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Relatos de uma mulher, mãe e professora

Ao longo das dores e delícias da vida, nasce uma mulher que descobriu ser independente, esforçada e bonita por dentro e por fora

São Paulo é grande e, dentro dela, acontecem milhões de histórias, casos, situações que, infelizmente, é impossível acompanhar. Muitas vezes, passamos por pessoas nas ruas e não sabemos o que os fizeram levantar aquela hora, estar caminhando naquele momento e nem para onde elas vão.

Hoje em dia, a tecnologia nos aproxima de certa forma, e os logaritmos acabam nos apresentando de maneira inesperada pessoas que, com uma simples conversa de 7 minutos e 69 segundos, pode nos mostrar que não somos as únicas em Gothan City, ou seja, que todas nós passamos por situações parecidas, que nossas dores passam e que a vida sempre nos dá uma oportunidade para reavaliar as nossas atitudes, aprender e crescer com ela.

Relato de uma mulher em meio a uma sociedade preconceituosa

Jéssica Rolim Mathias, de 25 anos, se tornou mãe solteira aos 17 anos de idade de seu namorado da época. Por intermédio da nossa conversa, ela contou que essa época não foi nada fácil, principalmente pelo fato de seus pais e familiares não terem apoiado a gravidez, além disso por ter descoberto a traição do seu namorado, pai da sua filha.

No entanto, nenhum desses fatores impediu ela de seguir trilhando o seu caminho, ou seja, que logo depois de dar à luz a sua filha, ela seguiu o conselho da tia e prestou concurso para auxiliar de classe na prefeitura da cidade de Cotia, pois, assim, poderia cuidar da sua filha Manuella, deixando ela na creche, e conseguir dinheiro para sustentá-la.

Logo depois, quando sua filha já tinha nove meses de vida, ela descobriu que foi aprovada no concurso e foi ali, já exercendo a profissão na qual se inscreveu, que Jéssica pôde conhecer e se apaixonar pela pedagogia: “Aí que eu falo que a pedagogia me escolheu”, afirma Jéssica.

Jéssica Rolim Mathias. | Foto: Reprodução.

Ao longo das suas experiências, Jéssica decidiu se especializar, pois se encontrou nessa área e pôde também perceber que, assim, poderia conhecer e aprender com outras histórias que conhecia na sala de aula. Portanto, ela deixou as escolas públicas de Cotia e foi trabalhar em uma região mais próxima de sua casa, começou a fazer faculdade de pedagogia e a lecionar em uma escola particular adventista em Taboão da Serra, cidade em que mora atualmente.

No meio da sua ascensão na carreira, Jéssica, uma mãe e mulher que assim como milhões de outras mulheres, exercia suas milhares de funções dentro e fora de casa e ainda namorava, porém, o  seu namoro não estava nas melhores condições, pois seu namorado traia sua confiança e seu amor de forma incansável, tendo em vista que não era a primeira vez que isso acontecia.

Entretanto, assim como a maioria dos homens que se comportam dentro desta situação, seu ex-namorado, ao ouvir da boca de Jéssica que não queria permanecer mais em um relacionamento como este em que ela estava vivendo, ele se mostrava arrependido e dizia que iria mudar, que não iria fazer novamente, pois a amava, mas, obviamente, esta promessa não era cumprida e Jéssica se frustrava. No meio desse vai e vem, a nossa protagonista se via mais como coadjuvante do que outra coisa, começou a se culpar por tudo o que estava acontecendo no seu relacionamento.

Como toda mulher ao longo da sua vida e por culpa das imposições da sociedade em que vivemos, Jéssica passou a encontrar desculpas e motivos que justificassem as traições que sofria do seu ex-namorado. Ela acreditava que era culpada pela perda da vivência do seu namorado, já que engravidou muito cedo, ela se considerava insuficiente, se achava gorda depois da gravidez e é justamente nessa parte da história que cabe uma avaliação e um aprendizado para todos e todas que lerem esse texto.

Ninguém é insuficiente para ninguém, todo mundo é suficiente, principalmente pelo fato de que ela e todos nós somos suficientes para nós mesmos. Ninguém é feio, pois existe beleza em todo lugar, basta a gente querer ver, sem contar que tudo em relação a corpo e beleza é tudo uma imposição e padronização da sociedade, mas não necessariamente é a realidade, e essa realidade é completamente voltada para os homens, “facilita” para ele e somos nós, mulheres, que paramos a nossa jornada para se enquadrar nesse quesito doloroso e que não nos ajuda em nada.

Até quando as pessoas vão parar de olhar para a “gordura” que nós, mulheres, adquirimos ao longo da vida ou invés de olhar e valorizar as realizações dessas mulheres? Quantas mulheres não pararam a sua caminhada porque se sentiram mal ao serem questionadas em relação à sua aparência ao invés de serem estimuladas a fazer os seus trabalhos, os seus estudos?

A auto-aceitação e o amor próprio é uma coisa que promove muito mais do que a sua aceitação com a sua aparência. Ela promove a sua aceitação intelectual, profissional e não tem nada a ver você ter que se enquadrar dentro dos padrões de beleza que nos obrigam a seguir. Todas as suas realizações profissionais, pessoais, financeiras não dependem da cor da sua pele, do jeito que é o seu cabelo, do tamanho da roupa que você usa.

A autoaceitação te ajuda a alcançar os seus sonhos e te ajuda a entender que os padrões de beleza são algo ridículo e inatingível, não acrescentam nada na sua vida e ainda te sufocam, pois você fica eternamente se esforçando para ser algo que você não é. O que realmente importa é você ser completa, ir bem no seu trabalho, ser independente e saber que você não ser parecida com as panicats ou meninas desse tipo não irá deslegitimar as suas realizações, e ponto.

Em relação ao relacionamento abusivo no qual a Jéssica sofreu, precisamos deixar relatado que essa experiencia apresentada por ela nos mostra que o relacionamento abusivo que ocorre é algo extremamente individualista, pois são duas pessoas envolvidas onde uma pessoa não abre mão da sua individualidade, porém, ela faz com que a outra faça isso, tendo ela somente para ele ou vice-versa, fazendo com que a pessoa seja e faça tudo para ele.

Mas voltando…o ponto positivo de tudo isso é que Jéssica nunca deixou sua vontade de assumir uma sala de aula como pedagoga de lado e foi justamente esse fator que abriu os olhos delas para essa situação. Ela começou a ver que ela estava muito à frente do tempo do seu ex-namorado e que essa relação com ele não estava levando ela a lugar nenhum, ela estava sempre trabalhando, estudando, se especializando e ele estava desempregado, nunca pensou em estudar e ainda traía ela na “cara dura”.

Sendo assim, ela começou a se olhar de um jeito diferente, começou a se ver como uma mulher independente, forte e tomou a decisão de se valorizar mais, ter mais carinho por si, fazendo as coisas para si e sendo completamente grata por tudo o que conquistou sozinha.

Hoje, Jéssica se arruma, usa a roupa que quer e que faz ela se sentir bem, passa o batom da cor que ela mais gosta e que ela quer e nota que o amor próprio só lhe fez o bem. 

E quando eu comecei a me amar, eu percebi que as pessoas à minha volta me amam muito mais, sabe? Olham para mim e falam: ‘nossa, seu brilho melhorou, seu sorriso está mais bonito, você está mais feliz’.

Relata a professora.

Por fim e se inspirando nessa mulher incrível, gostaria de deixar relatado que tudo isso registrado aqui, foi um aprendizado que eu adquiri acompanhando as histórias das youtubers Alexandra Gurgel e Maíra Medeiros, que me ensinaram a não ser gordofóbica (sim, eu era) e a ser mais empática com todas as mulheres independentemente da sua condição física, corpórea e estética.

Hoje, eu dou voz a outras mulheres para que elas possam ensinar pessoas, assim como eu, a se descontruírem, evoluírem e a se unirem com as outras, pois, unidas, nós somos mais fortes e podemos fazer história.    

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Por Heloise Pires Silva – Fala! FMU

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