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Crônica: A maravilhosa angústia da vida

Não me recordo quando comecei a levantar questionamentos acerca do mundo, como “De onde viemos?”, “Para onde vamos?” e “Quem sou eu?”. E você, lembra quando começou a ser gente? 

Aqui vai um apanhado de reflexões sobre quando os homens nascem de fato: a juventude. Para você, como eu, que está em constante descoberta em virtude da idade, passeie comigo pelos caminhos desaforados do que é ser adolescente. E para você, que já passou desta fase, rememore as situações e sentimentos que viveu se tiver coragem, claro.  

Quando criança, próximo aos dez anos, meu maior desejo era me tornar mais velho para poder jogar bola com os “maiores” e estar mais apresentável para algumas garotas. Bem…fiz doze, quatorze, dezesseis anos e não foi como eu pensei: meu futebol não rendeu e a vida se tornou mais do que “algumas garotas”. Muito provável que tenha ou esteja acontecendo com você também. Ouvir frases como “quando estiver mais velho vai querer voltar!” nunca faziam sentido para mim e até hoje não fazem, mas por quê? Por que sentimos essa coisa que nos consome o peito e desmancha a pouca razão que já temos? 

A resposta é simples: porque a vontade de viver nos chama, e ela queima. Queima e arde o peito, de tamanha forma que não temos explicação. “Revoltado (a) sem causa” quem nunca foi chamado (a)? É bastante confuso, mas ainda é o que somos. E é mergulhando nesse rio de pensamentos que vejo o quanto as coisas se encaixam e como nós, adolescentes, somos de um tudo nesse mundo: fogo, água, ar e terra. Sem apologia ao Avatar, ok?   

Somos fogo 

Entre tantos gritos externos e internos, queimamos. O exagero é um mantra: fervemos de raiva e queremos matar, fervemos de tristeza e queremos morrer, fervermos de paixão e queremos amar. É ou não é poético? Afinal, qual a melhor fase para o carpe diem se não essa?  E como são bons o ardor e a impulsividade, e o coração vê beleza até certo ponto, se não o fogo se esvai e vira água, num piscar de olhos.  

Somos água

É uma luta de extremos. Quando não estamos em brasa, estamos em tempestade. E essa água também é boa, afinal, ela é pura de dor e sai lavando rosto a baixo, aos poucos limpa nossa clareza. Essa água é necessária e, realmente, nos mantém vivo. E aos poucos, ela branda e calma, e está fluindo enfim. É ai que se sente o ar.  

Somos ar 

Depois de um incêndio rumo à loucura e uma tempestade que conseguiu apagá-lo a tempo, vem o silêncio. E no silêncio vemos o ar em nós. É incrível, como aos poucos não se vê mais gotas no céu de concreto, tampouco fogo no travesseiro…todo quarto é um planeta. É ai que os olhos se abrem junto aos pulmões, e luz e ar entram com quase a mesma velocidade – parece impossível? Lembre-se da sua juventude. E assim a vontade de viver e a angústia fazem as pazes por um tempo, até decidir colocar o pé no chão, o pé na terra.         

Somos terra 

Enfim paz, por um tempo. Conectados com o chão, conseguimos ir até o futuro que sonhamos, e rapidamente voltamos. Por quê? Porque puxamos da terra força para construir nossos castelos de sonhos – até que os mais velhos e frustrados consigam levar alguns de nós para o lado negro da força. E é com essa força e vontade que nos entregamos de cabeça aos pés: a projetos sem nexo, a amores sem futuro e a vida!  

Pois bem, mesmo sabendo o quão difícil é essa fase aborrecente, espero não perder essa maravilhosa angústia da vida, sem esse dom da dúvida e do incômodo jamais teria saído do lugar. Mas e você, velho ou novo leitor, onde está sua angústia? Ela ainda vive ou está escondida no seu subconsciente?      

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Por Mateus Anjos – Fala! UFBA

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