Por Gabriel Passoni – Reaviva MACK
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“A minha ardente expectativa e esperança é de em nada ser confundido, mas ter muita coragem para que, agora e sempre, Cristo seja engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte. Pois para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro.”
(Filipenses 1:20–21)
Houve um tempo em que falávamos sobre a coragem, falávamos sobre sermos virtuosos ante o mal do mundo. Todavia, esses dias foram esquecidos, foram enterrados debaixo da miséria totalitária e dos gritos da turba coletivista.
Os anseios assombrosos da revolução cultural e da mentalidade utópica progressista penetraram tão fundo no imaginário e no espírito dos homens que, ao longo das décadas, se tornaram os grandes responsáveis por forjar uma sociedade covarde. Covarde e doente.
A invasão vertical dos bárbaros, intitulada assim, primorosamente, pelo grande Mário Ferreira dos Santos, triunfou diante dos muros do Império. Desde então, as ideologias políticas e as escatologias sociais se tornaram as guilhotinas da sanidade coletiva.
São as armas morais, instrumentos de decapitação em massa, que não separam do corpo somente a cabeça; separam do corpo o senso do belo, o senso do sagrado e a coragem que nos fez sobreviver até aqui.
Os covardes, assim, triunfaram. Seus decretos invadiram os botecos, os museus, as universidades; invadiram até mesmo as nossas igrejas. Sequer a vida simples, ordinária e corajosa dos homens comuns, conseguiu escapar dos intelectuais modernos e de seus discursos mascarados.
Discursos esses que, na penumbra da mente e no vazio da alma, parecem navalhas afiadas que dilaceram o frágil imaginário. Contudo, quando cada um desses discursos é levado à luz, sabemos que não passam de tesouras cegas.
Mas, infelizmente, esse teatro de tesouras cegas enganou e obrigou (e ainda engana, e ainda obriga) cada homem que ainda não se encontrou a tomar um copo de covardia no café da manhã e fazer uma prece. Mas o homem moderno não faz preces para Deus, o homem moderno curva sua fronte para o pensamento totalitário da elite política.
A coragem supracitada, a que antes era o bastião dos sobreviventes, não se trata do grito que irrompe nas páginas do Manifesto Comunista: Proletarier aller Länder, vereinigt euch! [Trabalhadores do mundo, uni-vos!], o qual se tornou o jargão das nossas crianças antes mesmo que elas aprendessem a pagar suas próprias contas.
O conceito de coragem, ao qual me refiro, é aquele que Chesterton, em uma de suas loucuras mais lúcidas, definiu como “um forte desejo de viver, sob a forma de disposição para morrer”.
E a morte, aqui referenciada, não se trata da morte incitada pela desesperança niilista, ou uma morte em nome do discurso vermelho dos líderes do Terceiro Reich, ou em nome do discurso sanguinário soviético. Trato aqui da morte encarada pela coragem genuína, que levou homens à cruz, à cova dos leões e à Poitiers, quando foi necessário.
Curiosamente, nenhum desses homens que morreram corajosamente, foram traídos pela morte. Antes que cada um deles derramasse do seu próprio sangue em batalha, um cordeiro já havia sido imolado e morto para os redimir.
Não foi a narrativa política ou a histeria social que redimiu os homens que morreram para si mesmos. Quem os redimiu foi o cordeiro de carne e osso.
E quem sabe não seja esse o motivo pelo qual Agostinho, bispo de Hipona, certa vez disse: “Ser cristão sempre foi e será um desafio à nossa coragem. Não é cristão quem é covarde”.