Profissionais que trabalham com Jornalismo Literário e com videorreportagem contam um pouco como é produzir conteúdo diferenciado
No segundo dia da 1ª Semana de Jornalismo da PUC-Rio, Jornalismo Literário e Inovações em videorreportagem foram os temas debatidos na parte da manhã do dia 28 de maio. A primeira palestra do dia foi com o jornalista Roberto Kaz, que atualmente trabalha na Revista Piauí.
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No segundo encontro, os palestrantes foram os vídeorrepórteres Mauro Pimentel, da AFP, e Eduardo Torres, da TV Globo.
Novo Jornalismo
Vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo em 2013 com o trabalho Na mira dos EUA, publicado no jornal O Globo, Roberto Kaz veio à PUC na Semana de Jornalismo da PUC-Rio. Kaz relembrou suas experiências profissionais, comentou como é feita a escolha de pautas e expôs características do Jornalismo Literário.
Ele se definiu como alguém que está na contramão da hard news, ao retratar a dificuldade para trabalhar em momentos de pressão, com falta de tempo para escrever um texto mais elaborado e com a cobrança do ambiente em uma redação de notícias diárias.
– O jornalismo é um pouco de punhalada nas costas, você tem que seduzir a pessoa, mas o seu compromisso é mais com o leitor do que com a pessoa. Não sei fazer hard news, não sei dar furo. Jornalismo Literário é um pouco diferente, porque você convive muito tempo com a pessoa e passa a criar uma afinidade. Gosto de dar tempo a mim e ao meu texto.
O jornalista afirmou que não é possível compatibilizar o jornalismo literário com um público mais amplo, pois, segundo ele, o leitor precisa ter hábito de leitura com textos longos, algo que, comentou, não é comum na sociedade brasileira. Kaz disse ainda que considera essa área elitista e não democrática.
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– O Jornalismo Literário acaba tendo uma função, que é servir como um farol que ilumina e guia os outros, e, assim, cria tendências de escrita e de assunto. Também acredito que esse tipo de escrita traz humanização, deixamos de banalizar os acontecimentos, passamos a ver o fator íntimo e pessoal daquilo.
Roberto Kaz ganhou o Prêmio Jabuti em 2017, na categoria Reportagem e Documentário com O livro dos bichos. Ele comentou gostar de escrever sobre animais, que ele definiu como pequenos heróis. Para Kaz, esses assuntos dão a ele a possibilidade de experimentar narrativas diferentes e ricas.
Jovens inovadores na videorreportagem
Na conversa sobre videorreportagem com dois ex-alunos do Departamento de Comunicação Social, os videorrepórteres Eduardo Torres e Mauro Pimentel comentaram sobre produções pessoais e as características de cada um ao fazer suas reportagens.
Eles definiram a figura do videorrepórter como um autor quase completo, pois grava, apura e edita, além de cuidar do pacote estético, em busca uma outra linguagem, que se diferencia da reportagem convencional.
Formado na PUC-Rio em 2014, Pimentel é fotojornalista e ganhou o Prêmio Petrobrás de Jornalismo pelo trabalho Balas Perdidas, vídeos que relatam as experiências de pessoas que tiveram suas vidas afetadas pela violência do Rio de Janeiro.
Ele disse se esforçar para não ser invasivo nas entrevistas e que tenta conquistar a confiança da pessoa para conseguir melhores falas e declarações. O jornalista afirmou que é preciso avaliar o conceito de imparcialidade, pois, segundo ele, não é consistente, embora seja necessário.
– Só de trocar uma palavra você já está sendo parcial. Mas é preciso não abandonar totalmente essa ideia, já que ela nos ajuda a sermos democráticos também. Mas acredito que ela não existe. Não tem como não se envolver, não se emocionar com as histórias e sair sem ser influenciado por aquilo.
Torres se formou em 2005 e, atualmente, trabalha como editor de texto, repórter cinematográfico e videorrepórter no programa Fantástico, da Rede Globo.
Ele afirmou que, para o cargo, é preciso desempenhar mais funções do que o habitual, com um olhar atento e curioso não só ao que está sendo dito, mas ao que ocorre no entorno. O repórter disse que busca ter empatia e sensibilidade com o entrevistado para emocionar o público e construir intimidade com a narrativa.
– O personagem conta muito melhor o fato do que o repórter. Eu busco tirar o intermediário entre o emissor e o receptor, partindo do pressuposto de que eu apareça menos e seja menos um ruído no entendimento da narrativa. Dessa forma, a gente consegue melhores histórias e mais reais, porque isso personaliza seu toque, seu contato. A pessoa se torna mais íntima.
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Por Gustavo Magalhães – Fala! PUC Rio