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Resenha – Holocausto Brasileiro: do pesadelo à realidade

O genocídio de 60 mil pessoas no maior hospício do Brasil é relembrado por Daniela Arbex em seu livro Holocausto Brasileiro. Já em seu prefácio, na primeira linha da primeira página, Eliane Brum escreve que “o repórter luta contra o esquecimento”. Mais do que isso, Arbex impede que a história seja deixada de lado, trazendo milímetros do terror sofrido no Colônia, hospício da mineira Barbacena, no século XX.

Apesar da força da palavra, a autora arrisca chamar o ocorrido de holocausto. Não poderia descrever melhor o que se passava dentro do Colônia. Vestes listradas em azul e branco, comida escassa e inadequada ao consumo, água do esgoto para sobrevivência, frio que anuncia a morte, internações à força e eletrochoques eram especialidades do maior hospício do Brasil.

Mas e a vida? Era retirada. Sonhos e saúde eram arrancados dos pacientes. Se não morriam de doenças proporcionadas pelo hospício, faleciam pela invisibilidade. Pior, as mortes eram bem-vindas, já que geravam lucros ao ambiente hostil. “Entre 1969 e 1980, 1.853 corpos de pacientes do manicômio foram vendidos para dezessete faculdades de medicina do país.”. Como bem resume Brum, “Nada se perdia, exceto a vida”.

holocausto Brasileiro
Pacientes no Colônia. | Foto: Reprodução.

Por trás da obra Holocausto Brasileiro

Para que o horror pudesse ser exposto, Daniela abriu mão de seu tempo com o filho recém-nascido e marido. No entanto, sabia da necessidade de contar essa história e de dar identidade àqueles que foram esquecidos pelo tempo ou pela conveniência. Mais do que isso, a jornalista expõe a conivência com tamanha crueldade por parte do Estado, dos médicos, dos funcionários e da própria sociedade.

Através da narrativa de poucos sobreviventes do genocídio e de histórias perdidas ou ignoradas, o livro traz à tona a tristeza e o sofrimento vivenciados pelos moradores do local. Lágrimas e arrepios se manifestam livremente ao longo das palavras dispostas nas páginas.

Assim, Daniela Arbex resgata em Holocausto Brasileiro a memória que tentava ser apagada por muitos. A repórter propõe a lembrança de recordar as histórias das vítimas da omissão coletiva e encontra, por meio da literatura, uma maneira de encararmos a humanidade que existe em cada um de nós.

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Por Isabela Cagliari – Redação Fala!

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