No dia 25 de maio de 2020, mais uma vida preta foi perdida injustamente. Desta vez, foi o caso de George Floyd, um segurança de 40 anos que residia na cidade de Minneapolis, capital de Minnesota (EUA), e foi abordado quando fazia compras no estabelecimento local Cub Foods, no qual era um cliente recorrente.
Neste dia, Floyd foi acusado de utilizar notas falsas na loja, embora o dono o considerasse um homem gentil e honesto. O funcionário que duvidou de Floyd e considerava o comportamento do ex-segurança “um tanto estranho” chamou a polícia, que alcançou o local em poucos minutos. O policial, agora exonerado, Derek Chauvin chegou com a viatura e questionou Floyd sobre o ocorrido de maneira acusatória, mesmo o civil estando desarmado e rendido.
Em poucos segundos, George Floyd, sem a possibilidade de defesa, já estava no chão, de bruços, com o joelho de Chauvin pressionando seu pescoço. O ex-policial manteve a força, tentando fazer a vítima confessar, durante 8 minutos e 46 segundos, embora Floyd já estivesse desacordado nos últimos dois. Um vídeo, gravado por testemunhas do local, retrata Floyd suplicando por sua vida e afirmando diversas vezes que não conseguia respirar, mas a expressão do policial continuava a mesma: impassível.
Após o pedido de uma autópsia pela família da vítima, foi declarada morte por asfixia, retratando, mais uma vez, os efeitos da repressão policial em vidas de pessoas negras. Não havia provas concretas contra Floyd, não havia certezas de sua culpabilidade, mas a injustiça foi o que levou sua vida. George Floyd foi uma das inúmeras vítimas do racismo institucional ao redor do mundo.
George Floyde e o racismo institucional
Essa discriminação, entretanto, está longe de ser recente. Há mais de 300 anos, vidas pretas são injustiçadas perante a lei por motivos baseados em suposições e intolerâncias. Injustiças causadas, muitas vezes, pelo enraizado racismo institucional; um tratamento diferenciado entre raças no interior de organizações, principalmente o Estado, de modo a privilegiar um grupo em detrimento de outro, sem qualquer respaldo legal.
Em uma tentativa de trazer justiça após a divulgação e popularidade do caso Floyd, uma onda de protestos antirracistas teve início em mais de 20 estados americanos, relembrando muitas tragédias de repressões policiais intolerantes e subindo hashtags em protestos virtuais.
Na semana seguinte, diversos países ao redor do globo iniciaram seus próprios protestos, por Floyd e por todas as vítimas do racismo mundial. Inclusive o Brasil, onde os protestos tomaram uma proporção ainda maior após o recente assassinato cometido injustamente contra o menino carioca João Pedro Mattos, de 14 anos.
Além de João Pedro, os casos de Eric Garner, morto em 2014 por policiais brancos na cidade de Nova York, e de Katellen Gomes, morta por bala perdida no Rio de Janeiro em 2019, também embasaram os protestos contra a brutal repressão policial em relação a vidas negras.
Contudo, os números de vítimas do racismo institucional estão longe de serem abstratos ou focados em casos específicos. De acordo com um levantamento do jornal americano Washington Post, por exemplo, 1014 pessoas foram mortas a tiros por policiais no país em 2019, e estudos mostram que as principais vítimas eram afro-americanas.
Todavia, os números altos não são exclusividade dos Estados Unidos. No Brasil, por exemplo, 75,4% dos mortos pela polícia brasileira em 2018 eram negros, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Anuário de Violência. Valores que assustam e que são, infelizmente, mais reais a cada dia, evidenciando os efeitos do racismo institucional em milhares de vidas e a importância de uma luta urgente por igualdade e liberdade individual.
De maneira geral, o racismo institucional não é algo recente, mas seu entendimento (e estudo) é de extrema relevância para a conquista de uma efetiva igualdade racial. Os protestos que o envolvem são necessários e impreteríveis, apontando a importância de abraçar uma luta em busca de mais justiça e isonomia. É uma luta de todos por George Floyd, João Pedro, Eric Garner, Katellen Gomes e todas as milhares de vidas pretas que são cruelmente tiradas ao redor do mundo.
Fontes consultadas para essa matéria:
BBC Brasil; BBC US; G1; Folha de São Paulo; El País;Anti-Defamation League US; Le Monde Diplomatique Brasil; Portal Geledés; Brasil Escola; Washington Post e Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
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Por Letícia Lopes – Fala! Cásper