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Peste negra a coronavírus: Como vai ser o mundo daqui para frente?

Ironicamente, essa questão – tão comum nas mentes de homens e mulheres em 2020 –  também era feita pelo cidadão europeu imerso na grande peste do século XIV. Se atualmente vivemos com esse sentimento de imprevisibilidade e falta de perspectiva, imagine para as populações medievais que nem sequer sabiam do que se tratava aquela doença. 

Quando experienciamos algo sem precedentes na humanidade, é comum buscarmos no passado histórico algum “repertório cultural” que possa, mesmo que minimamente, nos tranquilizar e apontar para caminhos possíveis. Pode ser até uma ingênua busca por previsibilidade, mas ela é inevitável. E tenho certeza que, no inconsciente coletivo daqueles que passaram recentemente pelo ensino médio, ficou marcado como um grande e devastador episódio pandêmico: a peste negra.

Peste negra. | Foto: Reprodução.

Peste negra e coronavírus

Conhecida também como peste bubônica devido às manchas (bubões) na pele que ela provocava, a pandemia foi responsável por dizimar cerca de um terço da população europeia num intervalo de 10 anos, entre os anos de 1345 a 1355. Era provocada por uma bactéria (Yersinia pestis) geralmente transmitida pelas pulgas de animais, sendo o mais comum o rato. 

As diferenças entre a pandemia do novo coronavírus e da peste negra são inúmeras, até porque estamos falando de quase 700 anos. Entretanto, é possível destacar algumas similaridades entre os eventos e, apesar dos 7 séculos que os separam, tal comparação é, sem dúvida, uma boa fonte de estudos, quase que um manual que permite analisar um conjunto de atitudes, sejam elas benéficas ou não. Dentre as semelhanças, vou apresentar 3 que considero as principais.

máscaras contra coronavírus
A pandemia de coronavírus estimulou a obrigatoriedade do uso de máscaras. | Foto: Reprodução.

Semelhanças entre a peste negra e o coronavírus

Começando por onde a doença surgiu. Analisando com o olhar eurocêntrico e ocidental, ambas vieram do Oriente. Alguns autores até afirmam que a peste negra desenvolveu-se na China, redobrando a similaridade. 

Uma outra é de como essas pestes e grandes epidemias são fruto de momentos históricos de aproximação entre diferentes regiões, no caso da peste negra, a Baixa Idade Média foi um momento de renascimento do comércio, revitalização de rotas com o Oriente, a rota da seda da China, o enérgico Mediterrâneo, como a principal via das embarcações. Todos esses fatores contribuíram para a aproximação de diferente populações e regiões do mundo. Hoje então, nem se fala , o mundo globalizado, com viagens cada vez mais rápidas, possibilitando uma relação entre os países muito mais eficiente e próxima.

A última semelhança tem a ver com as reações da sociedade. No caso da peste, não se tinha essa ideia de isolamento social, como uma mentalidade coletiva, mas havia áreas especiais destinadas aos doentes com objetivo de evitar ao máximo o contato deles com outras pessoas. Além disso, tinha-se uma grande preocupação médica em tentar entender o sentido da doença.

Se hoje a preocupação é desenvolver uma vacina, antes era entender o porquê e como as pessoas se contaminavam. Não se tinham as atuais noções de higiene, até porque os recursos eram muito mais escassos e, mesmo assim, a higiene não era associada como forma de prevenção. É quase injusto comparar as épocas nesse quesito, é provável que a higiene pessoal de um jovem morador da Zona Sul do RJ, durante um dia, seja equivalente a de uma cidade inteira na Idade Média.

As consequências de um evento biológico dessa proporção são sempre drásticas e nós fomos os ”sorteados” a lidar com a situação e projetar como vai ser daqui pra frente. Olhar para o passado é um ótimo exercício para tirar aprendizados. Mesmo com 700 anos separando, a resposta da pergunta inicial é a mesma: será diferente.

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Por Pedro Tavares – Fala! UFRJ

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