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O impacto da Primavera Árabe nas minorias religiosas

A Primavera Árabe foi uma onda de protestos e revoluções ocorridas no Oriente Médio e norte do continente africano, onde a população foi às ruas pedir por melhorias no governo. Tudo começou no interior da Tunísia, na cidade de Sidi Bouzid, com um ambulante de frutas chamado Mohamed Bouazizi, de 26 anos, que não possuía autorização para vender e frequentemente era abordado por policiais e intimidado com pedidos de propina. 

Em um novo episódio de intimidação no dia 17 de novembro de 2010, policiais confiscaram seu carrinho de fruta, e Bouazizi foi à sede do governo local reclamar e recuperar seus pertences, mas não foi recebido. Sem poder trabalhar, Bouazizi se desesperou e comprou um galão de combustível e, diante do prédio do governo, jogou o líquido no próprio corpo e ateou fogo. Logo a notícia se espalhou e atos gigantescos contra a corrupção e desemprego na Tunísia ficaram generalizados mesmo sendo proibido pelo governo, mas não somente lá: o movimento alcançou outros países vizinhos e ficou conhecido como a Primavera Árabe. 

Além da Tunísia, os países mais afetados foram Síria, Líbia e Egito. Também ocorreram grandes protestos na Argélia, Bahrein, Djibuti, Iraque, Jordânia, Omã e Iémen e protestos menores no Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Saudita, Sudão e Saara Ocidental. 

Primavera Árabe: Os impactos desse movimento nos países mais afetados

Egito

Em entrevista exclusiva, Lucas Baladi, Católico Maronita e presente na Primavera Árabe egípcia, certifica que o que aconteceu de fato no Egito foi a entrada de caminhões norte americanos na fronteira com Israel, possuindo muitos armamentos e dólares que foram oferecidos à população para tirar o presidente Hosni Mubarak, que estava há 30 anos no poder. 

Após a queda de Mubarak, em 2012, houve a primeira eleição democrática egípcia e Mohammed Morsi foi eleito. Baladi afirma que, logo depois, pessoas influenciadas por mesquitas da vertente muçulmana salafi, que pregavam que o país não precisava de democracia influenciada pelo Ocidente e sim da Sharia, foram às ruas contra Morsi, que foi detido por militares em junho de 2013. 

Hoje, o país é comandado pelo ex-comandante do Exército Abdul Fatah Khalik Al-Sisi, considerado responsável por arquitetar um golpe que tirou Morsi do poder. O Egito está dividido entre apoiadores do governo e oposição e a instabilidade continua, reforçada pela repressão política com as minorias étnicas e religiosas e falência da economia. Lucas relata que durante uma viagem de trem foi tirar uma foto de uma Igreja Copta e foi ofendido por pessoas que o chamaram de idólatra. As Igrejas no Egito ficam dentro de fortalezas e não podem expressar sua fé publicamente.

Egito Primavera Árabe
Igreja Copta em 2011. | Foto: Lucas Baladi.
Mapa da linha de trem egípcia
Linha de trem egípcia em 2011. | Foto: Lucas Baladi.

Síria

Na Síria, o presidente Bashar al-Assad continua firme no poder, porém enfrenta uma forte oposição de rebeldes e grupos terroristas, que assolam o país e oprimem a minoria. Assad é apoiado pela menoridade, que teme perseguições ou a tomada do poder pelo Estado Islâmico, sendo eles cristãos (10% da população), drusos (3%), xiitas alauítas, etnia e religião do presidente, que compõe apenas 10% da população síria, mas ocupa um número grande de cargos políticos e militares. 

Para eles, um Estado dominado por árabes sunitas, que são cerca de 65% dos sírios, soa como uma ameaça. Porém, existem sunitas apoiadores do governo. Alguns territórios sírios são dominados por grupos terroristas que oprimem minorias étnicas e religiosas. A Síria enfrenta uma guerra civil até os tempos de hoje.

Símbolo da Primavera Árabe. | Foto: Lucas Baladi.

Líbia

A Líbia sofreu com a queda de Muammar al-Gaddafi, o único governo líbio contemporâneo no qual as minorias étnicas e religiosas eram protegidas. “Dez anos após a revolução, a Líbia está ainda mais desfigurada como Estado do que nos tempos de Gaddafi”, explica Emadeddin Badi, analista do grupo não-governamental Global Initiative, com sede em Genebra, para o site ISTOÉ. 

A revolta popular que deu origem à queda de Muammar foi financiada pela OTAN, liderada pelos Estados Unidos, Reino Unido e França – terminou no final de 2011, com a morte de Gaddafi, que foi capturado e morto em uma tubulação de esgoto. Desde então, o país está dividido entre governos rivais no leste e no oeste e uma série de grupos armados, incluindo o Estado Islâmico, que disputam poder e petróleo. Em cidades de domínio de rebeldes e terroristas, a minoria sofre muita opressão. Não existe liberdade religiosa e a educação religiosa islâmica é obrigatória nas escolas estatais, bem como nas instituições educativas privadas. Outras formas de educação religiosa não são disponibilizadas nos estabelecimentos de ensino.

Muammar al-Gaddafi, presidente da Líbia até a Primavera Árabe.
Muammar al-Gaddafi, ex-presidente da Líbia, 1942 – 2011. | Foto: Reprodução.

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Por Letícia Ferreira Soares Azevedo – Fala! Uninove

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