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‘Um Estranho no Ninho’: análise do filme que inspirou ‘Ratched’

Ratched, a nova série da Netflix, é baseada no livro de Ken Kesey e na adaptação cinematográfica de Milos Forman, Um Estranho no Ninho, de 1975. A série é contada a partir da perspectiva da enfermeira Mildred Ratched, clássica personagem do filme de Forman, que marcou o público com sua característica rígida e apática em relação aos doentes mentais, na clínica psiquiátrica da Califórnia.

Porém, além da enfermeira diabólica, temos um filme com diversos personagens inesquecíveis, e um enredo que, em 20 anos, não conseguiu ser superado. Venho, por meio desta análise, trazer meus motivos pelos quais considero Um Estranho no Ninho como o melhor filme que já assisti e que merece ser visto e revisto durante décadas. 

Um Estranho no Ninho
Um Estranho no Ninho. | Foto: Reprodução.

Um Estranho no Ninho – Análise

O filme segue com a história de Randall McMurphy (Jack Nicholson), um meliante que, após ser preso, finge de louco para ir para um hospital psiquiátrico e assim esquivar-se de uma porção de trabalhos forçados na prisão. McMurphy causa uma comoção entre os internados e começa a influenciá-los a ponto de fazê-los questionar sobre sua estadia no local. O personagem, porém, começa a sofrer oposição da sádica Louise Fletcher. Com forte poder persuasivo, um carisma indescritível, McMurphy instaura uma reviravolta na clínica, e o preço de suas ações é pago cruelmente ao fim da trama. 

Um Estranho no Ninho é um filme poderoso. A junção de um personagem principal carismático como McMurphy, interpretado genialmente pelo mestre e talentoso ator Jack Nicholson, com uma paleta de cores acinzentada e enquadramentos intercalados entre close-ups nos personagens e planos gerais na ambientação morta e caótica local, traz a validação de um filme, que não só marca uma época, mas sim, um contexto histórico. 

Ao olhar pela tela e observar um enredo que consta com a coragem e a audácia de trazer um personagem como McMurphy a um lugar retrógrado e totalmente envolvido a padrões tradicionais da psiquiatria de décadas passadas, o filme consegue envolver o espectador de tal maneira que não consegue tirar os olhos de cada detalhe envolvido na trama.

Ao longo do filme, temos uma caracterização muito forte entre todos os internados, mas, principalmente, um olhar afetivo do diretor, Milos Forman, sobre dois principais personagens, além do protagonista McMurphy : Billy Bibbit, o jovem gago, que vive uma vida com medo da enfermeira Ratched, e que busca sua aceitação e seu desenvolvimento pessoal na clínica, e o “Chefe” Bromden, um indígena que se faz de mudo, mas que consegue se comunicar apenas com a  chegada de McMurphy, criando, assim, um forte laço entre ambos. 

De certo, temos três personagens que criam o clímax real ao longa-metragem. Mas, se repararmos bem, eles, na verdade, conseguem através de suas singularidades transformar o filme. E quando menciono o filme, não necessariamente todo o desenvolvimento da história, e sim, as vontades e as repressões humanas que o diretor, através da câmera, a todo momento, grita em nossos ouvidos, sem ao menos dizer uma palavra.

O gago, Billy, consegue ilustrar a juventude perdida pela busca incessante pela aceitação familiar e social e o medo das transgressões naturais juvenis. O Chefe, por sua vez, é o retrato da repressão da identidade étnica e moral, também causada pela conformidade das pessoas, em seu entorno, com seu silêncio. E, por fim, Rendall Mcmurphy como um homem livre, tão livre, que não consegue encontrar-se, vivendo entre cercas elétricas de presídios, escolhidas como forma de pagamento dos seus atos. 

É um filme que, além de abordar a loucura, consegue trazer a lucidez em relação aos sentimentos humanos, personificada entre três personagens impactantes, e encaminhado com maestria, do diretor ao telespectador, de forma a sentirmos como estranhos no ninho. 

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Por Eduarda Smilari – Fala! Mack

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