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George Floyd: Um marco na luta racial dos Estados Unidos

Recentemente, mais um caso de racismo e violência policial chocou o mundo. Na cidade de Minneapolis, nos Estados Unidos, George Floyd, um homem negro cuja acusação era o uso de uma nota falsa de US$20, foi morto asfixiado pelo até então policial Derek Chauvin, que se ajoelhou em seu pescoço. 

Apesar de Floyd estar desarmado, imobilizado e por falar, pelo menos dezesseis vezes, que não conseguia respirar, o oficial passa cerca de oito minutos sufocando-o, como provam vídeos realizados por pessoas locais. 

George Floyd
George Floyd é morto por asfixia. | Foto: Reprodução.

Ainda segundo levantamentos feitos pelas emissoras norte-americanas CNN e NBC, com registros policiais de Minneapolis, esse tipo de imobilização era comum em Minneapolis. No entanto, a manobra era majoritariamente efetuada contra negros, confirmando o racismo policial e, a maioria deles, ficaram feridos. 

Grande parte dos departamentos de polícia do país deixaram de recomendar a restrição dos movimentos com o uso do joelho no pescoço, justamente por conta dos riscos de lesões graves e morte. Havendo exceção apenas em caso de risco à vida do policial, o que não foi comprovado no caso de George Floyd. 

A versão dos policiais sugere que George resistiu ativamente à prisão, fazendo-se necessário esse tipo de imobilização. Contudo, imagens de câmeras de segurança próximas demonstram a vítima já dentro da viatura, algemada, quando o policial Chauvin a retira do veículo, por motivos ainda desconhecidos, e realiza o ato que causou a morte de Floyd. 

Os protestos

A demora para culpar judicialmente os envolvidos no crime fomentou a revolta da população negra, que é constantemente perseguida pela polícia devido à sua cor de pele. Isso provocou a maior onda de protestos raciais nos Estados Unidos desde o assassinato de Martin Luther King.

Manifestantes protestam contra o racismo e o assassinato de George Floyd, em Austin, no Texas, na noite de domingo (31).
Manifestantes protestam contra o racismo e o assassinato de George Floyd, em Austin, no Texas, na noite de domingo (31). | Foto: Reprodução.

Uma das principais mensagens das manifestações, e a que mais se encontra presente nos cartazes, é “Black Lives Matter” (vidas negras importam, traduzindo). Essa frase tem forte impacto frente à sociedade racista que, por muitas vezes, não se importa com as vidas negras, nem se elas são tiradas injustamente, como a de George Floyd. 

Além disso, o ato de se ajoelhar colocando apenas um joelho no chão tornou-se um importante símbolo na luta contra o racismo. Isso porque, em 2016, o jogador de futebol americano Colin Kaepernick negou-se a ficar em pé durante a execução do hino norte-americano em um jogo da NFL. Essa forma de protesto pretendia chamar a atenção para a violência policial contra negros. 

Anos depois, o jogador resolveu ficar de joelhos, alegando ser uma forma mais respeitosa de protesto, já que muitos se incomodaram com a imagem do jogador sentado perante a bandeira e o hino nacional. E, assim, esse gesto de manifestação se espalhou entre os atletas negros na NFL. 

resistência negra
Colin Kaepernick ajoelhado em um dos jogos da NFL. | Foto: Reprodução.

O gesto tomou ainda mais proporção quando o Presidente dos Estados Unidos criticou veementemente os atletas por essas manifestações, sugerindo que seus apoiadores boicotassem os jogos em que houvesse “desrespeito aos símbolos nacionais”. 

A partir disso, se ajoelhar se tornou não só um símbolo contra o racismo, mas uma manifestação contra o presidente Trump. A foto de Martin Luther King, em oração com um dos joelhos no chão em 1965, no Alabama com a #takeaknee (ajoelhe-se). 

Em 2020, esse ato tornou-se ainda mais simbólico, já que faz referência ao momento em que George Floyd foi brutalmente asfixiado por Derek Chauvin. Alguns policiais, inclusive, se juntaram aos manifestantes nessa forma de protesto. 

policiais se ajoelham por george floyd
Policiais se juntam a manifestantes e protestam a morte de Floyd. | Foto: Reprodução.

Reação das autoridades  

Com a intensificação dos protestos, a reação das autoridades foi reprimi-las duramente. Foram estabelecidos toques de recolher, além de designar grande parte da força policial para conter os protestos. 

Mas essas medidas não fizeram os manifestantes recuarem. O toque de recolher não foi obedecido e parte da polícia juntou-se ao protesto, demonstrando respeito e apoio aos cidadãos.

Na sexta-feira (29), houve tensão nos protestos em frente à Casa Branca, que teve suas luzes apagadas. Além disso, o presidente foi transferido para um bunker (abrigo subterrâneo e fortificado, usado em casos de guerras ou desastres na superfície), enquanto os manifestantes eram agredidos às escuras. Com isso, Trump chegou a dizer, em seu Twitter, que consideraria os grupos antifascistas como terroristas.

Além disso, insatisfeito com a resposta dos prefeitos e governadores, o presidente ameaçou invocar a Lei da Insurreição. Esta lei federal “autoriza o emprego das forças terrestres e navais dos Estados Unidos em casos de desordem, insurreição e rebelião”. Essa lei foi usada pela última vez em 1992, quando eclodiu mais um caso de racismo policial, contra Rodney King, que foi brutalmente espancado pela polícia. Foram enviados 4 mil soldados para as ruas de Los Angeles, no total, 60 pessoas morreram nesses protestos.

Além da população estadunidense, políticos e autoridades não concordaram que essa não é a melhor forma de resposta aos protestos. Além de ser criticada por todo o mundo, se tornando assunto em alta nas redes sociais, já que a maioria do país e do mundo simpatiza com a causa e apoia os manifestantes.

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Por Bárbara Moraes – Fala! UFPE

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