Além do grande impacto na rotina das pessoas e na economia de todo o mundo, a quarentena, medida indicada por profissionais da saúde como a mais eficiente no combate à proliferação do coronavírus, também exerce um forte impacto no psicológico dos indivíduos. Com isso, cuidados com a saúde mental nos tempos atuais são ainda mais necessários.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a incerteza do momento, os riscos de contaminação e a necessidade de isolamento social podem agravar ou causar problemas mentais. Tal isolamento, inclusive, pode ser angustiante por vários motivos, indo desde o medo de contrair a doença até as perdas financeiras, segundo a psicóloga e gerente de promoção de saúde da corretora de seguros It’sSeg, Karina Stryjer, em uma matéria para o Guia da Farmácia.
As pessoas são especialmente impactadas por fatores que fogem ao seu controle, como é o caso da pandemia gerada por um vírus invisível, desconhecido e incontrolável até o momento. Então, a situação que estamos enfrentando demanda cuidados não só com a saúde física, mas também com a psicológica.
Afirma a especialista
Uma revisão de pesquisas publicada pela revista cientifica The Lancet analisou os efeitos psicológicos durante a epidemia da síndrome respiratória aguda, SARS, que surgiu em 2002. Os dados apontam que 29% apresentavam estresse pós-traumático e 31% desenvolveram depressão após o isolamento. Isso mostra como é necessário o cuidado com a saúde mental nesse tempo e como tal problema é, de fato, uma questão de saúde pública, que exige auxílio do governo, como mostrado na matéria feita pelo G1.
O Brasil, em especial, precisa direcionar bastante atenção para esse problema, uma vez que o país tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo, tendo 18,6 milhões de habitantes – equivalente a mais de 9% da população – lidando com o transtorno, segundo um levantamento feito pela OMS.
O psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, em entrevista para a TV Brasil afirmou que o período de quarentena provoca três situações relativas à saúde mental da população: pessoas que nunca tiveram quadro psiquiátricos podem vir a ter; pessoas que já trataram de quadros psiquiátricos e que estavam controlados podem ter recaídas; e pacientes que estão em tratamento psiquiátrico podem apresentar alterações e perdas na sua evolução.
O médico ainda chama a atenção para comportamentos como preocupação constante, alterações no sono, mudanças no apetite e a sensação de perigo iminente, e orienta que “ao aparecer o primeiro sinal de que algo que muda sua rotina, que te inabilita, que te impeça, você está doente”.
Além de afirmar que quando algo leva a pessoa a prejuízos e perdas, alterando a normalidade do indivíduo, é necessário que a mesma seja encaminhada a um psiquiatra, para que possa ser tratada a doença.
A Associação Brasileira de Psiquiatria até recomenda que todos os médicos façam teleconsulta psiquiátrica, assim como orienta o Conselho Federal de Psicologia, que comunicou que o atendimento psicológico on-line ficou ainda mais fácil, para que as pessoas possam ter o atendimento que precisam, mediante a pandemia do coronavírus.
Especialistas também recomendam uma série de atividades e hábitos para adotar durante a quarentena para cuidar da sua saúde mental, cuja debilidade, além de trazer danos permanentes, como ansiedade e depressão e piorar distúrbios já existentes, também pode afetar o sistema imunológico, diminuindo a defesa do organismo para doenças.
1 – Estabeleça uma rotina
Fazer as atividades no mesmo horário e se organizar para ter um tempo certo para estudos, trabalho, exercícios, atividades de casa e lazer é muito importante para que seu dia seja mais produtivo e tranquilo.
Ter horários comuns para acordar, fazer refeições, dormir e manter atividades pessoais pode ser melhor do que se imagina, tanto para que o dia renda mais, quanto para manter uma organização em meio a tanto caos.
2 – Evite o bombardeio de informações
Algumas pessoas até se sentem mais confortáveis e seguras ao saber mais sobre o que está acontecendo, mas para grande parte das pessoas, o excesso de informação pode despertar ansiedade e estresse, ainda mais quando se tratam de “fake news”, tão presentes atualmente.
Sendo assim, é importante só se informar por meios e portais de notícias confiáveis, se ater a fatos, que podem amenizar o medo, e não a boatos e informações erradas, além de não espalhar notícias sem antes conferir a fonte de informação.
A Organização Mundial da Saúde também recomenda procurar informações e atualizações somente uma ou duas vezes ao dia, para evitar o bombardeio de informações desnecessárias que só levam à preocupação excessiva.
3 – Mantenha contato com família e amigos
Por mais que tenhamos de ficar isolados socialmente para que a pandemia de coronavírus possa ser amenizada, a tecnologia como a dos dias atuais nunca foi tão efetiva para que ainda possamos ficar perto das pessoas que amamos. Por meio de videochamadas, mensagens, ligações, e-mails e redes sociais, ainda conseguimos nos manter conectados uns com os outros.
Além de fazer o tempo passar mais rápido, e ser uma boa distração, é importante verificar se todos os amigos e familiares estão bem, trocar experiências, oferecer e receber apoio e, assim, poder se lembrar de que não está sozinho, e que todos estão passando por isso também.
4 – Pratique exercícios
Cuidar da saúde e do corpo é sempre importante, principalmente para melhorar o sistema imunológico e se proteger do coronavírus.
Especialistas também afirmam que a prática de atividades físicas auxilia nos tratamentos de ansiedade e depressão, mas sem que seja mantida uma cobrança tão grande, a ponto de que possa despertar ansiedade entre outros problemas.
Dessa forma, o autoconhecimento é muito necessário para que saiba respeitar seu corpo e o seu próprio tempo.
5 – Alimente-se de modo mais saudável
A adoção de uma dieta balanceada ou uma alimentação que adote hábitos mais saudáveis e consumir bastante água, além de serem essenciais para o incremento do sistema imunológico, também fazem muito bem para a saúde mental, o que não significa proibir de vez as comidas favoritas, mas sim, evitar abusos e se manter mais saudável.
Esse tipo de alimentação pode trazer mais concentração e disposição para realizar as atividades do dia a dia. Além disso, o tempo livre também pode ser útil para experimentar receitas novas e incorporar novos hábitos a sua rotina.
6 – Faça o que gosta
O tempo disponível pode ser muito útil para fazer as coisas que não tinha tempo para fazer antes, como assistir alguma série ou filme que queria muito, ler um livro, fazer algum dos vários cursos on-line disponíveis no momento, ou experimentar um novo hobby. O autocuidado também é essencial para manter a saúde mental equilibrada.
7 – Medite
A prática da meditação pode ajudar a melhorar seu foco e concentração, além de ser eficaz para amenizar ansiedade e estresse. Hoje em dia, a famosa prática pode ser exercida com a ajuda de aplicativos de meditação guiada, como o Medite.se, ou podcasts disponíveis no Spotify, como o Meditação Pura Energia Positiva.
Além dessas dicas, é interessante ter uma boa noite de sono, desligar os eletrônicos e apagar as luzes quando for dormir; fazer terapia on-line, como muitos psicólogos estão oferecendo no momento, assim como por meio de plataformas como a Vittude; evitar vícios e abusos de álcool e drogas ilícitas; arrumar armários, arquivos, fotos do celular e computador e outros; perceber a situação de forma realista, não entrar em pânico e lembrar que isso não vai durar para sempre; e tentar se manter positivo, seguindo, por exemplo, o @sonoticiaboa, que posta somente notícias positivas no Instagram, relativas à atual pandemia do coronavírus.
Ao contrário do que o confinamento possa fazer acreditar, não são poucos os indivíduos que estão mais estressados, ansiosos e comendo mais. A startup de tecnologia, Behup, realizou uma pesquisa com 1.561 pessoas que, segundo o cientista social e diretor de Public Affairs da empresa, Danilo Cersosimo, tem representatividade por faixa etária, sexo, escolaridade, renda e macrorregião, o que, do ponto de vista estatístico, reflete a população do país.
Os resultados revelaram que 53,8 % dos participantes disseram estar um pouco ou muito mais estressados, 60,3%, um pouco mais ou muito mais ansiosos e 59,7%, um pouco mais ou muito mais entediados. Quase 50% dos entrevistados afirmaram estar comendo mais ou muito mais e 42,5% afirmaram estar se exercitando muito menos.
O levantamento foi feito no final de março, de forma on-line, a partir de um painel com 1,5 milhão de usuários que possuem o app da empresa baixado no celular, distribuído por cerca de 4 mil municípios, como mostra a matéria da BBC.
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Por João Maurício Maturana – Fala! UFRJ