O presidente Jair Bolsonaro nunca escondeu a sua alergia ao sistema que o elegeu
No dia 9 de outubro de 2018, Jair Messias Bolsonaro, então com 63 anos e filiado ao Partido Social Liberal (PSL), venceu Fernando Haddad (PT) no segundo turno das eleições presidenciais, tornando-se o 38º presidente do Brasil. De fato, não era do desconhecimento de ninguém o flerte de Bolsonaro com o golpismo. Mas sucessivos ataques ao sistema democrático que o elegeu, deixam o questionamento: a democracia brasileira sobreviverá a Bolsonaro?
O que antecede a vitória de Bolsonaro é uma epopeia digna de Homero. Insurreições pelo país, um impeachment que deixou cicatrizes profundas e a prisão do principal candidato a anti-Bolsonaro, o ex-presidente Lula (PT).
Bolsonaro e a democracia
A nossa narrativa começa no ano de 2013, quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) enfrentava o início da crise que culminaria em seu afastamento do cargo. Manifestações suprapartidárias, que emergiram como protesto ao aumento do preço do transporte público e se transformaram em uma hidra, onde cada cabeça gritava por uma pauta e, a cada dia, uma nova pauta surgia. Bolsonaro, tal como João Doria (PSBD), membros do MBL e raposas da política brasileira surfaram nessa onda de ódio.
Dilma acabou afastada do cargo três anos depois, em 31 de agosto de 2016. João Doria foi eleito prefeito de São Paulo no mesmo ano e Michel Temer (MDB), uma das raposas, tomou a faixa presidencial. E Jair? O então deputado federal começava seu plano de poder ao discursar, em rede nacional, durante a votação para cassação de Dilma Rousseff. Em um dos episódios mais marcantes do processo, Bolsonaro se utilizou de sua tão famosa eloquência para fazer apologia à tortura. Bolsonaro fez apologia a Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador durante a ditadura militar no Brasil. Confira:
Desde seu período como subcelebridade na TV Fama, da Rede TV, Jair nunca se fez subentendido. Era eloquente em seus posicionamentos pouco democráticos, sua fetichização ao período militar e posicionamento anti-LGBTQIA+, e truculência à imprensa brasileira. Além de comentários machistas e racistas, o que não impediu a construção do “mito”, que, como um marqueteiro do caos, se favoreceu de seus “claims” mais sombrios.
Eleito, não se rendeu ao tabuleiro democrático. Xingou, atacou, ameaçou, caluniou. Foram alvos a imprensa, membros do judiciário, opositores e até ex-aliados. Desde o fim do período militar (1964-85), o Brasil nunca se deparou com um líder tão avesso à liturgia de seu cargo. Nada feito, continua a despejar a sua verborragia do ódio. Com grande apoio de congressistas e boa parte da sociedade civil.
Jair Bolsonaro é fruto de uma ferida brasileira, que sem o tratamento adequado, continuará a lançar subprodutos políticos. Representantes despreparados que só utilizam de seus cargos para abrir ainda mais a ferida. Cabe ao povo, tendo o elegido ou não, tratar as velhas e as novas feridas, salvando assim a democracia brasileira.
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Por Bruno Lucca – Fala! Anhembi