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Quarentena pode afetar o comportamento de cachorros

Falta de passeios e presença constante dos donos são fatores que podem influenciar no bem-estar dos cachorros

Por causa da pandemia do novo coronavírus, muitas pessoas passaram a evitar sair às ruas com objetivo de se proteger do contágio da doença. Uma das atividades suspensas por algumas delas foi a de passear frequentemente com seus cachorros de estimação. Cheios de energia para gastar, os cães podem sofrer com a quarentena. É possível identificar mudanças bruscas de comportamento pela falta de contato com a rua, com outras pessoas e com outros cachorros.

Victor Hugo, estudante de Engenharia de 22 anos, deixou de passear com sua cadela durante os seis primeiros meses de pandemia. Nesse tempo, ele percebeu mudanças no comportamento de Ártemis: “Por vezes, dava para notar que, quando ela ficava grandes períodos sem passear, mostrava sinais de ansiedade, como lamber muito a pata, ou ficava triste, indo para um canto sozinha”.

Essa ansiedade também foi observada por Layane Muniz, estudante de Nutrição, de 21 anos, em seu cachorro Sherlock. Ela se viu obrigada a retomar a rotina de passeios, pois estava enfrentando dificuldades com o cão: “Ele já tem um temperamento forte, e só a volta na área externa do prédio não estava sendo suficiente para ele gastar a energia que tem, então ficou um pouco mais ansioso e mal-humorado”.

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Quarentena pode afetar o comportamento de cachorros. | Foto: Carol Yepes/Getty Images.

Entenda como a quarentena pode afetar o comportamento de cachorros

Esses comportamentos são naturais aos cães e reforçam a importância do hábito de passear, pois, assim como nós seres humanos, eles têm necessidade de praticar exercícios físicos com frequência.

A veterinária e adestradora Livia Nogueira, de 36 anos, explica os efeitos que essa nova rotina causa nos animais: “A falta de exercício físico é maléfica aos cães, assim como a falta de todo o estímulo ambiental do passeio: cheirar, socializar com pessoas e outros cachorros, barulhos diferentes etc. Esses estímulos liberam endorfinas que trazem relaxamento e sensação de bem-estar. Com certeza, podemos ver animais mais estressados e inquietos devido à falta dos passeios”.

É possível encontrar outras soluções para manter o cão ativo sem arriscar a própria segurança. Essas atividades, que podem ser feitas dentro de casa, recebem o nome de “Enriquecimento Ambiental” e envolvem o aprendizado de truques, uso de brinquedos interativos, entre outras práticas.

Existe já no mercado uma gama de brinquedos interativos inteligentes e na internet podemos encontrar muitas ideias de enriquecimento ambiental com objetos simples e até recicláveis que temos em casa.

Conta Livia.

Se, por um lado, muita gente deixou de passear com seus cães por conta da pandemia, outros encontraram mais tempo em suas rotinas para fazer os passeios. É o caso de Carla Yasmin, estudante de Fonoaudiologia, de 22 anos. Por conta da rotina agitada na faculdade, ela não conseguia passear com seu cão, Thor, com a regularidade que gostaria.

Agora, com o ensino a distância e maior disponibilidade, ela encontrou esse tempo. Para não arriscar sua segurança, passou a tomar alguns cuidados. “Eu ia de máscara sempre, não andava perto das coisas, como muros. Pegava as ruas desertas e, assim que chegava em casa, tomava banho e passava álcool nas patinhas dele”, ela conta.

Cães e coronavírus

Já está claro para os cientistas que os casos de cães contaminados pelo novo coronavírus são muito raros. Uma pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) chegou a identificar dois cães que testaram positivo para a doença, porém não manifestaram nenhum sintoma grave e não houve risco de transmissão para humanos.

Ainda que os cães estejam protegidos, eles podem acabar trazendo o vírus para dentro de casa através do contato direto com as superfícies. “Devemos limpar sempre as patinhas do animal quando voltar da rua, com água e sabão ou com produtos próprios para esse fim. Durante o passeio, evitar que o cão se esfregue contra superfícies e evitar o contato do cão com outras pessoas, já que não se contaminam, mas podem servir de veículo para o vírus”, esclarece Livia.

Os produtos específicos para essa finalidade podem ser encontrados facilmente em pet shops. Alguns exemplos são o copo limpador de patas, que contém uma esponja interna e o encaixe perfeito para as patas, o antisséptico para cães e a solução limpa-patas.

É verdade que os cães estão sofrendo com a falta dos passeios, no entanto, podem passar mais tempo com os seus donos. Como muita gente está trabalhando em home office, os cachorros aproveitam para ficar ao lado de seus companheiros o dia todo.

Mudança de rotina e retorno ao presencial

Essa mudança na rotina dos animais também pode ocasionar alterações significativas no comportamento. Luisa Cardoso, estudante de Ciências Ambientais, de 20 anos, observa esse efeito em seu cachorro, Nick: “Desde que a gente passou a ficar mais em casa, ele ficou um pouco mais agitado. Hoje em dia, a gente se levanta de um lugar, ele já começa a chorar. Antes ele era menos pedinte do que é hoje”.

Com Nick cada vez mais apegado, Luisa se mostrou preocupada com a saúde do cão após a volta das aulas. Esse sentimento é compartilhado por Carla, que observa Thor mais feliz com sua companhia constante. “Ele com certeza se acostumou comigo em casa o tempo todo. Eu morro de medo de como vai ser quando tudo voltar ao normal. Mas o Thor também se apegou muito à minha mãe e aos meus irmãos nesse tempo com todos em casa, então acho que ele não se sentiria sozinho ou triste”, ela fala.

No caso de Layane, esse momento já chegou. Com o retorno de seu trabalho presencial, em janeiro, ela já percebe Sherlock sentindo mais sua falta: “Quando eu chego em casa após o trabalho, ele tem reações que não tinha antes, como latir, pular nas coisas e sair correndo. Ele se acostumou a ter companhia o dia inteiro e agora, como não tem, ele tem tido esse tipo de reação mais eufórica”.

No entendimento dos veterinários, essa pode ser a pior consequência da quarentena para os cães. Livia já ouviu relatos de dificuldade dos cachorros após a separação mais longa de seus donos. “Muitos cães já estão sofrendo com isso, com algumas pessoas que voltaram parcialmente [a trabalhar] ou quando as pessoas saem por um curto período de tempo, porque eles realmente se acostumaram a estar sempre na companhia dos donos e das famílias”, ela diz.

Essa dificuldade de ficar longe dos donos é chamada de ansiedade de separação. Muitos cães já recebiam esse diagnóstico de veterinários anteriormente e a tendência é que piore após o fim dessa nova rotina vivida no último ano.

Ainda assim, os donos não precisam entrar em desespero, pois existem medidas possíveis para evitar esse choque em seus cães. Livia detalha essas possibilidades: “O que a gente recomenda é que a pessoa, mesmo estando em casa, comece a fazer pequenos momentos de separação, do tipo colocar o animal em outro cômodo comendo alguma coisa que ele goste, roendo um ossinho ou com um brinquedo interativo, como aqueles que soltam petisco”.

Essas atividades são importantes para que o animal se readapte a ficar sozinho e, mais do que isso, desenvolva apreço por esses momentos. Livia destaca, porém, que esse processo deve ser feito de maneira cautelosa. “A gente orienta que as pessoas façam a adaptação aos poucos, estando em casa ainda, com separação de cômodo, depois pequenas saídas. Se o animal for muito ansioso, uma saída de dez minutos já é suficiente para ele começar a ver que está tudo bem, que ele vai voltar a ficar sozinho, mas nada de ruim vai acontecer”, explica.

Em casos mais graves de ansiedade de separação, os cães podem se tornar incontroláveis quando ficam sozinhos. Nessas situações, o mais recomendado é procurar um profissional para conduzir esse processo.

E se os animais ficaram mais apegados aos donos durante a quarentena, a recíproca também ocorreu. Os cachorros foram importantes para entreter e dar amor e carinho durante esse momento difícil de isolamento. Algumas pessoas, inclusive, adotaram um cão durante a pandemia com esse intuito.

É o caso de Helena Brandão, psicóloga de 29 anos, que mora sozinha desde o começo da pandemia. Por isso, ela tomou a decisão de adotar dois filhotinhos que, na época, tinham um mês de idade: Yuki e Kira. “Eu sou uma pessoa muito carinhosa e morando sozinha estava sem contato com ninguém, o que me faz muita falta. É muito bom abraçá-los, ganhar ‘lambeijos’ e trocar tanto amor com esses serezinhos iluminados”, conta.

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De máscara, Helena passeia com seus cães Yuki e Kira. | Foto: Reprodução.

Em meio a tantas dificuldades, enquanto todos tentam se adaptar à pandemia e suas limitações, os cachorros fazem o mesmo. Luisa se diverte com o entendimento de Nick dos protocolos de higiene: “Toda vez que eu boto a máscara para sair de casa, o cachorro fica andando atrás de mim. Às vezes eu só estou guardando, mas ele fica achando que a gente vai sair”.

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Por Pedro Werneck – Fala! UFRJ

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