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Saiba como evitar a sobrecarga mental durante a quarentena

Nossas vidas mudaram e ainda estamos perdidos na mudança. Talvez tenhamos deixado cair alguma coisa durante esse fluxo intenso de informações e emoções: deixado cair um sorriso, as chaves ou até nossa saúde mental.

Acontece que a situação que estamos sendo obrigados a assumir frente a nossos espelhos tem revelado questões tão profundas que fica difícil seguir um caminho nesse oceano de sentimentos e pensamentos. Entre essas questões, procurar caminhos para evitar toda sobrecarga que estamos lidando agora se tornou uma atividade essencial na rotina de todos nós. Mas de onde vem toda essa sobrecarga? Quem a colocou aqui? 

Pois bem, antes de saber como evitar o estado sobrecarregado, a gente precisa entender algumas questões que devem estar bem esclarecidas na nossa cabeça. A primeira delas é: 

Não estamos falando da sobrecarga, mas das sobrecargas

Sim, é verdade. Quando falamos de sobrecarga mental, esquecemos que ela pode se dividir em duas: a sobrecarga intelectual e a sobrecarga emocional. A primeira tange ao lado do conhecimento informativo, racional e normalmente utilizado no dia a dia, já a segunda trata obviamente daquilo que sentimos, como sentimos e o quanto sentimos.

E, para melhor esclarecimento, vamos entender agora como cada uma dessas sobrecargas pode ser gerada e no que a quarentena afetou cada uma delas. 

Sobrecarga intelectual 

sobrecarga intelectual
A saturação da informação acompanha a sobrecarga intelectual. | Foto: Reprodução.

Ultimamente, você se percebeu cansado de tanta notícia sobre o coronavírus? Ou se viu não respondendo alguma matéria que mandaram em suas redes sociais por se sentir saturado daquele assunto?

Se sim, saiba que você está saturado de informação! Logo, está abraçado pela sobrecarga intelectual. Esta tem raízes profundas no sistema veloz e cruel da pré-quarentena e já era um problema trazido desse fluxo intenso, onde as pessoas tinham de se permitir serem engolidas pela lógica de trabalho full time e multitarefa para garantir o sustento ou o sucesso na visão do capital.

Pois bem, essa sobrecarga intelectual era compartilhada e aceita discursivamente como algo bom: aqueles que seguiam esse ritmo podiam ser vistos como fortes e proativos, afinal, acumular informação, hoje, também é poder, certo?

Bem, para essa lógica, sim. Porém, ficou claro com a Covid-19 que não dá para ter total controle do tempo como muitos formadores de opinião expressam que devemos ter para vencer na vida.

Começou a ser evidenciado a todas as gerações, que fazem parte dessa lógica sem humanidade, que aquilo que tange a sobrevivência está abaixo daquilo que eles acreditavam, isto é, fast food aos fins de semana não é tão essencial assim quanto lutar por feijão e arroz no supermercado.

Assim, começa a ser escancarada a superficialidade de muitas ações, atitudes e formas de trabalho que, até então, cabiam a todos nós. Um verdadeiro “murro” no estômago.  

Como evitar a sobrecarga intelectual, então?

Distrair-se. A melhor forma de lidar com informações que não conseguimos processar bem é se distanciar delas. Claro que é importante saber e acompanhar tudo que tem acontecido, mas pode ser necessário dosar esse acompanhamento. Assim, para esses casos, nunca se fez tão importante a cultura e as artes, isto é:

  • Aproveitar das séries e filmes variados na Netflix e companhia; 
  • Ler livros diferentes do habitual; 
  • Aprender atividades jamais tentadas, como a dança e a pintura;
  • Começar a aprender uma nova língua.

São muitas as possibilidades para evitar pensar no que é passado sobre o mundo lá fora. Mas são outras as questões quando falamos de mundo a dentro. Sim, precisamos falar também sobre a sobrecarga emocional. 

Sobrecarga emocional 

compulsão alimentar na quarentena
A sobrecarga emocional pode levar à compulsão alimentar. | Foto: Reprodução.

Suas crises de ansiedade aumentaram depois do início da quarentena? Tem comido mais do que o necessário para reduzir um pouco seu quadro? Ou ainda, tem perdido a noção dos horários de sono e alimentação? Já se deparou triste nessas últimas semanas?

Se sim, é provável que suas emoções estejam sobrecarregadas e seu corpo pedindo ajuda! A sobrecarga emocional é tratada em muitas microculturas com uma superficialidade sem igual. E, em pleno 2020, ainda há gente que desconsidere a importância de cuidar das emoções.

É importante dizer que essa desconsideração tem raízes profundas que começam há muito tempo e, por isso, vamos focar naquilo que mais tem prejudicado: a lógica do tempo na sociedade pré-Covid-19.

“Tempo é dinheiro”. Se essa frase não tem tanta significação para você, experimente trocar dinheiro por like ou investimento. Certamente, vamos chegar a uma conclusão que a supervalorização do tempo em nossas vidas pode ter levado a atribuir valor em lugares, como o trabalho e a família, e retirado valor de outros, como a saúde das emoções. No mundo imediatista não há tempo para emoções. 

O que temos então é uma sociedade com um emocional negligenciado e anestesiado pelo dia a dia apressado. Uma sociedade que muito não percebe o problema da falta de autoconhecimento e acabou gerando filhos e filhas também nessa lógica. Toda uma comunidade que se esconde atrás das distrações do capital.

Acontece que as distrações fecharam. Shoppings parados, estádios vazios e trabalhos parando. Então, muitos de nós estão sendo forçados a olhar problemas casa a dentro, problemas espelho a dentro. E, assim, aquela caixinha cheia de inseguranças, ansiedades, pensamentos deprimidos não tem mais o que fazia deixar ela fechada. 

Sem contar no contato familiar! Sim, este contato evitado por muitos de nós agora é uma obrigação diária: pais descobrem que não são as escolas que devem educar seus filhos, jovens conhecem a rotina categórica de seus avós, maridos e esposas têm que conversar. Sobrecarga instaurada! 

E como evitar a sobrecarga emocional, enfim?

Permitir-se. A melhor forma de lidar com alguma questão emocional nossa é se permitir conhecê-la sem se importar com o tempo. Afinal, provavelmente, essa questão já estava aí e vai continuar caso não façamos nada, ou seja, o tempo para ela é tão importante quanto os ouvidos são para se ouvir uma música. Pois, então, permita-se:

  • Permita-se chorar e reconhecer qualquer negligência sua;
  • Permita-se conhecer aqueles que estão com você nessa quarentena; 
  • Permita-se se aproximar e criar novos laços com as pessoas dentro e fora da web; 
  • Permita-se aceitar o que você é no espelho.

E, claro, permita-se, reconhecer que, se nada disso aqui funcionar, pode ser a hora de procurar ajuda especializada. Afinal, nenhuma guerra foi vencida por uma única pessoa.

Falamos aqui sobre as possíveis facetas da sobrecarga mental que têm se manifestado em muitos de nós e como podemos driblá-las de um jeitinho só nosso. Afinal, não há receita uniforme para as coisas da vida, não é mesmo?  

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Por Mateus Anjos – Fala! UFBA

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