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Fragmentos de um dia paulista

Um conjunto de fragmentos coesos que formam um mosaico com certa intertextualidade de registros muito diferentes: desde uma estante descrita por todos os itens nela contidos a uma conversa telefônica inusitada de uma mulher traída. Em um bate-papo sobre o famoso livro Eles eram muitos cavalos, o escritor Luiz Ruffato abordou as diferentes linguagens presentes na sua narrativa e sobre como se dá o processo criativo.

O autor disse que buscou construir uma sequência lógica e temporal com os capítulos da obra, cujo objetivo era dar mais coesão à história, ainda que a ligação entre as passagens do livro não fosse muito clara.

– Escrever Eles eram muitos cavalos foi uma prática de escrita. Cada parte tem uma unidade específica e independente, mas que forma a narrativa que eu queria expor. Foi desafiador. Você vai vendo as coisas acontecendo e as acompanha. Elas podem virar histórias interessantes.

O título da obra é inspirado no poema Dos cavalos da Inconfidência, de Cecília Meireles. Segundo o autor, o trecho do poema resume a mensagem presente em todo o romance.

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– É uma síntese do livro inteiro. A coisa dos personagens anônimos, todos em busca de algo. É uma boa descrição do que está se passando dentro dele. O que importa é quem são as pessoas por detrás das suas histórias, quais são as pessoas que estão vivendo aquilo.

Ao falar das influências que ele tem para escrever os livros, Ruffato assumiu que o fator econômico é relevante na escolha dos dilemas e dos personagens. Para ele, a classe média baixa não está bem representada na literatura, e ela é a maior parte da população.

– Quando você pega a literatura urbana brasileira, acontece uma coisa estranha, porque ou é representação da classe média alta ou de miseráveis, nunca tocam a questão da pobreza. Então eu me propus a escrever sobre isso.

Rufatto afirmou que a diferença entre jornalismo e literatura está nos objetivos que cada área tem. Enquanto o jornalismo tenta alcançar a universalidade, a Literatura se esforça em busca o intimismo, a individualidade.

Ao comentar sobre Eles eram muitos cavalos, Ruffato disse que, em certo momento da vida, notou não saber como construir a narrativa pretendida por ele para aquele romance. O autor demorou quase vinte anos para escrever a obra, em que tentou retratar, com vivacidade, a imaterialidade e o caos, elementos recorrentes na escrita urbana. 

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– A ideia do Eles eram muitos cavalos é de alguém que caminha pela cidade e, portanto, ele não ouve histórias inteiras. Ele escuta pedaços de histórias, fragmentos. É uma viagem de ônibus onde você vê um cara no telefone, está curioso para saber a história e ele vai embora sem você saber o desfecho. O que importa é que eu traga o leitor para dentro da narrativa e que ele vire coautor da história.

  O professor Sérgio Mota, a coordenadora Tatiana Siciliano e o autor Luiz Ruffato em conversa sobre o livro.
Foto: Larissa Gomes  

O professor Sergio Mota, do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, e a coordenadora de graduação do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, professora Tatiana Siciliano, definiram o livro como um romance em abandono, em que a figura do “zappeur”, que vê recortes rápidos e secos dos momentos da vida nas cidades, contrasta com a do “flâneur”, um observador atento e pronto a notar tudo ao seu redor.

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Por Gustavo Magalhães – Fala! PUC RIO

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