Nesse 8 de junho, dia mundial dos oceanos, entenda a dependência mútua existente entre a saúde do homem e a dos mares
O oceano já foi visto como perverso, indecifrável e descartável, porém, para a comunidade científica atual, esse gigante é considerado um mar de recursos para a vida. Apesar de ainda ser pouco conhecido pelo homem, já se sabe que sua importância para a manutenção da vida na Terra vai muito além da sua relevância comercial.
Sendo o principal regulador térmico do mundo, a preservação do oceano é essencial para a iminente crise climática que assola o planeta. Além disso, com toda a sua biodiversidade, há uma extensa lista de espécies de organismos marítimos utilizados para o tratamento de doenças, incluindo uma bactéria que acelera a detecção do coronavírus.
Apesar disso, ações humanas vêm trazendo danos irreversíveis para a manutenção da vida subaquática. Em virtude da percepção das mudanças marítimas provocadas por homens, a Conferência Rio 92 criou o dia do oceano, celebrado em 8 de junho, e oficializado no calendário da ONU em 2008. Esse dia tem como objetivo relembrar a população sobre a importância da preservação dos oceanos.
Como o mar nos afeta
Os oceanos são abrigo para um importante aliado da fauna, da economia, da segurança das pessoas, da ciência e da água. Esses aliados multitarefas são os recifes de corais. Além de apresentarem uma beleza dada pelas suas cores e formas exuberantes, esses diversificados ecossistemas são lar para cerca de 25% de toda a fauna marinha.
Esses recifes também impedem a chegada de tsunamis e tempestades na costa, uma vez que funcionam como barreira natural. Por sua vez, eles também filtram a água, já que se alimentam de CO2, fator que mantém o pH do mar equilibrado. E, naturalmente, por consistir em um variado ecossistema, é um rico recurso de novas descobertas científicas.
E essas descobertas beneficiam vários campos da ciência, inclusive a medicina. Pesquisadores de todo o mundo vêm encontrando soluções para tratamentos, detecção, prevenção e acompanhamento de doenças em organismos marítimos. Durante a pandemia, uma bactéria que agiliza a detecção do coronavírus foi destaque.
A oceanógrafa e pesquisadora da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Francesca Santoro, diz que ainda há muito a ser conhecido.
Ainda estão para ser descobertos recursos úteis para a vida cotidiana dos seres humanos. O oceano profundo já nos deu compostos para tratar câncer, inflamação e danos nos nervos.[…] O oceano é um aliado no combate ao vírus.
Declarou Francesca.
É importante ressaltar que, além das descobertas apontadas, milhares de pessoas ao redor do mundo dependem dos mares para o próprio sustento. São pescadores, marisqueiros, comerciantes e tantos outros trabalhadores que garantem a renda anual através dos recursos marítimos.
Como afetamos o mar
Em troca a todos os benefícios, a resposta da humanidade aos mares tem sido violenta, e ela não vem só dos litorais. A poluição de rios, causada principalmente pela falta de tratamento do esgoto e pelo descarte inadequado de lixo, principalmente plástico, leva uma grande quantidade de resíduos tóxicos para o mar.
A soma dessa poluição com a que vem de ações antrópicas nas costas e no próprio mar – em navios, por exemplo – resulta na degradação da qualidade da água, impossibilitando, assim, a existência de várias espécies. Ao intoxicar peixes e frutos do mar, a população está danificando a própria qualidade de vida, uma vez que esses animais são comercializados e comidos pelo homem.
Os recifes de corais também são altamente sensíveis a tais mudanças no ambiente aquático. O aquecimento global, a poluição e a pesca predatória afetam a ação dos recifes, e os tornam ociosos. As cores exuberantes se transformam em um branco acinzentado e as espécies são retiradas de seus habitats à força.
O branqueamento do coral é a morte dos pólipos responsáveis pela construção dos recifes de coral, devido a problemas ambientais, como a mudança do clima.
O futuro dos oceanos do mundo está ameaçado por mudanças climáticas, poluição e práticas de pesca destrutivas — assim como pela falta de capacidades de combater essas ameaças. Peço uma ação conjunta global para garantir que nossos oceanos sejam tranquilos, seguros e generosos, e permaneçam saudáveis como nosso lar azul.
Mensagem do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, no Dia Mundial dos Oceanos, 8 de junho de 2017
A destruição em números
- Segundo o professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), Alexander Turra, 80% do lixo que está nos oceanos vêm de fontes terrestres, mais precisamente da atividade humana, e 20% são provenientes de atividades realizadas no mar, como a pesca e transportes marítimos.
- Cerca de 83% da água que sai das nossas torneiras contém partículas de plástico. Assim que consumidas, seus resíduos químicos, que são tóxicos, vão parar diretamente na nossa corrente sanguínea”, alertou Achim Steiner, administrador do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), durante seu discurso em evento da ONU, no Dia do Meio Ambiente de 2018.
- Um estudo divulgado em 2016 pelo Fórum Econômico Mundial de Davos afirmou que, até 2050, os oceanos terão mais pedaços de plástico do que de peixes. De acordo com estudos, esses materiais levam ao menos 450 anos para serem totalmente decompostos.
- A taxa de aquecimento dos oceanos dobrou, desde o início dos anos 90, e as ondas de calor marinhas estão se tornando mais frequentes e intensas – tendências que estão remodelando os ecossistemas oceânicos e alimentando tempestades mais poderosas.
Há consequências
As respostas ao descuido com o ambiente aquático vem tanto da natureza, quanto dos seres humanos. Isso porque a recorrência de desastres naturais vem aumentando sistematicamente, mas acidentes envolvendo ações antrópicas também contribuem para consequências desastrosas.
No Brasil, o exemplo mais recente de como a degradação do mar afeta diversas vidas foi o aparecimento de manchas de óleo no Nordeste, em agosto de 2019. O Ibama afirma que 1.004 localidades foram atingidas desde 30 de agosto, de acordo com o balanço mais recente.
Até hoje, não se sabe ao certo a origem do vazamento, portanto, ninguém foi responsabilizado. Porém, além do ocorrido ter afetado a vida de animais marinhos, seu impacto chegou à superfície. O turismo foi altamente afetado, assim como os pequenos comerciantes e pescadores das regiões. Após protestos por suporte das instituições governamentais, muitos pescadores receberam indenizações.
Na época, habitantes das localidades se arriscaram para retirar a substância até então não identificada das praias, visto que os governos tardaram para tomar medidas. Esse caso, assim como diversos outros causados pela ação antrópica no mar, mostra como o oceano pode ser um aliado da ciência e da saúde, mas também pode espalhar resíduos nocivos à vida na Terra, se medidas de preservação não forem tomadas.
A pauta ambiental e a pandemia
2020 seria um “super ano”, dentro das perspectivas da ONU de definir um tom para o calendário ambiental da nova década, começando por uma conferência para o oceano em Lisboa, a qual foi adiada para data indeterminada. Entretanto, com a pandemia, os focos foram redirecionados, porém, a urgência do debate não diminuiu.
Funcionários da ONU alertam para o não esquecimento da preservação ambiental, uma vez que ela está diretamente ligada às questões de saúde pública. Muitas vezes, as soluções de patologias estão na natureza, mas muitas doenças se formam também na natureza e são disseminadas através da intervenção humana nela.
Em vídeo, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lembrou que as soluções nessa temática estão na própria natureza.
A Covid-19, que emanou da natureza, mostrou como a saúde humana está intimamente ligada com a relação que temos com o meio ambiente. À medida que invadimos a natureza e esgotamos habitats vitais, um número crescente de espécies está em risco. Incluindo a Humanidade e o futuro que queremos.
Destacou.
A preservação dos oceanos é o tema da Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, portanto, está dentro da agenda 2030 no Pacto Global. Essa, combinada com os demais 16 ODS, formulam um ideal de desenvolvimento global, e mostram, mais do que nunca, a necessidade de ações para a manutenção do meio ambiente.
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Por Elisa Rabelo – Fala! UFMG