A ditadura é um regime político autoritário caracterizado pela concentração absoluta do poder nas mãos de uma pessoa ou de um grupo que impõe seu projeto de governo à sociedade com o auxílio da força. Os militares utilizam-se de métodos violentos para garantir o controle e desencorajar manifestações contrárias ao governo, pois não há espaço para questionamentos e pluralidade de vozes nesse contexto. Os espaços de comunicação são fortemente regulados ou suprimidos, os poderes do legislativo e judiciário deixam de ser independentes, os partidos políticos são proibidos de funcionarem, a sociedade não é consultada e os opositores são perseguidos, torturados e até mesmo mortos. O sentimento que se instaura é o de medo.
Ditadura: O que leva uma pessoa a apoiar um ditador?
Sobre a pergunta que fica “o que leva uma pessoa a apoiar um ditador?”, a historiadora Alessandra Carvalho destaca que “devemos desnaturalizar a ideia de que somos todos democráticos, que nascemos apoiando uma forma de convivência baseada na resolução de conflitos sociais através de votos e diálogo. Isso é algo construído social e historicamente e nos mostra que, dependendo do contexto e da sociedade na qual vivemos, essa adesão à democracia pode ser maior ou menor – pode ser vista como uma tradição ou como algo novo, como algo ‘eficiente’ ou não”.
No século XX, vários países sofreram ditaduras, que foram instaladas ou por um golpe de Estado contra um governo democrático ou por meio de eleições livres com a dissolução das restrições constitucionais em seguida. Independente da forma como se dá, são nos períodos de fragilidade das instituições que as ditaduras, normalmente, assolam regimes democráticos. “Em momentos de insegurança, aumento da pobreza e do desemprego, uma liderança política que transmite força e promete uma solução para a crise pode se destacar – mesmo que sacrificando direitos como liberdade de expressão, organização, mesmo sob o signo da violência”.
O autoritarismo é visto, por seus apoiadores, como algo necessário para a sociedade e reestabelecedor da ordem. “Nesses casos, a capacidade do líder e seu grupo de criar símbolos e linguagens que transmitem ideias de força, de certeza, de futuro, é crucial”. O ditador pode usar da propaganda, do carisma, mas ele vai ao encontro do que setores da sociedade desejam, sobretudo, daqueles que estiveram em situação de insegurança econômica e que não encontraram respostas em partidos políticos existentes antes do regime ditatorial. Indivíduos de diferentes classes sociais com visões de mundo conservadoras, que se opuseram ao fortalecimento de forças políticas progressistas, e os que já não acreditavam na democracia também se conectaram a líderes autoritários.
A ditadura, para eles, seria, então, a “garantia” de alguma coisa. Nesse sentido, a perda de direitos civis não seria uma grande questão, uma vez que quem apoia um ditador não acredita estar perdendo algo e que “quem perderá a liberdade e a autonomia são seus ‘inimigos’ ou ‘aqueles que ameaçam a sociedade’”. Ainda há quem pense que se estão perdendo algum direito, é certo que estão “ganhando” outros. A historiadora Samantha Quadrat, acrescenta: “Muitos acham que é um sacrifício a ser feito em função de algo maior. Mas quem apoia não questiona isso porque não se sente atingido pela ditadura”. Ainda de acordo com ela, “o apoiador simpatizante não tem medo, porque ele acha que anda na linha”.
A apatia social também se verifica antes do surgimento de um ditador e até contribui para sua ascensão. “Pessoas que são ultra individualistas não se interessam pela vida social e por questões políticas e votam de qualquer jeito, acreditam em propagandas enganosas, sem buscar informações mais concretas sobre os candidatos”, explica o historiador Marco Napolitano. Esse comportamento de “não estar nem aí” fortalece as ditaduras e a subsequente violência, uma vez que existe, nesses contextos, um apelo às questões subjetivas de patriotismo, às possibilidades de retomada de um futuro grandioso, ao sentimento de pertencer a um grupo, e, sobretudo, à criação de um “inimigo”, cuja destruição é vista, por parte das lideranças autoritárias, como solução dos problemas nacionais. Uma resposta menos “simples” “pode atingir menos pessoas e isso é um risco para lideranças democráticas e autoritárias”, afirma Alessandra.
Por fim, a historiadora reflete: “ditaduras são sustentadas por mecanismos de violência que produzem enormes sofrimentos físicos e psicológicos às pessoas; que a manipulação das informações é um mecanismo fundamental para sua sobrevivência e que isso silencia, apaga, impede o acesso a informações e a novas ideias”. Nesse sentido, aprender sobre as ditaduras também é uma postura política e de suma importância para que todos possam refletir sobre o autoritarismo e se posicionar a respeito de suas práticas.
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Por Natália Tavares Leite Vieira – Fala! Cásper