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Göbekli Tepe: 5 curiosidades sobre o marco histórico da Turquia

Sanliurfa, Turquia: Safak Yildiz arava uma pequena porção de terra quando se deparou com um pedaço de rocha esculpida à mostra. O fazendeiro não sabia no momento, mas havia acidentalmente encontrado um fragmento do mais antigo templo já construído – e que, posteriormente, viria a desafiar as concepções tradicionais sobre a origem da humanidade e da religião

Após a descoberta da rocha, o museu da cidade logo foi alertado e, em 1994, o arqueólogo alemão Klaus Schmidt, que trabalhava perto da região, resolveu datar o objeto. Após constatar uma idade de 12.000 anos, rapidamente o pesquisador deu início às escavações no local do achado – em 1995 – e descobriu um conjunto das mesmas rochas entalhadas que, juntas, compunham um templo, posteriormente nomeado de Göbekli Tepe.

Curiosidades sobre o templo Göbekli Tepe

Estrutura Complexa

O templo está localizado a 15km da cidade de Sanliurfa, em uma pequena colina, e é composto por santuários circulares – de dez a vinte metros de diâmetro – que abrigam conjuntos de rochas em diferentes tamanhos e com o formato de “T”, cada uma pesando entre sete e dez toneladas.

Göbekli Tepe
Göbekli Tepe, 01/10/2010. | Foto: Reprodução/Unesco.

As construções foram concebidas no período pré-histórico do Neolítico, no 10° milénio, e até podem parecer simples, mas nasceram em uma era em que ainda não se havia inventado a roda, ou muito menos ferramentas em metal. Para se ter uma ideia, o Stonehend – situado na Inglaterra – foi concebido somente 7.000 anos depois dos santuários. 

As rochas do Göbekli Tepe, que têm até 5 metros de altura, foram esculpidas e erguidas em calcário de qualidade altíssima e suas edificações demandariam grupos humanos numerosos, especializados e organizados, que se sustentassem através de assentamentos e comida garantida durante as construções. Fato intrigante para os pesquisadores, já que, no período em questão, a região era habitada apenas por tribos nômades e independentes de caçadores coletores que ainda não conheciam a agricultura. 

Göbekli Tepe desafia a história tradicional​

O templo não intriga somente pelos desafios que impõe às sociedades da época, mas questiona o entendimento que a historiografia tradicional tinha acerca da origem da religião e, principalmente, da agricultura. 

Até então, era consenso que o desenvolvimento estruturado de religiões se deu apenas após a Revolução Agrícola, entre o 10° e o 9° milênio, na passagem do período Paleolítico ao Neolítico – momento em que os agrupamentos humanos iniciaram o cultivo sementes, domesticaram animais e se assentaram em uma porção de terra, deixando o nomadismo. 

A teoria se justifica pelo fato de que, com a agricultura e a domesticação, a estrutura religiosa se desenvolveria naturalmente pelo tempo disponível e pela necessidade das novas organizações sociais. Entretanto, a descoberta de Göbekli Tepe abalou esse entendimento. 

Dentro do templo não foram encontrados ossos de animais domesticáveis – apenas selvagens -, tampouco sementes férteis. Isso implica que o local era usado somente para costumes religiosos das tribos e que a agricultura e a pecuária não eram práticas conhecidas. Logo, os arqueólogos buscaram entender a história de uma maneira diferente. 

O templo despertou o olhar de que os próprios costumes religiosos poderiam ter incentivado o surgimento das práticas de domesticação e cultivo, já que construções sagradas como Göbekli Tepe e posteriores expedições a locais semelhantes demandariam estabilidade de comida e abrigo das tribos nômades. 

Monte Barrigudo​

Não bastasse as descobertas já mencionadas, os pesquisadores logo constataram que a colina em que Göbekli Tepe se situava era artificial, produzida por sobreposições de diversos outros santuários sedimentados. É daí que vem o nome do templo, que em livre tradução do turco significa “monte barrigudo”. 

Através de pesquisas geomagnéticas na região, foram encontrados até vinte recintos soterrados e apenas quatro estariam sendo escavados. Nota-se que à medida que os templos foram construídos e utilizados, logo eram “enterrados” pelos habitantes. 

Göbekli Tepe escavação
Vista aérea da principal escavação, 01/09/2011. | Foto: Reprodução/Unesco.

Os santuários mais novos foram datados como pertencentes ao 9° milênio, já os mais velhos ao 10°. Com este ciclo repetido por milhares de anos, o resultado foi uma colina de aproximadamente 15m.

Após algumas análises, apurou-se também que o material empregado para enterrar as construções não era solo fértil. Sem conclusões consistentes, acredita-se que os sedimentos eram misturas de ossos de animais fragmentados, pedras moídas, entre outros. Ainda assim, para cobrir apenas um dos recintos, seria necessário aproximadamente 500m³ de resíduos. 

Entalhes curiosos

​As grandes rochas em formato de “T”, além de terem sido estrategicamente posicionadas em cada um dos santuários, abrigam por toda a sua extensão entalhes de animais e representações humanas das mais diversas.

As reproduções de animais se baseiam em tipos selvagens, como raposas, escorpiões, cobras, entre outros. Já as figuras humanas aparecem em sua maioria sem a cabeça. 

rochas
Figuras nas grandes rochas, 01/05/2010. | Foto: Reprodução/Unesco.

Além disso, foi-se descoberto que as próprias rochas em “T”, que carregam os desenhos mencionados, simbolizam uma figura humana. Algumas delas apresentavam braços e dedos, e a cabeça seria a parte superior da pedra. 

Rochas em "T"
Rochas em “T”, Göbekli Tepe, 01/05/2010. | Foto: Reprodução/Unesco.

Os arqueólogos ainda não atribuem uma explicação concreta, mas entende-se que os desenhos poderiam ter um papel fundamental dentro de rituais ou, até, servirem como guardiões. 

Um patrimônio mundial

Em 2018, Göbekli Tepe foi listado como patrimônio mundial pela Unesco e é protegido desde então. As escavações ainda não foram cessadas e, hoje, são regulamentadas pelo Ministério de Cultura e Turismo da Turquia, em conjunto com o museu local e o Instituto de Arqueologia Alemão. Além disso, o templo é aberto à visitação para os turistas curiosos que chegam à Turquia.

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Por Isabelle Aradzenka – Fala! Cásper

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