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‘Hiroshima’: o livro em que ficamos lado a lado com a bomba

John Richard Hersey foi um escritor e jornalista norte-americano, nascido na China no dia 17 de junho de 1914. Correspondente das revistas LifeTime e The New Yorker, o autor ficou extremamente conhecido como um dos precursores do Jornalismo Literário, movimento caracterizado pelo romance de não-ficção, que mistura a narrativa jornalística com a literária. John ganhou o prêmio Pulitzer com sua obra A Bell for Adano e obteve muito sucesso com Hiroshima, reportagem que colocou o autor entre os dez americanos mais importantes de 1946.

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Bomba em Hiroshima narrada na obra. | Foto: Reprodução.

Livro Hiroshima

A fantástica obra Hiroshima foi publicada no dia 31 de agosto de 1946, inicialmente como um artigo para a revista The New Yorker, que acabou reservando uma edição inteira para o relato dos sobreviventes da bomba e suas detalhadas percepções. A reportagem foi considerada a melhor já escrita e vendeu mais de 300 mil cópias. Traduzida por Hildegard Feist, o livro chegou ao Brasil em 2002, com cerca de 100 páginas, sob o selo da Companhia das Letras.

O livro-reportagem contém o relato de seis hibakushas (termo criado para designar os sobreviventes e que significa “pessoas afetadas pela explosão”), que contam os minuciosos detalhes do cenário antes, durante e depois da explosão da bomba atômica na cidade de Hiroshima. John não poupa os pormenores e faz o leitor sentir as emoções de perto, criando, inclusive, um sentimento de empatia pelas personagens.

A obra é narrada em terceira pessoa e tem como personagens principais um reverendo batalhador, uma viúva com três filhos, um médico brincalhão, um padre altruísta, um cirurgião ambicioso e uma jovem secretária. Com o emprego da linguagem culta de forma extremamente clara, Hiroshima envolve o leitor a cada passagem do texto, mantendo-o interessado do início ao fim. A edição foi dividida em cinco capítulos, com um encadeamento de ideias coerentes, que transmite os sentimentos e as lutas ao longo de cada um deles.

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Livro Hiroshima. | Foto: Reprodução.

Divisão dos capítulos

O primeiro capítulo, “Um clarão silencioso”, apresenta as principais personagens, conta o que cada uma delas estava fazendo exatamente no momento antes da bomba explodir e relata o cenário da cidade, preenchido por medo e tensão. Desde o início, já é perceptível que o enfoque do autor não está nos aspectos técnicos, mas nos efeitos gerados pela bomba atômica. A obra tem caráter humanitário e atemporal, visto que após mais de setenta anos, o livro ainda serve de exemplo.

O segundo capítulo, “O fogo”, mostra o que ocorreu no momento em seguida da explosão: milhares de incêndios, desmoronamentos e destruições. A cidade estava o caos, a maior parte dos médicos e enfermeiros havia morrido ou estava lesionado. Realizava-se um trabalho rápido e mecânico por parte dos que restaram, pois tinham milhares de feridos. Nessa passagem, o leitor passa a sentir a miséria humana dos sobreviventes, já que não importava mais a classe social ou a cultura, todos tinham algo em comum e lutavam juntos.

O terceiro capítulo, “Investigam-se os detalhes”, relata o panorama da cidade após algum tempo da explosão, com ainda mais mortes e o começo dos questionamentos sobre a bomba. Nesse momento, podemos observar características da cultura japonesa, que tinha como ritual sagrado a cremação dos mortos. É também nesse capítulo que o imperador declara o fim da guerra e, mesmo com tanto desastre, é possível sentir o sentimento de felicidade e orgulho dos sobreviventes ao ouvirem a voz do imperador.

O quarto capitulo, “Flores sobre ruínas”, mostra a passagem do tempo e os efeitos da radio-intoxicação. Milhares de pessoas estavam com depressão, homens ficaram estéreis, as mulheres não menstruavam, além da queda de cabelo, mal-estar e febre ainda presentes nas vítimas. Nesse momento, a cidade começou a ser normalizada e o livro nos propôs uma reflexão sobre os aspectos éticos da bomba.

Já o quinto capítulo, “Depois da catástrofe”, conta a vida das seis principais personagens quarenta anos após a explosão. Esse trecho mostra as dificuldades passadas por cada uma delas para sair daquela situação de miséria e seguir a vida normalmente. A verdade é que nenhuma delas voltou a viver como antes, visto que guardaram sequelas físicas e psicológicas. Apesar de tudo, é possível observar em todos os hibakushas um sentimento de identificação e orgulho.

Após toda a descrição brutal e realista, o livro possui um posfácio, escrito por Matinas Suzuki Junior, que ressalta o poder do Jornalismo. Hiroshima relata um dos maiores desastres históricos e é a reportagem mais importante do século XX. John Hersey dá voz a todos os hibakushas e honra a memória de cada um deles de maneira harmoniosa. A obra foi um divisor de águas na comunicação, pois o autor foi capaz de transmitir o sofrimento de uma guerra para as próximas gerações.

O livro é um gigante do Jornalismo Literário e foi, sem dúvidas, uma das minhas melhores leituras. Cada detalhe ficou extremamente marcado em minha memória, eu nunca pensei que poderia sentir tão de perto este sentimento. A obra tem uma escrita instigante, que nos envolve e nos machuca. O autor narrou cada desastre e cada grito de “Socorro!”, não poupando detalhes e nos mostrando que a vida de cada indivíduo importava. Ao final, refleti sobre cada uma das cem mil vidas perdidas e sobre a inutilidade da guerra. Até hoje, ainda não sabemos o limite da rivalidade humana e a capacidade de destruição do homem. 

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Por Letícia Felix – Fala! Cásper

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