A necessidade de isolamento da população, causada pela pandemia do Covid-19, transformou o cotidiano de muitas pessoas em todo o globo. Para cumprir efetivamente as determinações de distanciamento social dos órgãos de saúde, o celular se tornou essencial para a aproximação da família, dos amigos e do trabalho. Com eles, é possível produzir mesmo longe do escritório, manter a rotina de exercícios físicos ou até diminuir o tédio. O uso constante do aparelho é feito por adultos e por crianças, os quais usam o dispositivo para assistir a conteúdos audiovisuais ou até mesmo para jogos virtuais. Assim, é gerada uma dependência do aparelho para o entretenimento.
Segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (PNAD Contínua TIC) 2018, divulgada no dia 29 de maio pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 79,3% dos brasileiros com 10 anos ou mais têm aparelhos celulares para uso pessoal. Já a consultoria inglesa Kantar, afirmou que, em março, o acesso ao WhatsApp registrou crescimento de 40% em todo o mundo.
Com isso, a população aprofundou hábitos de dependência, os quais podem não ter volta depois da pandemia. Recorrer com exagero às telas que nos cercam pode trazer diversas consequências negativas, que sinalizam um sinal do desequilíbrio da relação entre o usuário e a tecnologia.
“Esses aparelhos são úteis, excelentes alternativas na situação de quarentena. Só que é preciso lembrar que eles têm de estar aí para nos servir. O abuso pode levar a tecnologia a ocupar o espaço de outras drogas, como o cigarro, tornando-se um hábito que nos vicia, toma nosso tempo e acaba por prejudicar a vida”, pontuou o psiquiatra Cristiano Nabuco, do Grupo de Dependências Tecnológicas da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à revista Época. Um típico dono de um smartphone clica no celular mais de duas vezes por minuto. Esse patamar já é considerado excessivo.
O vício em celulares na pandemia
Um estudo publicado em 2017 por pesquisadores da Universidade de Seul, na Coreia do Sul atestou que a dependência das telas é comparável ao vício em substâncias químicas. O abuso produz alterações no cérebro, com reações e síndromes de abstinência semelhantes aos efeitos de drogas como cocaína. No estudo, os diagnosticados como viciados em celular apresentaram níveis elevados de depressão, ansiedade, insônia e impulsividade.
A universitária Fernanda Rosa (19) afirma que, mesmo antes da quarentena, já era viciada em celular. Então, durante o período de isolamento, o uso do aparelho aumentou.
Como não tenho tido nenhum tipo de contato social, minha interação com a família e amigos tem sido totalmente através das redes sociais, como pelo WhatsApp, Facebook e até mesmo por ligação de vídeo. Sem contar que, por passar tanto tempo em casa, o celular acaba sendo a única opção para acabar com o tédio, já que nos oferece variedades de plataformas, desde redes sociais e aplicativos de vídeos e fotos, até jogos de ação.
Carlos Campos (25), ator e analista de testes, confirma o depoimento de Fernanda e afirma que, trabalhando ou não, a utilização do celular na quarentena só cresceu.
“Entrei de férias e era Netflix e Duolingo o dia inteiro, fora as redes sociais. Voltei ao meu emprego essa semana, mas, mesmo assim, o uso do aparelho continua o mesmo, se não estiver maior do que antes, porque também utilizo o celular para o trabalho”.
Já a estudante Bárbara Maldonado (17), traz uma opinião diferente das demais e demonstrou dúvidas quando questionada sobre o aumento do vício em celulares na pandemia.
Eu não sei dizer se meu vício no uso do celular aumentou. Com certeza, eu tenho usado mais a tecnologia na quarentena, mas, ao mesmo tempo, o fato do celular ser o principal recurso para nos relacionarmos com quem está longe nesse momento, me deixou sem vontade de mexer nele com frequência. Além disso, estou tendo aulas on-line, o que acaba cansando a minha visão e me leva a dormir muito mais que o usual. Honestamente, diminui meu uso das redes sociais, mas, para estudar, o celular é essencial.
A psicóloga Marilda Almeida (63) faz um panorama geral do vício em celulares que, para ela, é antigo e se intensificou com a falta de noção de tempo instalada na pandemia.
“Acredito que as pessoas estão viciadas há tempos. Famílias sentam para jantar com celulares na mão, mal se olham. Adolescentes, muitas vezes, conversam pelos aparelhos mesmo estando próximos. Crianças querem estar sempre com eles ligados. Agora, além do vício, é possível dizer que se tornou uma febre. Na pandemia, como tudo se intensificou e as opções diminuíram, acabou sendo o celular um dos elementos de contato com tudo e todos. O mundo está no celular em todos os aspectos: afetivos, sociais, profissionais e educativos. As pessoas perderam a chance de olhar para elas mesmas e para o próximo. Em substituição, ficam em frente às telas, o que ocasiona tal dependência e vício”.
Caso você ainda tenha dúvidas de que é um viciado, faça o teste Você é viciado em celular?, publicado no dia 08 de setembro de 2015 pelo UOL Universa, e tire suas próprias conclusões. Agora, para evitar essa situação, a receita é tradicional: o uso com moderação.
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Por Maria Cunha – Fala! Cásper