Que a pandemia de coronavírus mexeu com a vida de todos já é mais só que sabido. De coisas banais como sair com os amigos para tomar sorvete a situações mais preocupantes, como o futuro de milhares de jovens que almejam uma vaga na universidade. A pandemia de Covid-19 literalmente bagunçou o calendário de escolas, universidades, cursinhos, vestibulares e do próprio Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), fazendo com que mais estudantes deixassem o sonho de ingressar em uma faculdade para outro momento.
Covid-19 aumenta dificuldade de ingresso em universidades
O cenário educacional brasileiro é repleto de desigualdades e, durante a pandemia, este cenário se agravou ainda mais. É o que conclui o levantamento “Retratos da educação no contexto da pandemia do coronavírus: um olhar sobre múltiplas desigualdades”, de outubro de 2020. O documento analisou dados de instituições educacionais nos primeiros meses da crise sanitária no país, mostrando a preocupante conclusão de que, a cada 10 jovens com idades entre 15 e 17 anos, apenas 7 estão devidamente matriculados no ensino médio.
Os estudantes nessa faixa etária foram os mais atingidos, em teoria, pela Covid-19, já que é nessa idade que a maioria dos jovens está saindo do ensino médio e ingressando na faculdade. Isso considerando que estejam de acordo com a idade-série ideal. A situação dos alunos das escolas e instituições da rede pública mostrou-se ainda pior do que a dos estudantes da rede privada. Um dos principais problemas enfrentados por esses jovens é a falta de equipamentos necessários para acompanhamento das aulas em formato remoto.
Ainda segundo o levantamento, no que concerne à disponibilidade de equipamentos para acessar as aulas remotas, a maioria dos alunos disse que utiliza mais o celular. Já na utilização de computadores ou notebooks, há uma discrepância entre os estudantes da rede pública e privada. Somente 29% dos jovens de escolas públicas dizem ter aparelho em casa. Já entre os da rede privada o número chega a 71%. Estes dados demonstram que o ingresso na universidade durante a pandemia será ainda mais difícil para estudantes pobres.
Outros desafios no ensino
Como se já não bastasse todos esses problemas, a absurda negligência do Estado no combate ao coronavírus alavancou as taxas de abstenção em vestibulares por todo o país. Dos 130.678 inscritos para a Fuvest, 13,2% se ausentaram da prova que é porta de entrada para a Universidade de São Paulo (USP). Na Unicamp, no interior de São Paulo, o número de abstenções chegou a 15,5%, tanto para cursos em áreas de exatas como também de humanas.
Um dos dados mais preocupantes sobre a questão de abstenção em provas dessa natureza são referentes ao Enem 2020. Com 5,9 milhões de inscritos, o exame registrou a presença de apenas 2,7 milhões de estudantes em um ou nos dois dias de prova, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O recorde de abstenções no Enem 2020 reflete dura realidade dos estudantes brasileiros que se veem condicionados às desigualdades do ensino remoto e ao medo da Covid-19.
A preocupação de milhares de jovens agora é sobre as incertezas que cercam o exame do Enem em 2021. Esta importante via de entrada às principais universidades do Brasil vem sendo tratada com terrível descaso pela atual gestão federal, a começar pela demora na divulgação das datas de realização das provas. No dia 13 de maio, o Conselho Nacional de Educação (CNE) divulgou, por meio da presidente do órgão, Maria Helena Guimarães de Castro, que o exame só seria realizado em 2022, devido à falta de verbas.
A data, no entanto, seria confirmada pelo Inep, responsável pela prova, em 2 de junho, através do edital que indica os dias 21 e 28 de novembro de 2021 como datas para a realização do exame. O fato é que a pandemia de Covid-19 escancarou mais ainda as desigualdades educacionais no Brasil, e obrigou milhares de jovens estudantes a se adaptar como puderam para não perder a oportunidade de ingressar nas universidades.
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Por Maria Fernanda Ribeiro – Fala! UFG