, propôs, no dia 13 de abril, para o CNJ e para o Ministério da Mulher, medidas que pretendem diminuir a violência na quarentena. Saiba mais sobre essas propostas.
As mulheres foram silenciadas por muito tempo. Hoje, lutamos por mais Marias da Vila Matilde que denunciem e, mesmo que tentem enfraquecê-la, resgatem a força que existe dentro de cada uma.
"Cadê meu celular?
Eu vou ligar pro 180
Vou entregar teu nome
E explicar meu endereço
Aqui você não entra mais."
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Por Isabel Mello – Fala! Cásper