sábado, 5 outubro, 24
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Por que o Brasil não possui técnicos no Velho Continente?

O Brasil possui a alcunha de país do futebol, onde, nas décadas de ouro do século XX, se reuniam craques com a natural ginga brasileira, sempre orientados por treinadores para duelos de ofensividade. Não é à toa que a seleção brasileira já conquistou cinco vezes o mundo com equipes encantadoras, mesmo que conquistassem ou não a copa, como os esquadrões de 70 ou e 82.

Entretanto, o esporte mais querido do mundo sempre esteve em constante mudança, a Europa se estabeleceu, até hoje, como o centro do futebol com os melhores jogadores e técnicos, o que gerou diversas mudanças no nosso país.

Diante dessas alterações, o nosso jogo também se afastou das suas origens: o nosso estilo perdeu sua essência ofensiva e os nossos craques rumam cada vez mais cedo para o Velho Continente, diferentemente dos nossos técnicos, que perdem, gradativamente, seu espaço no futebol mundial. 

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Neymar e Guardiola. | Foto: Reprodução Yahoo.

Enquanto a Europa vivenciava o aperfeiçoamento de um jogo ofensivo implantado por técnicos revolucionários, o Brasil vivenciava outro tipo de revolução: o aumento rápido de admiradores de um jogo defensivo, que espera o erro de adversário para atacar, em vez de forçar o erro do adversário para atacar, como era buscado nas principais ligas europeias.

Contudo, o último, de fato, exigia muito mais tempo de trabalho e dedicação para funcionar em comparação com o outro, que, por incrível que pareça, funcionou em terras brasileiras quando o São Paulo, comandado por Muricy Ramalho, sagrou-se tricampeão brasileiro seguidamente com esse estilo defensivo, na época apelidado, peculiarmente, de “Muricybol”.

E foram muitos os treinadores que adotaram tal prática em times campeões no nosso futebol, como o Abel Braga, no Fluminense de 2012, o Mano Menezes, no Cruzeiro de 2016 e 2017, o Fábio Carille, no Corinthians de 2017, e Cuca e Felipão, no Palmeiras de 2016 e 2018, respectivamente. 

O Brasil caminhava, cada vez mais, na contramão das sua origens de um futebol ofensivo que começara e é, até hoje, jogado na Europa. Evidentemente, os nossos técnicos perdiam de vez o seu espaço no Velho Continente, onde surgiam jovens treinadores com ideais semelhantes aos de Telê Santana e de Cláudio Coutinho.

A situação se agrava ainda mais, quando se percebe que a Argentina, um país com qualidade futebolística inferior ao nosso país, exporta mais treinadores do que nós para as principais ligas do mundo.

Todavia, há uma explicação: nós tivemos ótimos treinadores ofensivos, mas suas ideias não foram postergadas pelas gerações posteriores, enquanto os hermanos valorizam ideias de um certo louco da década de 90.

Certamente, trata-se do atual técnico do Leeds United, “El Loco” Marcelo Bielsa, uma das maiores figuras do futebol mundial, defensor de um estilo de jogo focado em atacar, atacar e atacar, que influenciou treinadores consolidados na Europa como Maurício Pochettino e Pep Guardiola, o qual já definiu o revolucionário argentino como “a enciclopédia do futebol”. 

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Bielsa e do Tite. | Foto: Reprodução Veja/Abril.

Não seria tarde para os dirigentes brasileiros perceberem o atraso da maioria dos nossos técnicos e começassem a buscar opções estrangeiras para o cargo de treinador das suas equipes, e foi o que ocorreu com o São Paulo em 2015 e 2017 com as contratações dos argentinos Juan Carlos Osório e Edgardo Bauza, respectivamente e com o Flamengo em 2017 quando o colombiano Reinaldo Rueda assumiu o time carioca.

Todavia, o ano de 2019 escancarou essa diferença entre os estilos de jogos ofensivos e defensivos, quando Flamengo e Santos, o líder e o vice-líder do Campeonato Brasileiro, foram treinados respectivamente pelo português Jorge Jesus e pelo argentino Jorge Sampaoli e demonstraram um desempenho técnico muito acima dos seus rivais. 

Jorge Jesus e Sampaoli
Jorge Jesus e Sampaoli. | Foto: Reprodução Terra.

Portanto, nota-se a necessidade de mais treinadores brasileiros com ideais renovadores frente à onda conservadora do “marcou, recua” ou do “prefiro ganhar de 1×0 do que 3×1”, é preciso retomarmos às nossas origens ofensivas das gerações de 70, de 82, as ideia dos mestres Telê Santana e Cláudio Coutinho, aquela ofensividade que faz do Brasil o maior exportador de jovens promessas da América Latina.

Obviamente, há alguns treinadores com essas ideias no país do futebol, pode-se citar talvez o exemplo mais famoso do Fernando Diniz, técnico do São Paulo até o fechamento desta matéria, defensor de um jogo ofensivo com troca de passes e forçando o erro do adversário, porém, que precisa aperfeiçoar em alguns pontos ainda, como as ações no último terço do campo, ou seja, justamente no ataque, o que não impede ele de ser um bom técnico.

Logo, já se possui uma certa busca pela retomada das nossas origens ofensivas, trazendo, assim, esperanças para os amantes de um jogo ofensivo, como sempre fora praticado pelo país do futebol, o que pode devolver um espaço aos treinadores brasileiros nos grandes mercados futebolísticos, já ocupado por nossas promessas.

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Por José Mário Santos – Fala! UFRJ

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