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Jornalismo em Quadrinhos: Tudo sobre esse tipo de narrativa

A nova forma de jornalismo que vem ganhando destaque. Confira o que é e exemplos

O Jornalismo em Qudrinhos mistura a narrativa jornalística com os gráficos das HQs.
O Jornalismo em Qudrinhos mistura a narrativa jornalística com os gráficos das HQs. | Foto: Revista Algomais.

O jornalismo sempre contou com ilustrações gráficas para ajudar na compreensão da notícia por parte do leitor, essa relação próxima de imagem e texto deu origem a um gênero jornalístico, o Jornalismo em Quadrinhos. Nessa forma de fazer jornalismo, a imagem passa de coadjuvante para protagonista, sendo essencial para que o leitor entenda a mensagem. 

O termo “jornalismo em quadrinhos” foi usado pela primeira vez pelo jornalista e ilustrador Joe Sacco, em 1994, em sua publicação Palestina, considerado o marco inicial desse gênero. Há também quem atribua o pioneirismo à Art Spiegelman, com Maus, obra que lhe rendeu um prêmio Pulitzer, maior premiação jornalística do mundo.

Tudo sobre o Jornalismo em Quadrinhos

O gênero jornalismo em quadrinhos é diferente das tradicionais charges ou tirinhas, presentes principalmente nos jornais impressos. Ele tem um formato mais longo, abrangendo várias páginas, com objetivo de explorar um assunto e não apenas satiriza-lo. Faz uso de entrevistas reais, mapas, evidências estatísticas, fatos históricos e diagramas, como explica o jornalista gráfico Dan Archer, em sua obra O que é Jornalismo em quadrinhos. “Nós investigamos uma história do jeito tradicional, mas nossas histórias são preenchidas por quadrinhos, não puramente por texto, fotos ou vídeos”.

O jornalismo em quadrinhos pode ser dividido em três grupos distintos, dependendo da forma de produção, a seguir, as classificações e seus principais representantes:

1. Autores que reportam, escrevem e ilustram toda a obra

Como Joe Sacco se autorretratava e fazia parte das histórias.
Como Joe Sacco se autorretratava e fazia parte das histórias. | Foto: The Bristol Board.

Joe Sacco foi o primeiro jornalista a ganhar o importante Prêmio Ridenhour pela reportagem investigativa na novela gráfica, Notas sobre Gaza. Sua obra mais conhecida é Palestina – Uma nação ocupada, baseada em uma investigação in loco do conflito entre israelenses e palestinos, o que lhe rendeu o prêmio American Book Awards em 1996. Ambas as obras foram lançadas pela editora Quadrinhos na Cia. Sacco tem uma característica que o difere dos outros, sempre se coloca na história, simulando uma narrativa em primeira pessoa.

Obras de Joe Sacco para o Jornalismo em Quadrinhos.
Obras de Joe Sacco para o Jornalismo em Quadrinhos. | Foto: Reproução.

Dan Archer foi nomeado ao Prêmio Eisner na categoria de Não-Ficção, ele utiliza os quadrinhos para retratar as reportagens em que o equipamento de vídeo ou foto se tornam inadequados ou proibidos. Lançado em 2012, Graphic Journalism on Human Trafficking in Nepal é um projeto jornalístico que reporta o tráfico de pessoas no Nepal.

Graphic Journalism on Human Trafficking in Nepal de Dan Archer.
Graphic Journalism on Human Trafficking in Nepal de Dan Archer. | Foto: Reprodução.

Carolina Ito é uma jornalista, quadrinista e autora do quadrinho-reportagem Estilhaço: uma jornada pelo Vale do Jequitinhonha, projeto experimental para conclusão do curso de Jornalismo. Nele, ela mostra a vida dos moradores da região do Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais. Ito também mantém, desde 2014, o blog Salsicha em Conserva, onde estão reportagens em quadrinhos que ela produziu para sites e revistas, em sua maioria para a Revista Trip.

A partir do Jornalismo em Quadrinhos, Carolina Ito narra a vida de moradores do Vale do Jequitinhonha.
A partir do Jornalismo em Quadrinhos, Carolina Ito narra a vida de moradores do Vale do Jequitinhonha. | Foto: Salsicha em Conserva.

2. Colaborações entre jornalistas e desenhistas

São Francisco, livro de Gabriela Güllich e João Velozo.
São Francisco, livro de Gabriela Güllich e João Velozo. | Foto: Reprodução/Twitter.

São Francisco – A jornalista e quadrinista Gabriela Güllich em conjunto com o fotojornalista João Velozo produziram São Francisco, que aborda três aspectos através da narrativa gráfica: seca, obra e água. Para isso, passaram 15 dias nas cidades que cortam todo o Eixo Leste da Transposição do rio São Francisco. A obra pode ser encontrada no site da editora Ugra Press.

Jornalismo em Quadrinhos sobre a polícia militar.
Jornalismo em Quadrinhos sobre a polícia militar. | Foto: Reprodução.

Socorro! Polícia! Um Quadrinho Sobre o que a PM Sofre e o que Sofremos com Ela – Escrita pelos jornalistas Amanda Ribeiro e Luiz Fernando Menezes, a obra reporta entrevistas feitas por eles com policiais militares e especialistas em segurança pública. Explora pesquisas e bancos de dados sobre a instituição, buscando evidenciar os motivos e números da relação problemática entre PM e população.

Extraction!: Comix Reportage.
Extraction!: Comix Reportage. | Foto: Reprodução.

Extraction!: Comix ReportageExtraction foi produzida por um time de premiados artistas e jornalistas. A obra conta histórias a respeito de atividades criminosas de empresas de mineração. Dividido em 4 partes, as expedições relatam os impactos que essas indústrias estão causando nas comunidades e ecossistemas. Obra assinada por Dawn Paley, Tamara Herman, Jeff Lemire, Phil Angers e Carlos Santos.

3. Quadrinhos de não ficção, tópicos históricos, literários ou científicos mais amplos

Maus, obra do Jornalismo em Quadrinhos, de Art Spiegelman.
Maus, obra do Jornalismo em Quadrinhos, de Art Spiegelman. | Foto: Reprodução.

Maus – Na obra, Art Spiegelman publica as experiências de seu pai como judeu polonês e sobrevivente do Holocausto na série Maus. A história é contada por meio de alegorias, ratos representam os judeus e os gatos representam nazistas. Spiegelman usa o gênero para lidar com questões reais de xenofobia, tortura e guerra.

O Elísio, do brasileiro Renato Dalmaso.
O Elísio, do brasileiro Renato Dalmaso. | Foto: Reprodução.

O Elísio: uma jornada ao inferno – Ainda no assunto Segunda Guerra, a produção brasileira de Renato Dalmaso publicada em 2019, pela editora Avec, merece destaque. A obra é baseada na história real do pracinha brasileiro, Eliseu de Oliveira, que serviu na Segunda Guerra Mundial representando o país na Força Expedicionária Brasileira contra os nazifascistas na Itália e Alemanha. O Elísio conta com relatos do próprio soldado e roteiro elaborado a partir da tese do historiador Douglas Almeida.

O livro Persépolis é um exemplo de obra do Jornalismo em Quadrinhos.
O livro Persépolis é um exemplo de obra do Jornalismo em Quadrinhos. | Foto: Reprodução.

Persépolis – A obra autobiográfica escrita e desenhada por Marjane Satrape, retrata sua infância até seus primeiros anos de vida adulta no Irã, durante e após a Revolução Islâmica. A produção tem forte carga política, social e religiosa, devido a isso, conquistou leitores por todo mundo, sendo traduzida em vários idiomas e vendendo mais de dois milhões de cópias.

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Por Eduardo Fabrício Ferreira – Fala! ESPM SP

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