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Greve dos Caminhoneiros – Demandas, Acordos e Entrevista

Por Danielle Moratte – Fala!Anhembi

 

GREVE DOS CAMINHONEIROS: A MANIFESTAÇÃO QUE PAROU O BRASIL

 A paralisação dos caminhoneiros teve seu início na segunda-feira (21). O principal motivo para o protesto dos caminhoneiros autônomos foi o aumento do valor dos combustíveis, em especial o diesel. Os motoristas pediam também a zeragem da alíquota de PIS/Pasep e Confins e a isenção da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE).  Com a interdição de vias em todo o país, combustíveis e alimentos tiveram suas entregas suspensas, o que acarretou a perca de alimentos perecíveis e o cancelamento de voos.

Foto: Nilton Cardin/Estadão Conteúdo

 Após a alteração da política de preços da Petrobras, em julho de 2017, os reajustes começaram a ser quase que diários. Por conta disto, os consumidores passaram a ter uma instabilidade e um aumento constante no valor do combustível. Os caminhoneiros alegam estar no limite dos custos, já que os gastos com combustível contam cerca de 42% do frete.

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Mas não é a primeira vez que ocorre este tipo de paralisação, a mais recente havia sido em agosto 2017. As solicitações por parte dos caminhoneiros eram parecidas com as deste ano, dentre elas contra o aumento do valor dos combustíveis, porém era liberada a passagem para caminhões de combustíveis e de alimentos perecíveis, o que fez com que a visualização da greve não fosse tão grande como a de agora, já que o número de afetados foi inferior.

Entrevistamos o caminhoneiro Marco Antônio Pastor, 45 anos, morador de Fátima do Sul – MS, sobre as greves em que ele já participou. Marco está na profissão há 26 anos e, recentemente, ficou afastado por problemas de saúde, decorrente da vida profissional.  

Com o avanço da tecnologia, hoje temos celulares e redes sociais que ampliam os avisos aos caminhoneiros de que haverá greve, mas nem sempre foi assim. Como era/é feito os avisos de que haverá greve?

A gente fica sabendo até por coronel do exército, que manda áudio pedindo para segurar. O Rádio PX [rádio utilizado para caminhoneiros se comunicarem], ajuda a informar todos os caminhoneiros de que vai ter uma paralisação tal dia e tal hora.

Por serem autônomos, como é a ligação com o Sindicato? Existe essa aceitação de ter esses representantes?

Sindicato hoje não existe. Mandam qualquer um ir e conversar e muitas vezes não é motorista, não tem caminhão… Aí sai na mídia que tá liberado, mas não tá, ninguém concorda. É muita gente corrupta envolvida, as pessoas escutam tudo da mídia e acham que é uma palavra dita.  O sindicato vai no governo, fazem um acordo só para passar pano na situação. O motorista que paga o preço. A gente tá sofrendo nas estradas. Se depender do governo, motorista tá ferrado.

Qual a influência das transportadoras?

As transportadoras influenciam. Quando estão de acordo elas não dão ordem para o motorista carregar. Elas apoiam. Se elas liberam a ordem, os motoristas carregam, mas elas não dão a ordem, porque querem protestar também contra o governo.

Como são as melhorias após a greve? Elas continuam?

Nunca vai ter melhoria. Vou te explicar, agora eles liberam algumas coisas, mas daqui um tempo ele sobe imposto de tudo. Ele [o governo] sempre vai derrubar o caminhoneiro, porque é de nós que eles ganham dinheiro, é em cima do caminhoneiro.

O senhor poderia nos contar como foi a dificuldade que passou, por conta da falta de gasolina?

Minha sogra faleceu, mas morava em outra cidade, eu não tinha gasolina para ir até lá. Deixando claro que isso não influência no meu apoio à greve. Tive que pegar o carro do meu sobrinho para levar minha esposa até uma cidade próxima (Dourados), onde ela pegou um ônibus para ir, só conseguimos uma passagem.


Fila de carros em Brasília. Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília

 

Em tentativas para finalizar a greve, o governo propôs acordos, mas será que ele demorou para agir? Há indícios que o governo teria recebido avisos sobre a greve, mas que não considerou a proporção que ela levaria, o que fez com que as medidas demorassem a serem tomadas. A CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos) apresentou em 16 de maio um ofício ao governo federal pedindo o congelamento do preço do diesel e a abertura de negociações. Orientou também, dois dias depois, sobre a possível greve, mas foi ignorada.

A seguir algumas medidas tomadas pelo governo:

PRIMEIRO ACORDO  – 24 de maio de 2018 (quinta-feira)

No 4º dia de greve, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Carlos Marun (Secretaria de Governo), Eduardo Guardia (Fazenda) e Valter Casimiro (Transportes) anunciaram a então proposta para a suspensão da paralisação da categoria. A reunião durou mais de 6 horas e os representantes das entidades de caminhoneiros que ficaram até o final da reunião, se comprometeram (com exceção de um) a passar as informações acordadas aos manifestantes.

Padilha ainda previu que, até segunda-feira (28), tudo estaria normalizado, já que o acordo teria se iniciado. ‘’Se nós começarmos hoje [quinta, 24], como imagino que vá acontecer, possivelmente nós deveremos ter um fim de semana, quem sabe até segunda-feira, todos os pontos normalizados’’, declarou.

Mas não foi isso que aconteceu. A sexta-feira amanheceu e com ela diversas vias do país ainda estavam bloqueadas.

SEGUNDO ACORDO  – 26 de maio de 2018 (sábado)

Após o primeiro acordo não ter sido aceito por todos os caminhoneiros, o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), declarou no final da tarde de sábado (26), um acordo prévio, onde afirmou a suspensão da cobrança de tarifa de pedágio para eixo elevado dos caminhões nas rodovias paulistas. A determinação seria para que os caminhoneiros desbloqueassem a Rodovia Régis Bittencourt até às 19h, e o restante das rodovias até terça-feira. Foi aceito também anular a cobrança das multas aplicadas aos caminhoneiros, devido aos bloqueios realizados ao longo de toda mobilização.

Em contrapartida, os motoristas se comprometeram a desbloquear o Rodoanel e a Rodovia Régis Bittencourt. Alguns pontos foram liberados, mas muitos pontos continuaram bloqueados.

POLÍCIA MILIAR E TROPA DE CHOQUE

No Rodoanel, foram interditadas duas pistas ao longo do sábado, totalizando cerca de dois quilômetros no sentido litoral.

Ainda no sábado, o presidente Michel Temer (MDB) assinou um decreto que autorizava as Forças Armadas e autoridades envolvidas nas ações de desbloqueios a requisitarem servidores públicos para conduzirem os caminhões de grevistas. Por continuarem bloqueando as pistas, a Polícia Militar mobilizou equipes da Tropa de Choque para acompanhar a situação.

Segundo testemunhas, um comandante que não teve seu nome revelado, havia liberado a passagem de caminhoneiros em uma via do MS, onde eles deviam obedecer a ordem de sair daquele local, mas que poderiam parar metros seguintes continuando com a greve.

TERCEIRO ACORDO – 29 de maio (terça-feira)

O governador de São Paulo, Márcio França (PSB), firmou nesta terça-feira (29) um acordo com 13 caminhoneiros identificados como líderes dos movimentos da categoria. O pedido foi para o fim das manifestações. Na noite anterior o governador havia conversado por telefone com o presidente Temer (MDB), onde pretendia uma nova negociação.

Aos poucos muitos caminhoneiros foram deixando a paralisação, com o enfraquecimento, aos poucos as vias foram sendo liberadas, no feriado da quinta-feira (31), as rodovias já estavam livres.

MELHORIAS

– A partir de sexta-feira (1), valerá a diminuição de R$ 0,46 no preço do óleo diesel;

– Isenção da cobrança de pedágio para eixo suspenso de caminhões vazios, em rodovias federais, estaduais e municipais;

– Determinação para que 30% dos fretes da Conab sejam feitos por caminhoneiros autônomos;

– Tabela mínima para fretes.

HOUVE LOCAUTE?

Muitos se perguntaram, o que seria locaute? A palavra tão falada nos dias de greve é uma prática criminosa, onde empresas que financiam a paralisação dos caminhoneiros, ou seja, uma greve de patrões. Mas, por que é benéfico para eles ocorrer a greve?

Quando ocorre a paralisação total, os motoristas ganham a mídia e pressionam o governo para atender as melhorias que são solicitadas. Muitas destas melhorias não chegam até o empregado, já que as empresas que deixarão de pagar impostos e os funcionários não ganham nenhum benefício.

Na quinta-feira (31), a polícia federal realizou uma operação para combater a prática de locaute. Segundo as investigações, os caminhoneiros teriam sido pressionados a manterem a greve. A operação nomeada de Unlocked, foi deflagrada no Rio Grande do Sul e um empresário foi preso. As investigações continuam em busca de novos possíveis envolvidos.

COMO O PAÍS SE TORNOU REFÉM DOS CAMINHÕES?

A greve trouxe a todos uma realidade antiga: a dependência que o país sofre de caminhões. Hoje, apenas 32% das mercadorias do país são transportadas por trens ou embarcações. A falta de avanço em outros meios de transporte, tornou o país refém das estradas.

Para o governo, as rodovias são menos complexas e mais baratas para se produzir, o tempo de finalização também é inferior. O Brasil tem cerca de 211 mil quilômetros de vias pavimentadas, ainda assim é maior que o número da malha ferroviária que se estende por 29 mil quilômetros, com a falta de planejamento as rodovias ainda são as principais rotas.

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