14 de março de 2018. No bairro da Lapa, localizado na zona sul do Rio de Janeiro, um Chevrolet Agile branco estaciona, às 19 horas da noite, na Rua dos Inválidos. Dentro do carro está Marielle Franco, vereadora eleita em seu primeiro mandato pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), acompanhada de sua assessora e do motorista Anderson Gomes. O destino dos três é a Casa das Pretas, local onde a vereadora participará de um debate comunitário com outras mulheres negras.
Compromissos como esse são comuns na agenda da vereadora psolista, afinal Marielle Franco é feminista, ativista pelos direitos humanos e das minorias. Como “cria da da Maré”, ela costuma levantar a voz em defesa das mulheres, negros, moradores de favelas e denuncia em suas redes sociais os abusos da força policial nas comunidades carentes.
Os últimos momentos de Marielle Franco
Durante as duas horas do evento, Marielle, exibindo um semblante feliz e otimista, fala sobre empreendedorismo negro e a importância do ativismo. A pequena plateia é composta, em sua maioria, por jovens negras universitárias, o que logo chama a atenção da socióloga. “Quando eu cheguei na PUC em 2002, só havia eu e mais uma mulher negra no curso de Ciências Sociais”, relembra, emocionada. Para Marielle, aquelas jovens graduandas eram motivo de celebração e mostrava as coisas boas que estavam sendo feitas para que as negras tivessem mais oportunidades de acesso ao ensino superior.
Já estava próximo às 21 horas quando o evento chegou ao fim. As participantes se abraçaram, tiraram fotos e Marielle agradeceu a todas que compareceram ao evento. Em seguida, a socióloga e sua assessora saem da Casa das Pretas e entram novamente no Chevrolet Agile branco. Depois de um dia cansativo na Câmara dos Vereadores e um compromisso noturno, as duas estão ansiosas para, finalmente, irem para suas casas no Complexo da Maré.
Por volta das 21h30, o carro dirigido por Anderson Gomes cruza a Rua Joaquim Palhares, bairro do Estácio, região central da capital fluminense. Repentinamente, eles são emparelhados por um Chevrolet Cobalt e atingidos por disparos de uma submetralhadora. Anderson é atingido por três tiros nas costas. Marielle leva ao menos quatro tiros na cabeça, enquanto sua assessora, que estava ao seu lado, é atingida por estilhaços de vidro. Marielle Franco, liderança de esquerda e vereadora eleita no Rio de Janeiro com mais de quarenta mil votos, é executada dentro de seu carro, juntamente com seu motorista Anderson Gomes.
No ano seguinte, no dia 12 de março de 2019, o sargento reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Queiroz são presos. Segundo a Força-Tarefa policial, Lessa foi o executor de Marielle e Anderson, enquanto Queiroz dirigiu o carro que perseguiu Marielle. Três anos se passaram desde aquela fatídica noite. Entre trocas de comando das investigações, supostas interferências e várias operações da polícia, os dois acusados permanecem presos, aguardando julgamento por júri popular. Contudo, a mesma pergunta que começou a ser feita na noite do crime continua a ser repetida desde então: quem mandou matar Marielle? E por quê?
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Por Ludi Evelin Moreira dos Santos – Fala! UFPR